Globo protesta contra o
avanço da ditadura Temer
Um editorial do jornal O Globo, de João Roberto
Marinho, acusa Michel Temer de sabotar a democracia brasileira com suas
iniciativas recentes,
O texto cita dois episódios: o uso da máquina
pública para destruir a empresa JBS, que delatou Temer, e a espionagem contra o
ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
"Em um caso inominável de uso da máquina do
Estado em proveito próprio, o presidente teria mobilizado a Agência Brasileira
de Inteligência (Abin) para produzir um dossiê contra o ministro", diz o
texto, que aponta ainda "um movimento de braços do governo para
estrangular a JBS como empresa."
Curiosamente, a Globo é có-responsável por essa
nova tirania, por ter sido uma das articuladores do golpe que derrubou Dilma
Rousseff, a presidente honesta, e colocou Temer e companhia no poder.
Leia, abaixo, a íntegra:
Temer usar Estado em sua defesa é
atacar a democracia
Presidente nega com veemência que
mobilize organismos públicos em interesse próprio, mas precisa provar com atos
que não se vale mesmo de recursos de ditaduras
Não se pode menosprezar a capacidade do presidente
Michel Temer e de seu grupo de atuarem nos desvãos de Brasília para se manter
no poder. A vitória obtida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por 4 a 3,
contra o pedido de cassação da chapa que Temer formou com Dilma Rousseff,
contou com dois votos de ministros indicados há pouco tempo pelo governo —
Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira. Prova de clarividência e do faro estratégico
do bunker em que se transformou o Planalto, para levar o presidente até 31 de
dezembro de 2018, a salvo de perigos.
Se o julgamento desmoralizou a Justiça Eleitoral,
diante do oceano de provas de uso de dinheiro sujo pela chapa, também sinalizou
que a decisão de Temer e grupo de resistirem a qualquer custo parece não ter
limites. Isso preocupa. Na própria sexta, quando o tribunal inocentou Temer e
Dilma, a revista “Veja” informou que, do contra-ataque desfechado pelo
Planalto, constaria a Lava-Jato como alvo. No caso, o ministro Edson Fachin, do
Supremo, relator, na Corte, dos processos derivados da investigação, e responsável
pela homologação da delação de Joesley Batista, do grupo JBS, que tantos danos
causou ao presidente.
Em um caso inominável de uso da máquina do Estado
em proveito próprio, o presidente teria mobilizado a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) para produzir um dossiê contra o ministro. Pelo menos uma
das linhas exploradas pela espionagem seria a suposta proximidade de Fachin com
o JBS. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, reagiu no tom devido,
tachando a devassa de “própria de ditaduras” e “gravíssimo crime contra o
Supremo Tribunal Federal, contra a democracia e contra as liberdades”. O
Planalto divulgou nota de desmentido, além de o próprio Temer telefonar para a
ministra.
Ontem, a presidente da Corte, por meio de
assessores, deu voto de confiança a Temer — “não há o que questionar quanto à
palavra do presidente da República”. Temer, ainda, divulgou vídeo com
desmentido veemente.
Esta grave faceta que a crise em torno de Temer
revela não para aí. Por óbvio, os organismos de Estado devem agir diante das
falcatruas relatadas por Joesley, mas há um movimento de braços do governo para
estrangular o JBS como empresa — e este não é objetivo da legislação sobre
acordos de leniência e de colaboração premiada.
Este jornal criticou a excessiva benevolência com
que a Procuradoria-Geral da República premiou os irmãos Joesley e Wesley
Batista por suas delações, sem um dia sequer de prisão, mesmo domiciliar, e com
a permissão de viajarem para o exterior. Não se aceita é retaliação, própria do
autoritarismo. Para reforçar os temores, um ministro do Supremo, Luís Roberto
Barroso, em solenidade, sexta, no Tribunal de Justiça do Rio, se referiu ao
enorme poder do Estado brasileiro, “quando quer se vingar de alguém”. E citou o
caso do JBS: “ninguém tem dúvida de que vai virar terra arrasada”.
Por tudo isto, e mais o que poderá vir, Temer e o
governo têm de dar demonstrações cabais de não repetir práticas de ditaduras,
como citou a ministra Cármen Lúcia. Deveria se comprometer, por exemplo, na
substituição de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República, a escolher o
primeiro colocado na lista tríplice que receberá. Como fizeram Lula e Dilma,
por sinal.
De Brasília, Brasil 247, em 13/06/2017, às 07h38
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