Sem voto e rejeitado por 92%, Temer pode ter a
maior greve da história
Nenhum
país viveu, em sua história, um capítulo tão vergonhoso quanto o Brasil dos
dias atuais: um golpe de políticos corruptos, contra uma presidente honesta,
que, em seguida, se dedicaram a aprovar uma agenda de reformas rejeitada por
92% da população.
É
exatamente este o retrato do Brasil de hoje. O golpe parlamentar de 2016 foi
liderado por políticos como Aécio Neves (PSDB-MG) e Romero Jucá (PMDB-RR), que
lideram os pedidos de inquérito na Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, além,
é claro, de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já condenado a 15 anos de prisão por
corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
O
beneficiário desse processo, Michel Temer, é acusado por dois delatores da
Odebrecht de ter presidido uma reunião em que se definiu uma propina de US$ 40
milhões, o equivalente a R$ 126 milhões, antes mesmo da posse da presidente
Dilma Rousseff em seu primeiro mandato.
Não
é de estranho, portanto, que Temer, com 87% de rejeição, seja hoje o político
mais reprovado do País. Segundo pesquisa Ipsos, divulgada nesta semana, 92% dos
brasileiros avaliam que, com ele, o Brasil segue no rumo errado. Suas reformas,
como a trabalhista e a previdenciária, vêm sendo votadas a toque de caixa, sem
debate com a sociedade – o que é natural para um governo que não precisou do
voto para chegar ao poder.
No
entanto, nesta sexta-feira 28, a história pode começar com aquela que promete
ser a maior greve geral da história do País. Um movimento que uniu movimentos
sociais e teve a adesão de quase 100 bispos da igreja católica, além das
igrejas evangélicas. Em um ano de golpe, Temer conseguiu unir o Brasil contra
ele.
Abaixo,
reportagem da Rede Brasil Atual sobre a greve:
Unidade
de movimentos popular e sindical pode levar à maior greve da história, diz CMP
“A
novidade é que os movimentos populares estão fortemente engajados na construção
dessa greve”, afirma Raimundo Bonfim, da Frente Brasil Popular e da Central de
Movimentos Populares
Dirigentes
e ativistas da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular
acreditam que a greve geral desta sexta-feira (28) será possivelmente a maior
greve da história do Brasil. Para Raimundo Bonfim, coordenador da CMP, o que dá
uma dimensão inédita a essa greve é a coesão e unidade de
amplos setores sociais e populares.
“Além
do engajamento do movimento sindical, que tem a tarefa de parar a produção e
circulação das riquezas e pessoas, é uma greve que vai ter muitas ações
desenvolvidas por movimentos sociais e populares. Existe uma forte unidade dos
movimentos popular e sindical, das centrais sindicais, das frentes Brasil
Popular e Povo sem Medo. Isso nos dá segurança para afirmar que será a maior
greve da história do Brasil”, diz.
Bonfim
avalia como fato novo da greve deste dia 28 a organização, o apoio e as ações
relacionadas ao movimento extrapolarem os sindicatos. “Tem muita gente que acha
que a greve é uma tarefa só do movimento sindical, e a novidade dessa greve é
que os movimentos populares e sociais estão fortemente engajados na sua
construção.”
Ele
atribui a perspectiva de greve histórica porque ela é desencadeada por ataques a direitos que
envolvem toda a sociedade, resumidos e simbolizados pelas reformas
trabalhista, da Previdência e a terceirização. Aliado a isso, há o enorme
descontentamento com o governo Michel Temer (que tem menos de 5% de aprovação)
e o Congresso Nacional, com sua atuação “antipovo e contra o trabalhador”.
De
acordo com o ativista da CMP, vários tipos de ações serão promovidas pelos
movimentos em apoio à greve. “Essas ações vão desde acampamentos e ocupações,
até travamentos de vias e rodovias, com os manifestantes munidos de cartazes e
faixas contra as reformas.” Elas começam à zero hora e vão até o final da manhã
de sexta-feira. Serão desencadeadas cerca de 22 ações nos bairros,
principalmente na capital, apenas de grupos ligados à central.
Sentimento
da população
Raimundo
Bonfim diz que a receptividade da população tem sido positiva, depois de uma
semana de intensa distribuição de panfletos e material nos bairros e locais
estratégicos, como o metrô. “A greve está sendo discutida mesmo pelas pessoas
que têm alguma contrariedade. Existe de fato um sentimento da população de que
haverá essa greve geral no Brasil.”
Em
São Paulo, as manifestações terão oposição considerável dos poderes
constituídos. “Aqui na capital você tem três governos aliados comprometidos com
as reformas e retirada de direitos dos trabalhadores, que são (o presidente)
Michel Temer, (o governador) Geraldo Alckmin e (o prefeito) João Doria.
Mas estamos bastante organizados e otimistas e teremos o apoio da população
para nossas ações”, avisa. “Vamos manifestar de forma tranquila e pacífica, de
acordo com o direito de manifestação garantido pela Constituição.”
Alckmin
afirmou que Metrô e CPTM terão funcionários para operar os trens. Além disso, o
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou, liminarmente, multa de R$
937 mil para cada sindicato do sistema de transporte que participar da greve
geral.
“Não
é a primeira vez. No dia 15 de março também instituíram multa. Acho que a
categoria vai manter a greve e essa multa vai ser derrubada”, diz Raimundo
Bonfim. “As pessoas se manifestarem é
um direito, assim como o direito de greve.”
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