GANGUESTOCRACIA
Por Inocêncio Nóbrega (*)
“Se aderir,
dar-lhe-ei o trono; se não, a República lhe entregará os passaportes” - do
discurso do jornalista Gonçalves Ledo, em dezembro de 1921, perante o Príncipe
Regente, ministros e generais. Sobre
República, também escreveu, em 1977, o advogado gaúcho, Justino Vasconcelos:
“Nada mais valem os princípios, vale o chefe em comando no seu momento, que por
certo não ficará sagrado na História”. República, era esperança do povo brasileiro,
manifestada nas palavras de nossos patriotas. Pernambuco, reivindica para si o
pioneirismo dessa linguagem, que aflorava pelo nordeste afora, a partir de 1817,
quando revolucionários republicanos se rebelaram contra o estrelismo político
de Caetano Pinto. Para sufocá-la, criou-se um serviço de espionagem e quebra de
sigilo das conversações, no estilo do juiz Sérgio Moro, punindo-se seus
líderes. Cruz Cabugá é preso. No Pará, Patroni
e Batista Campos posicionavam-se pela República. Bahia, Minas, S. Paulo, Rio de
Janeiro, Goiás, tiveram suas repúblicas. Alagoas,a República dos Palmares.
Não havendo
como fugir aos anseios da sociedade o Mar. Deodoro comanda o golpe, entregando
o passaporte ao monarca deposto, Pedro II. Entretanto, continuam se
proliferando as repúblicas,novo sistema de governo não combina com as
pretensões nacionais: República de S.
Cristóvão, das Espadas, Farroupilha, durante a República Velha, caracterizada
pelo setor agrário mineiro e paulista. A Revolução de 1930 pôs um fim ao
café-com-leite, porém cedendo à redemocratização de 1945, que perdurou até
1964. A ditadura se impôs, mas a democracia ressurge, em 1985. Logo, nossos cronistas fazem da República uma
piada, referindo-se ao termo com expressões jocosas e depreciativas, aliando-se
às desilusões da população brasileira. Desacreditada, ela toma conta do
imaginário:República das Rãs, da Rapadura, dos Moedeiros, das Coincidências,
dos Bandidos, das Bananas,Republiqueta e, até, dos Bundões, aludindo à
expressão de Brizola, que chamara Moreira Franco, seu sucessor na governança do
Rio de Janeiro, de “bundinha”. Talvez por algum trejeito com que este convivia.
Há quem proponha mudanças estruturais, ou sua própria refundação.
Pouco mudou
o comportamento de nossas instituições. O poder Legislativo, mais afeto a escândalos
e corruções, afasta-se, cada vez mais, de suas atribuições constitucionais e
morais. Digladiam-se seus membros, sejam por escândalos,tentativas e consumação
de assassinatos, seguida de impunidade, numa simbiose conspiratória.O
Judiciário se deixa contaminar por atitudes partidarizadas e má isenção de seus
atos. Na formação desse dueto, sem dúvida, há pessoas honradas. Enfim, é esse
tipo de República Federativa continuada, sustentada por camisas de força,
representantes sem participação popular, é que se espera, se o golpe se
confirmar. O Brasil é um laboratório de experiências. Vamos ver o que acontece
à Nação vindo de ser chefiada por uma quadrilha de “gangster”, conforme frisou
o The York Times. A Nova República, cunhada por José Sarney, amarelou. Vão
cintilaras horrendas estrelas de Temer, Cunha, Gilmar Mendes e Bolsonaro, historicamente
apanhadas da constelação do Caetano Pinto, responsável pela morte de 15 heróis
e prisões de centenas de brasileiros, a exemplo de Peregrino de Carvalho,
submetido à forca, no dia 21.08.1821, no Recife, ao lado de dois outros
mártires.Moderno modelo de governar, que pode dar certo,
depositando dinheiro sujo em contas secretas em paraísos fiscais do mundo, à
frente uma “offshore” para administrá-las. Nada de ilegalidade, no conceito dos
deputados e senadores golpistas.
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor - ( inocnf@gmail.com ).
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