Sem ser questionado
sobre seus R$ 23 milhões na Suíça, Serra toca a vida
Se o Brasil vivesse dias normais,
o presidente Michel Temer já teria demitido seu chanceler José Serra, desde o
dia em que ele foi apontado como beneficiário de um depósito de R$ 23 milhões,
feito pela Odebrecht, numa conta secreta na Suíça.
Como Temer também está na delação
da Odebrecht, por ter pedido R$ 10 milhões à Odebrecht, que foram parcialmente
entregues, em dinheiro, a Eliseu Padilha, seu braço direito, ele se calou.
Fossem estes dias normais, a
Justiça já teria quebrado o sigilo da conta suíça de Serra, que, certamente,
não deve ter sido usada apenas para receber recursos da Odebrecht. Além disso,
em circunstâncias normais, repita-se, a mídia inteira estaria debruçada sobre
um dos maiores escândalos de todos os tempos no Brasil: um pagamento de R$ 23
milhões ao ministro das Relações Exteriores, numa conta na Suíça.
No entanto, como nada mais segue
padrões de normalidade no Brasil, Serra se sentiu à vontade para cumprir sua
agenda oficial nesta segunda-feira, em que participou de um encontro com Antônio
Guterres, futuro secretário-geral das Nações Unidas. Sem ser fustigado pela
mídia e pela Justiça, ele toca o barco normalmente.
Os internautas, no entanto, não
perdoaram e pediram a Serra que ensinasse Guterres a esconder dinheiro na
Suíça.
Abaixo, reportagem da Reuters
sobre o encontro:
BRASÍLIA (Reuters) - Em sua
primeira visita ao Brasil depois de ter sido eleito secretário-geral da
Organização das Nações Unidas, Antônio Guterres, disse ao presidente Michel
Temer que o Brasil "é um país democrático" e tem "uma política
externa independente", informou nesta segunda-feira a Secretaria de
Comunicação da Presidência, após encontro entre os dois.
De acordo com a nota distribuída
pela Secom a jornalistas, Guterres disse a Temer que o Brasil pode demonstrar
ao mundo "a importância do diálogo para a solução dos problemas
globais".
Temer convidou Guterres, que é
português e ex-diretor geral da Agência das Nações Unidas para Refugiados
(Acnur), para vir ao Brasil participar da Cúpula dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) quando o cumprimentou pela escolha para o cargo na ONU.
Temer teve uma série de encontros
bilaterais, na manhã desta segunda-feira, com presidentes que participam da
CPLP.
Com o presidente português,
Marcelo Rebelo de Sousa, discutiu as reformas que o Brasil está implantando. De
acordo com a Secom, Sousa explicou a Temer a reforma da Previdência feita em
Portugal há cinco anos, quando o país atravessou uma séria crise financeira.
Acordo com Cabo Verde
Temer também assinou um acordo de
serviços aéreos com o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que
permite a ambos os países atuarem no território do outro.
De acordo com o texto, cada país
terá direito a sobrevoar o território do outro sem pousar, fazer escalas para
fins não comerciais, além de fazer escalas em pontos de rotas previamente
acordadas para desembarcar passageiros, bagagem, carga ou mapa postal. Cada
país irá designar as empresas que farão essas rotas.
O presidente teve ainda encontros
com o presidente do Timor Leste, Taur Matan Ruak, e o vice-presidente de
Angola, Manuel Domingos Vicente. Esta tarde, antes de fazer a abertura da CPLP,
Temer teria ainda uma quinta reunião bilateral, com o presidente da Guiné Equatorial,
Teodoro Obiang Mbasogo.
Reportagem de Lisandra
Paraguassu, publicado em Brasil 247, em 31/10/2016