Por Teresa Cruvinel (*)
Depois de renunciar à liderança
do PMDB na quarta-feira, chamando Temer de covarde e apontando a influência de
Eduardo Cunha em seu governo, o senador Renan Calheiros reconheceu que o
impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff foi um erro pelo qual o país
está pagando caro.
– É claro que foi um erro. A
ideia de que todos os problemas se resolveriam com o afastamento dela foi uma
estratégia do Eduardo Cunha para governar sob as costas do Michel. Quando
ela entregou a coordenação política ao Temer, eu tentei mostrar que aquela era
uma aliança temerária. Todos os problemas se agravaram e agora a
crise política está chegando a uma situação-limite, está cobrando uma saída,
seja com a antecipação de eleições, como defendeu o Fernando Henrique, seja com
a adoção do parlamentarismo. Agora que me liberei do desconforto da liderança
espero poder contribuir mais neste sentido.
Renan votou a favor do
impeachment mas tenta mitigar sua participação no “erro” que foi o golpe
lembrando ter sido ele o articulador da solução que preservou os direitos
políticos da ex-presidente. Esta indulgência, entretanto, não alterou a
natureza do golpe nem evitou suas consequências.
Outro apoiador do golpe que deu
o braço a torcer foi o prefeito de São Paulo, João Dória, ao dizer nesta
sexta-feira em Brasília que a situação pós-impeachment “é triste”.
Embora evitando mencionar as
graves acusações que pesam contra Temer e a possibilidade de seu afastamento do
cargo, Dória faz uma autocrítica dissimulada:
– É óbvio que eu não esperava
também que, depois de Lula e depois de Dilma, tivéssemos essas circunstâncias
que hoje temos. É triste. Reconheço que é triste.
É triste mas os tucanos
continuam integrando o governo e dando apoio a Temer.
A Renan, deve-se reconhecer a
capacidade que sempre teve de saltar de barcos furados na primeira hora,
credenciando-se a participar da nova configuração de poder. Ele repete
agora, com Temer, o mesmo caminho que seguiu em relação a Collor de Mello, com
o qual rompeu ainda antes do impeachment.
No discurso e nas entrevistas
que deu após renunciar à liderança do PMDB, um dos argumentos que ele mais
repisou foi o de que Eduardo Cunha continua dando as cartas no governo de
Temer. Ninguém da equipe palaciana desmentiu sua afirmação de que,
na semana passada, a ministra-chefe da AGU, Grace Fernandes, esteve para ser
demitida e substituída por Gustavo Rocha, secretário de Assuntos
Jurídicos da Casa Civil, ligado a Eduardo Cunha, para atender a uma exigência
dele, vinda lá do presídio de Curitiba. “Temer acabou recuando na última
hora”, assegura Renan.
Ele evita fazer prognósticos
sobre a votação, pela Câmara, do pedido de licença do STF para que Temer seja
julgado por corrupção passiva, insistindo na busca de uma solução pactuada.
– O entorno do atual presidente
apodreceu, tal como em 1954 com Getúlio. Quando isso acontece, o
tecido institucional se fragiliza muito. Não se pode perder tempo. Getúlio
resistiu a tirar uma licença do cargo, como lhe pediam os militares. Quando ele
finalmente se dispôs a aceitar esta imposição, os militares não queriam mais e
tivemos aquele desfecho trágico. Não sei quanto tempo ainda vai durar o atual
governo mas as forças políticas responsáveis precisam dialogar em busca de uma
saída. A crise está chegando a seu limite.
Nada indica, entretanto, que
alguma pactuação poderá acontecer antes da votação do pedido de licença pela
Câmara, possivelmente em agosto.
(*) - Teresa Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País. Artigo publicado em 30/06/2017
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