Avanços e recuos
Brasileiros prejudicados com o aumento das tarifas dos transportes
públicos vão mesmo ganhar “Revolta dos 20 centavos”. No todo ou boa parte, mas
vão ganhar. Mas, que diferença faz o que esse ganho no contexto geral da luta
dos que defenderam a manutenção dos preços das passagens de ônibus? A mesma diferença que faz a pequena gota d’água que, no seu ínfimo
volume e peso, faz transbordar o grande recipiente.
De que valem neste momento os contratos de reajuste, as planilhas de
custo, os índices que medem a inflação? Vão satisfazer a constrangedora realidade revelada nas
manifestações de rua dos últimos dias? Certamente, não. Não importa quantos dentre as dezenas de milhares de manifestantes são
usuários de ônibus. Não importa que esta seja apenas uma das pautas do movimento que virou convulsão
nacional e notícia no mundo inteiro.
Não faz diferença se o Palácio do Planalto entrou no circuito com governadores
de alguns estados, para alinhar medidas de contenção de custos, numa tentativa de
esfriar os ânimos dos manifestantes. Não adiantou. O que merece atenção agora é o que o Planalto e os Palácios de governos
ouviram. Ficou mais do que provado no momento, o que sempre fora verdade, porém
verdade inaudita: Aqueles que mandam, assim como mandam, precisam ouvir. Têm
que ouvir o povo.
No discurso, a chefe suprema da Nação já disse: “Ouço a voz que vem das
ruas”, como que advertindo-se de que o povo clama por mudanças. Da rua veio o
recado. Dos gabinetes devem vir as respostas.
E as manifestações vão continuar? Sim, as tarifas de ônibus vão ser reduzidas. A “guerra” dos 20 centavos está sendo vencida. Mas, será isso suficiente para dispersar das ruas as multidões?
Certamente, não. Corrupção, improbidade administrativa, imoralidade na gestão
da coisa pública são doenças que devem ser imediatamente tratadas. Saúde, educação, moradia e transportes de qualidade e em abundância são
motivos ainda maiores para que esses recados continuem vindo das ruas, até que
os gabinetes venham dar, na prática, suas respostas.
E assim, a democracia brasileira abre espaço para algo diferente,
certamente inédito nestas proporções. A revolução pacífica, ordeira, oportuna. Atitudes de baderneiros, vândalos e infiltrações de partidos políticos
que visam só interesses individualizados ficam à margem, por óbvias razões.
Esses são o joio, a escória da sociedade.
Por hora, vale reconhecer que a distância entre as ruas e os gabinetes
diminuiu. Ou tende a diminuir. E isso não é pouca coisa.
Do blog: hercos
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