Lula é símbolo nacional a ser
defendido
Por Allysson Rister Torres Martins Costa (*)
Um dia eu postei em uma
rede social: “Lula ladrão, roubou meu coração”. No outro dia um jovem colega me
indagou: “Por que você ama o Lula?”
- Por tudo que ele fez e
por quem ele fez, e especialmente pelo que ele ainda pode fazer. Lula foi o
melhor presidente do Brasil e agora é perseguido pelo risco que ele representa
para as pretensões de um movimento reacionário internacional.
- Ele pode ter sido um
bom presidente, mas há anos que só vejo coisas ruins sobre ele. Ah, você sabe o
que sai dele todos os dias na televisão, nas revistas e na internet.
- Sei.
Depois de me obrigar a
conversar longamente com meu colega sobre Lula, eu quero aqui discorrer sobre o
ponto x da questão: a maioria dos nossos jovens adolescentes, assim como
milhões de pessoas que não conhecem a nossa história política e econômica,
pouco saberão do que se trata e como se trava a luta de classes e a manutenção
do status quo da elite dominante mundial. A população
desconhece sua história e poucos subsídios tem para formar opinião própria, portanto
é mera repetidora da informação que lhe colocam na cabeça, através da nossa
velha e conhecida mídia. Como bem disse Noam Chomsky, “a população em geral não
sabe o que está acontecendo, e nem mesmo sabe que não sabe.”
O autor Fernando Pessoa,
no seu poema Ulisses, epigrafa “O mito é o nada que é tudo”. E essa é a
reflexão que temos que fazer sobre figura de Lula e a perseguição por que ele
passa atualmente. Lula é o pobre imigrante nordestino filho de analfabetos,
cheio de dramas e tragédias na família, que virou sindicalista, deputado,
fundador do PT e candidato a presidência da república. Era a voz dissonante,
que acreditava na democracia e na participação popular e, principalmente,
acreditava que era possível e necessário acabar com a desigualdade, com a fome
e a miséria deste país. Perdeu a eleição três vezes, mas não perdeu a
esperança. Diante de um país com altíssima dívida externa, desemprego e
recessão, contagiou o país com seu sonho de que era possível fazer diferente. O
projeto antes distante, abstrato, revelou-se uma alternativa real que moveu o
povo. Eleito e reeleito presidente, sendo reconhecido como o melhor da história
recente deste país. Deu uma perspectiva de futuro glorioso, menos para as
velhas elites oligárquicas e eternos donos de tudo, mais para quem foi como
Lula no passado: nada.
Lula priorizou o combate
à miséria, maiores investimentos em educação e infraestrutura, inseriu o Brasil
em outro patamar na geoeconomia mundial. Tirou mais de três dezenas de milhões
da miséria, elevou mais 40 milhões à classe C. Criou onze novas universidades
federais. Democratizou o acesso ao ensino superior público através do Enem, do
Prouni, das cotas... que mudaram definitivamente a cara do nosso ensino público
e as perspectivas de futuro da juventude pobre, negra, da periferia e do
interior. Começou um processo revolucionário de habitação popular nunca antes
visto no país. No seu segundo mandado tinha 87% de aprovação popular. Então o
nada tornou-se tudo. Fez-se o mito!
Isto é intolerável em uma
sociedade que, desde sua origem – da oligarquia rural aos
rentistas do capitalismo moderno – se organizou segundo a disjuntiva
casa-grande e senzala, onde os personagens aceitam como natural ter papéis
definidos e próprios que não se podem confundir: de um lado os mandantes e
donos dos direitos, de outro, os mandados portadores de deveres e obrigações.
De um lado o capital, de outro seu servidor. A díade quase imutável da nossa
história.
Junte-se a isso o
crescente movimento reacionário mundial que é fruto de uma articulação
internacional que visa muitos anos de poder à margem de democracias
representativas e da soberania popular. E o Brasil é peça chave nesse
tabuleiro. A volta de Lula é um risco para esse movimento. Aqui, eles não
querem destruir um homem, querem destruir um símbolo, com toda sua profunda
carga emocional. A direita usou seus tentáculos na política, na mídia, nas
polícias e na justiça para um processo articulado de desmonte e desqualificação
generalizada da esquerda e de seus líderes. Isso é tático. “Quando a farinha é
pouca, meu pirão primeiro”. A esquerda defende o bem comum e a inclusão social,
enquanto a direita busca defender seus próprios bens e a "liberdade"
para acumular mais.
Mas a gente sabe que a
vida política não se resume a processos eleitorais e mesmo que esses sejam
importantes não existem derrotas definitivas nesse âmbito, basta ouvir a
história. Lula e o partido que fundou, o PT (independentemente um e outro de
seus muitos erros) são fruto da acumulação das lutas sociais, são o resultado
das tantas batalhas em defesa da democracia, dos conflitos sociais e de classe,
são a condensação de mais de um século de conquistas sindicais.
O ‘risco Lula’ não se
restringe ao seu notório potencial eleitoral a ameaçar o assalto neoliberal em
curso, até porque outras alternativas haverão de ser construídas. O perigo, a
ameaça, reside principalmente – e nisso está sua maior gravidade – no que
o líder popular representa e simboliza para as grandes massas como
exemplo de afirmação histórica da classe trabalhadora. Enfim, os reacionários pretendem ensinar à classe
trabalhadora que seu papel é subalterno ao do capital. Trocando em miúdos, os
trabalhadores precisam conhecer o seu lugar. Este é o recado que nos
mandam.
Assim, é necessário
desconstruir o mito, banalizá-lo, reduzi-lo, expor suas fraquezas, escancarar e
agravar suas feridas, desrespeitar até suas dores mais profundas. É urgente
criminalizar o mito. Querem que você odeie o Lula de qualquer jeito. Acabar com
toda sua força propulsora, eliminar sua potência. É preciso destruir o mito
para matar a nossa capacidade de sonhar. Quando sonhamos, conseguimos nos
libertar das amarras e buscar outros caminhos e possibilidades.
Em tempos de crise é
letal a entrega, a desistência. Não podemos nos deixar contaminar pela
desesperança, pela apatia, pelo medo. A luta continua! Não só pela
integridade física e moral de Lula, menos ainda para livrá-lo (e seu partido)
do julgamento da história a que todas as lideranças políticas devem, ao fim e
ao cabo, estar submetidas, mas por nós mesmos. Porque uma sociedade sem a
utopia de sua emancipação está liquidada.
(*) - Allysson Rister T. M. Costa é administrador de empresas, economiário e escritor. Texto extraído do livro A Luta Continua. 25.05,2017
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