A COR DA MALA
Inocêncio
Nóbrega (*)
Delatar não é expediente comum na
história brasileira, mas foi recurso usado pelo Visconde de Barbacena no
episódio da Conjuração Mineira, beneficiando o principal delator, Joaquim
Silvério dos Reis, com dispensa de pagamento de impostos, que este devia ao
Erário, concessão do hábito da Ordem de Cristo, o título de fidalgo da Casa
Real e pensão anual de 400 mil réis. Como ele, havia dois outros delatores:
Basílio de Brito e Inácio Correia Pamplona. Ainda agora padecemos suas
sequelas. Será que os viscondes curitibanos desconhecem essa passagem, que a
lemos desde o ensino fundamental?
A pressa em
punir alguém, apenas por mera convicção, configura-se que não entenderam a lição,
ministrada pelo mártir Tiradentes, a quem anualmente rendemos homenagens. Se
dela não se lembram, puxem seus livros escolares que fatalmente a encontrarão.
Querem jurisprudência melhor do que essa?
Gostaríamos
de ver o FHC garroteado pela Justiça. Ele deve, ao menos, dar explicações à
negociação de votos de parlamentares, no projeto de reeleições presidenciais.
Consta-se que Temer, então pres. da Câmara dos Deputados, e o Sr. Eliseu
Padilha (Quadrilha) estavam lá, vendendo tal produto, que eles hoje compram.
Literalmente, valeu o negociado sobre o legislado, no caso a lisura de um
agente público que pregam e não cumprem.
O afastado
deputado Rodrigo Rocha Loures, está detido pela condução de uma mala preta, contendo
avultada soma em dinheiro. Não há o que discutir da medida, todavia por que não
retroagir a alguns anos, 1990, de modo a vasculhar a Pasta Rosa, com os valores
pagos, via Caixa 02, por Ângelo Calmon de Sá, do então Banco Econômico, a 45
candidatos? O total distribuído alcança US$ 2,5 milhões, e alguns dos
beneficiados estão vivos, gozando da plenitude política.
Interessante,
também, uma investigação sobre o passado promíscuo da Odebrecht e OAS. Da primeira,
o então senador Antonio Carlos Magalhães recebeu substancial ajuda para compra
do jornal Correio da Bahia. Depois
dessa transação, ele e a empreiteira estreitaram o elo de negócios. Na gestão
de ACM, no governo da Bahia, várias obras de hidrelétricas foram contratadas. A
sigla OAS surgiu das iniciais de seus três fundadores, cujos executivos
mantinham forte relacionamento com a CEF, facilitado por Jorge Murad, genro do
ex-presidente José Sarney, empresário em seu estado natal, Maranhão. Dessa
aliança conseguia faturar encima de importantes obras. Por esse liame, as três
primeiras letras foram traduzidas por uma série de trocadilhos, dentre elas
“Obrigado, Amigo Sogro”, numa alusão a outro genro de J. Sarney. Para refrescar
a memória, em 2002 foi surpreendido pela Polícia Federal, no escritório de sua
empresa Lunus, em São Luís, com R$ 1,34 milhões, supostamente pagos por
empreiteiras.
N verdade,
era uma pasta cor-de-rosa, contendo doações, segundo o Banco Central deixado no
Banco Econômico. Se der um justo prêmio ao Leo Pinheiro o Caso Lunus seria
desvendado. O que não pode é enforcar um nome pelo ouvir dizer de delações
premiadas.
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor - (inocnf@gmail.com) Em 13/06/2017
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