Em livro, Palmério Dória revela identidade de ex-deputado: gravou
colegas que venderam votos para reeleger FHC
Palmério com o Senhor X, no Acre (foto Mylton
Severiano, cedida pela Geração Editorial)
por Luiz Carlos Azenha
Foi o acreano
Narciso Mendes, hoje com 67 anos de idade, quem usou um gravador emprestado
pelo repórter Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, para
comprovar que deputados federais de seu estado venderam os votos na aprovação
da emenda constitucional que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, em 1997.
A revelação é feita
no livro O Príncipe da Privataria, de Palmério Dória, que chega
às livrarias hoje.
Em Brasília não era
segredo o papel desempenhado por Narciso, à época deputado federal pelo
Partido Progressista, de Paulo Maluf. Porém, pela primeira vez ele assume
oficialmente o que fez.
Trecho do livro:
A compra dos votos
para a reeleição, frisa Narciso, “se dava às escâncaras”. Seria “muita
ingenuidade”, diz ele, considerar inverossímil que, no episódio da troca de
cheques pré-datados por dinheiro vivo, os deputados saíssem carregando R$ 200
mil em sacolas. Afinal, em notas de R$ 100,00 seriam duas mil notas, ou o
dobro se fossem notas de R$ 50,00. Duzentos pacotes de mil reais: volume
considerável. “Tinha de ser em sacolas!”, diverte-se ele.
O que Narciso diz é
que cheques foram antecipados e, posteriormente — depois da aprovação da
emenda — trocados por dinheiro.
Dois deputados
renunciaram antes de serem cassados pela Câmara, ao admitirem envolvimento na
tramoia: Ronivon Santiago e João Maia. Outros três, igualmente da bancada
acreana, também foram citados como tendo vendido o voto.
Na época, o PSDB
atribuiu a manobra a interesses paroquiais, de governadores que também seriam
beneficiados pela aprovação da emenda. Porém, o livro coloca a operação no
colo de Sérgio Motta, então ministro das Comunicações e principal articulador
de FHC junto ao Congresso Nacional.
Narciso, hoje
empresário no Acre, é dono do jornal O Rio Branco e de uma
retransmissora do SBT. Ele sustenta que se opôs à emenda que garantiu a
reeleição a FHC por questões ideológicas. Não concordava que pudesse
beneficiar quem a promovia.
Reproduzindo um
trecho de A Arte da Política, livro de FHC, afirma: “Aqui
diz Fernando Henrique Cardoso: Sérgio Motta indignou-se, queria logo uma CPI
na ingenuidade de imaginar que, naquela circunstância, da CPI resultasse
outra coisa diferente do que culpar o governo”.
Comenta:
“Nem Sérgio Motta
queria CPI, nem Fernando Henrique queria CPI, nem Luís Eduardo Magalhães
[líder do governo] queria CPI, ninguém queria, porque sabiam que,
estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo
de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a
compra de votos”.
Mas, quantos votos
foram comprados para que FHC pudesse se reeleger?
Nos cálculos do
senador Pedro Simon, citado no livro, 150. A 200 mil reais por cabeça, por
baixo, R$ 300 milhões!
Narciso acha que
foram mais. Nega que, como foi acusado por escrito por FHC, tenha tentado
tumultuar a tramitação da emenda.
“Como é que um
desgramado, do baixo clero, do Acre, tinha poderes para tumultuar a emenda da
reeleição?”, afirma Narciso.
Também rebate a
ideia de que o governador do Acre à época, Orleir Cameli, assim como outros
dirigentes de estados do Norte, tivessem tomado a iniciativa de promover a
emenda, como sugere FHC em seu livro.
Uma mentira,
diz Narciso, pois no Acre, por exemplo, Orleir Cameli não se candidatou à
reeleição. Ademais, acrescenta, não foi “o pessoal do Norte” quem inventou a
reeleição, muito menos a compra de votos. “Foi uma criação do senhor
Sérgio Motta e do senhor Fernando Henrique Cardoso”, reitera.
*****
O livro O
Príncipe da Privataria é, na verdade, um balanço do entorno do homem
que “vendeu o Brasil”. Uma denúncia menos na linha de Amaury Ribeiro Jr. e
mais na de Aloysio Biondi e seu O Brasil Privatizado.
Um escândalo sobre
o qual o Brasil pouco refletiu, já que a mídia corporativa se refere àquele
como um período de ouro do país. É importante frisar que os principais grupos
de mídia tiraram proveito direto dos negócios envolvidos na privatização.
Na Nota do
Editor que abre o livro, Luiz Fernando Emediato pergunta: “onde
estava, no reinado dos tucanos, o ministério público, o procurador geral da
República, os Joaquim Barbosa daquele tempo? O chamado “mensalão” — tenha
existido ou não — parece coisa de amadores diante do profissionalismo de
empresários, burocratas e políticos daquele tempo. Nenhuma CPI. Nenhuma
investigação que chegasse ao fim. Nenhuma denúncia capaz de levar a um
processo e a uma condenação!”
Palmério Dória
avança a tese de que Glauber Rocha, na década de 70, foi visionário ao dizer:
No Brasil, o gancho
do Pentágono é o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que
funciona em São Paulo.
Fernando Henrique
Cardoso é apenas um neocapitalista, um kennedyano, um entreguista.
Como a Central de
Inteligência dos Estados Unidos deu dinheiro à Fundação Ford e esta ao Cebrap
— na casa, especula Palmério, do milhão de dólares –, “o Cebrap recebeu
dinheiro da CIA”.
Teria sido este o
início da “inspiração” que levou FHC a adotar a agenda do consenso de
Washington, que resultou na queima de R$ 100 bilhões em patrimônio público
dos brasileiros.
publicado
em 30 de agosto de 2013 às 7:46 www.viomundo.com.br
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013
POLÍTICA NACIONAL - POLÊMICA
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