Babilônia é um marco no declínio da Globo
Por Paulo Nogueira (*)
Num de seus mais admirados
discursos da guerra contra o nazismo, Churchill disse: “Não é o fim. Não é nem
o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.”
Depois de apanhar duramente dos
alemães de Hitler, a Inglaterra enfim reagira sob Churchill.
Como Churchill magistralmente
colocou, o nazismo não fora ainda liquidado. Mas alguma coisa mudara na
guerra, e definitivamente, contra a Alemanha.
A sentença churchilliana pode-se
aplicar, agora, à Globo, com o monumental fracasso de Babilônia.
Não é o fim da Globo, e nem o
começo do fim. Mas é, provavelmente, o fim do começo do processo de dissolução
da casa dos Marinhos.
Babilônia, com sua miserável
média de 25 pontos, a pior da história das novelas do horário nobre, é um
marco. É um registro da obsolescência da televisão como mídia, devastada pela
internet. Muitos teimam em atribuir o desprezo do público à má qualidade da
novela, mas é um erro. É como imaginar que uma carruagem, quando os automóveis
começaram a dominar as ruas, vendeu pouco porque seu design era feio. O
problema é o produto. Houve um tempo para novelas no Brasil, mas este tempo
passou.
O interesse do público migrou
para as enormes possibilidades oferecidas pela internet. A falácia da
explicação do Ibope tísico pela má qualidade se desfaz quando você observa os
índices de audiência igualmente cadentes do Jornal Nacional, para ficar num
caso. Se fosse um problema meramente de qualidade, o comando do JN teria sido
inteiramente trocado já faz tempo, mas a dupla Kamel-Bonner está firme.
Quanto tempo até o colapso? É
difícil precisar. Imaginava-se, no caso das revistas, que elas durariam mais
tempo, como indústria respeitável financeiramente, do que efetivamente
aconteceu. Quatro anos atrás, quem haveria de imaginar que a Abril estaria hoje
se desfazendo, como um doente que sofre ao mesmo tempo de câncer e de
Alzheimer? O público já tinha abandonado a Abril e suas revistas quando, com
algum atraso, os anunciantes fizeram o mesmo. Aí acabou.
Provavelmente é o que acontecerá,
em breve, com a Globo. A audiência se foi, e em algum momento os anunciantes
não terão escolha senão partir também. Babilônia é um símbolo de que a Era da
Tevê terminou. Não é o fim da Globo, para repetir Churchill. Nem o começo do
fim. Mas tem tudo para ser o fim do começo do desmoronamento.
Postado em 29/08/ 2015.
(*) - O jornalista Paulo Nogueira é fundador
e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário