sexta-feira, 26 de maio de 2017

Opinião - Artigo

DEMOCRACIA SITIADA 
Inocêncio Nóbrega (*)
            A decadência da ditadura militar iniciou-se em 1968, com o crescimento das forças oposicionistas, nos seus vários segmentos, e das ruas ocupadas pelos estudantes, seguidas da ocupação do restaurante Calabouço, no centro do Rio de Janeiro. Para desobstruí-lo um capitão da PM matou o estudante Edson Luiz de Lima Souto, que se tornou símbolo dos subsequentes protestos populares. O principal deles a Passeata dos Cem Mil, configurando-se num desafio para o governo dos generais.
            Foi o ano, também, da decisiva participação parlamentar, puxada pelo deputado Márcio Moreira Alves, que pronunciou veemente discurso contra o cerceamento às liberdades e o aviltamento da soberania nacional.  Nele, chegou pregar boicote ao desfile de Sete de Setembro, considerando que ali se forjava um falso patriotismo.  Sua fala provocou fúria do Planalto, o qual pediu sua cassação, afinal rejeitada pela Câmara Federal. Oficializava-se o confronto. O regime precisava rejuvenescer-se, com ações discricionárias, assumidas pelo AI-5, editado em dezembro. O Congresso Nacional é fechado, ocasionando os sombrios anos de chumbo.
            Nessa cronologia macabra o episódio do Riocentro, de 1981, planejado por radicais da direita, materializado por dois militares os quais conduziam duas bombas, uma delas detonada antes da hora no Pavilhão daquele edifício, onde se celebrava o “Dia do Trabalhador”. A sorte não lhes foi favorável e a farsa descoberta, após averiguar-se de que sua intenção de, atribuir o episódio a grupos de esquerda, poderia recrudescer a repressão do governo.  Não vingou e o tiro saiu pela culatra.  
Combalida, a democracia ainda tem fôlego e só ressuscitada à custa da reação do Povo, que não se intimidou e foi novamente às praças públicas, gritar por Diretas, Já! Lema que se renova agora, em meio a protestos contra medidas que revogam direitos dos trabalhadores, especialmente. Os acontecimentos de Brasília provocaram em Temer e seus aliados a mesma ira da linha dura do passado ao infiltrarem, nas manifestações pacíficas, elementos alheios à causa, destinados a desestabilizarem seus objetivos. A estratégia, repetida, mais uma vez não funcionou. Michel Temer e aliados preparam ambientes de intolerância, a fim de açodarem medidas contrárias aos interesses da Nação, iludindo sua população. Insistem bater nessa tecla, porém o povo resistirá. O restabelecimento, pleno, da democracia, só virá pelo exemplo de dois saudosos personagens: de Leonel Brizola, pela sua coragem cívica, e do marechal Teixeira Lott, vinda de sua integridade patriótica e moral, demonstradas em semelhantes ocasiões de crises institucionais. 
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor (inocnf@gmail.com) Em 26/05/2017

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