sexta-feira, 29 de abril de 2016

Opinião - Artigo

GANGUESTOCRACIA
                                         
 Por Inocêncio Nóbrega (*)
            “Se aderir, dar-lhe-ei o trono; se não, a República lhe entregará os passaportes” - do discurso do jornalista Gonçalves Ledo, em dezembro de 1921, perante o Príncipe Regente, ministros e generais.  Sobre República, também escreveu, em 1977, o advogado gaúcho, Justino Vasconcelos: “Nada mais valem os princípios, vale o chefe em comando no seu momento, que por certo não ficará sagrado na História”.  República, era esperança do povo brasileiro, manifestada nas palavras de nossos patriotas. Pernambuco, reivindica para si o pioneirismo dessa linguagem, que aflorava pelo nordeste afora, a partir de 1817, quando revolucionários republicanos se rebelaram contra o estrelismo político de Caetano Pinto. Para sufocá-la, criou-se um serviço de espionagem e quebra de sigilo das conversações, no estilo do juiz Sérgio Moro, punindo-se seus líderes. Cruz Cabugá é preso.  No Pará, Patroni e Batista Campos posicionavam-se pela República. Bahia, Minas, S. Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, tiveram suas repúblicas. Alagoas,a República dos Palmares.
            Não havendo como fugir aos anseios da sociedade o Mar. Deodoro comanda o golpe, entregando o passaporte ao monarca deposto, Pedro II. Entretanto, continuam se proliferando as repúblicas,novo sistema de governo não combina com as pretensões nacionais:  República de S. Cristóvão, das Espadas, Farroupilha, durante a República Velha, caracterizada pelo setor agrário mineiro e paulista. A Revolução de 1930 pôs um fim ao café-com-leite, porém cedendo à redemocratização de 1945, que perdurou até 1964. A ditadura se impôs, mas a democracia ressurge, em 1985.  Logo, nossos cronistas fazem da República uma piada, referindo-se ao termo com expressões jocosas e depreciativas, aliando-se às desilusões da população brasileira. Desacreditada, ela toma conta do imaginário:República das Rãs, da Rapadura, dos Moedeiros, das Coincidências, dos Bandidos, das Bananas,Republiqueta e, até, dos Bundões, aludindo à expressão de Brizola, que chamara Moreira Franco, seu sucessor na governança do Rio de Janeiro, de “bundinha”. Talvez por algum trejeito com que este convivia. Há quem proponha mudanças estruturais, ou sua própria refundação.
            Pouco mudou o comportamento de nossas instituições. O poder Legislativo, mais afeto a escândalos e corruções, afasta-se, cada vez mais, de suas atribuições constitucionais e morais. Digladiam-se seus membros, sejam por escândalos,tentativas e consumação de assassinatos, seguida de impunidade, numa simbiose conspiratória.O Judiciário se deixa contaminar por atitudes partidarizadas e má isenção de seus atos. Na formação desse dueto, sem dúvida, há pessoas honradas. Enfim, é esse tipo de República Federativa continuada, sustentada por camisas de força, representantes sem participação popular, é que se espera, se o golpe se confirmar. O Brasil é um laboratório de experiências. Vamos ver o que acontece à Nação vindo de ser chefiada por uma quadrilha de “gangster”, conforme frisou o The York Times. A Nova República, cunhada por José Sarney, amarelou. Vão cintilaras horrendas estrelas de Temer, Cunha, Gilmar Mendes e Bolsonaro, historicamente apanhadas da constelação do Caetano Pinto, responsável pela morte de 15 heróis e prisões de centenas de brasileiros, a exemplo de Peregrino de Carvalho, submetido à forca, no dia 21.08.1821, no Recife, ao lado de dois outros mártires.Moderno modelo de governar, que pode dar certo, depositando dinheiro sujo em contas secretas em paraísos fiscais do mundo, à frente uma “offshore” para administrá-las. Nada de ilegalidade, no conceito dos deputados e senadores golpistas.
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor - inocnf@gmail.com ).

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