Entre Badaró e Edu
Inocêncio Nóbrega (*)
Por causa do seu comportamento
inquietante o jovem médico, Líbero Badaró, é impelido pelos seus pais largar a
vila de Laigueglia, limítrofe com Gênova,
preferindo o Brasil. Deixam Itália, ao
tempo impregnado de ideias liberais. Em
S. Paulo, de 1826, fixam residência, cidade, como restante do país, carregada
de divergências e discussões políticas. Aliás, um ambiente rapidamente
assimilado pelo novel imigrante, que a ele se integra.
D. Pedro
desperdiça carinhosas manifestações do povo brasileiro, assim caindo, vertiginosamente,
sua popularidade. Imerso a duas facções
ideológicas, a nacional e a portuguesa, opta por esta, numa visível guinada ao
absolutismo. Dispara contra a Câmara dos Deputados, Magistratura e Povo. Porém,
o monarca dispunha de suficientes meios de revidar impiedosos ataques da
imprensa. A dissolução da Constituinte
de 1823 foi o estopim. “O Observador Constitucional”, voz altiva dos
brasileiros, não se cansava de fazer denúncias de descaminhos do Império,
pagando por esse posicionamento, com a morte, seu proprietário e editor, Líbero
Badaró.
A história
de intolerância para com a liberdade de imprensa, repete-se, seguidas vezes, não só sob regimes de exceção mas,
também, nos períodos de convivência
democrática. Fernando Jorge, no seu livro “Cale a boca, jornalista!”, traz uma
série dessas situações. Quero destacar uma delas, o processo movido pela
ditadura, contra o jorn. Claudio Campos, do “Hora do Povo”, por haver divulgado
listão de conhecidos figurões da política, de autoridades, generais e do mundo
empresarial do Brasil, cerca de 150 nomes, solidários depositantes em contas
suíças, algo em torno de CR$ 700 bilhões, em moeda de 1980.
Acusados de idêntica infração, segundo a LSN, jornalistas dos diários
“Gazeta do Vale”, de Itajaí, e “Afinal”, Florianópolis, por republicar a
notícia, onde trazia, na condição de figurante, Jorge Bornhausen, governador de
Santa Catarina, na época.
O espírito
de intolerância e revanchismo, apesar dessas lições, pouco mudou. Mês passado o
conhecido editor do “Blog de Cidadania”, Eduardo Guimarães, foi retirado,
coercitivamente, de seu apartamento, na capital paulista, pela Polícia Federal,
a qual justificou a ação como em cumprimento a mandato de busca e apreensão,
determinado pelo juiz Sérgio Moro. Insensatas medidas da Lava Jato mereceram
ferrenhas críticas do blogueiro, vítima, como foram e são muitos combatentes do
bom jornalismo. Procedimentos judiciosos que desoneram a democracia e corroem direitos
do cidadão. Remontam do Primeiro Reinado, sem legitimidade do povo, nos fazendo
relembrar momentos vividos pelo mártir Badaró.
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