Temer sai do espeto e
cai na brasa
Por Teresa Cruvinel (*)
Apesar dos 94% de rejeição e
da mala com R$ 500 mil recebida pelo emissário Rocha Loures, Temer vai escapar
da denúncia de corrupção mas pode ser derrubado pelos custos do salvamento.
Há sinais de que começa uma nova fase no jogo. A grita contra sua
gastança e o consequente caos fiscal, e o derretimento de Meirelles como seu
fiador junto às elites começam a tomar o lugar da reprovação moral. Se
não cai por corrupção, Temer pode ser derrubado pela inviabilidade econômica de
seu governo. Esta estratégia política da parte da elite que deseja se livrar
dele foi claramente traduzida editorialmente nesta quarta-feira pelo noticiário
das Organizações Globo. Este é o tom em todos os veículos do grupo.
No jornal O Globo, sob a manchete do dia, “Contas que não fecham”, seus
colunistas disparam contra a desordem econômico-financeira. Gaspari anuncia a
fervura de Meirelles na água em que Temer ceva os votos para salvar o pescoço,
Miriam Leitão proclama o risco de “apagão fiscal” e Lydia Medeiros informa que
a unidade em torno de Meirelles ruiu após o aumento de impostos e que ele
resiste à pressão para afrouxar a meta fiscal.
A elite econômica que apoiou o golpe, desiludida com Temer, esperava que o
Congresso assumisse a tarefa de removê-lo após a ajuda providencial de Joesley
Batista. Menos o setor financeiro, que enche as burras com os juros altos (e
nem vai se abalar com a esperada redução de um ponto na Selic, pois agora a inflação
voltará a subir com o aumento da gasolina e o Copom pisará no freio). A
mídia grande dividiu-se, com o grupo Globo liderando a artilharia anti-Temer e
os jornalões paulistas se equilibrando entre o apoio e a omissão. Com a
Câmara dominada, o empresariado produtivo começou a se movimentar. Ontem
publicamos aqui as duras críticas do vice-presidente da Abimaq à política
econômica. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, janta com Temer mas põe seu pato
novamente na rua. E para completar, hoje estourou a denúncia do site Buzzfeed,
de que Meirelles guarda no exterior os milhões que recebeu com sua consultoria,
que teve como maior cliente a JBS.
O colapso fiscal é uma realidade, não é retórica dos que desejam trocar Temer
por um preposto menos vulnerável, com melhores condições para tocar a agenda de
contrarreformas. Mas agora, começou a ser usado como munição.
Na semana passada o governo contingenciou R$ 5,9 bilhões do Orçamento mas só em
emendas parlamentares já se foram R$ 4,1 bilhões. A base de Temer
deformou o Refis para atender a interesses próprios sem levar qualquer
advertência, frustrando a arrecadação. Não votou a reoneração da folha de
pagamento das empresas e as receitas com repatriamento externo têm sido
decepcionantes. Enquanto isso, Temer e a área política continuam prometendo até
lotes na lua para garantir um voto contra a denúncia de Janot.
Ontem Temer prometeu R$ 13 milhões para as escolas de samba do Rio
e com isso o deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ) agora é voto certo a seu favor.
O rombo é grande, serviços públicos (como recentemente a emissão de
passaportes) podem parar mas as medidas propostas são inócuas. O PDV para
funcionários públicos em pleno desemprego será um fiasco. Buscar dinheiro
indevidamente pago a pessoas mortas é uma garimpagem frívola. Agora já se fala
em suspensão dos aumentos a funcionários concedidos no ano passado por Temer em
busca de boa vontade da máquina administrativa.
O jeito é pedalar e Temer tem pedalado bem. Para permitir a volta da emissão de
passaportes e rolar a dívida, na semana passada ele baixou dois créditos
suplementares, um de R$ 100 milhões, outro de R$ 3 bilhões. E o fez sem
aprovação parlamentar, o que valeu a Dilma a deposição por “pedaladas fiscais”.
Mas depois do golpe o Congresso mudou a lei e agora pedalar não é mais crime.
A ironia da história está em que, para enterrar a denúncia de corrupção e
permanecer no cargo, Temer acabou comprometendo um de seus poucos “ativos”
valorizados pela elite, a presença de Meirelles na Fazenda. Sem a
gastança para enterrar a denúncia, talvez ele tivesse evitado o aumento de
imposto. E como isso não bastou para tapar o rombo, agora Meirelles enfrenta a
pressão da área política para afrouxar a meta fiscal já deficitária em R$ 139
bilhões. Ele prometeu um crescimento de 1,6% este ano e o FMI já prevê 0,3%. O
confronto com a área política vai se intensificar e em algum momento ele vai
pedir o boné.
Além do “gasto político” de Temer, há outros atores contribuindo para o colapso
fiscal, como o Ministério Público, quando se concede aumento de 16%, ou como o
juiz que suspende a cobrança do aumento do Pis/Cofins, impondo perdas de R$ 76
milhões diários aos cofres do governo. Mas quando a desordem
impera, é assim mesmo. Cada um por si, em tempo de murici, e dane-se o
resto.
Se a mala de dinheiro de Loures não mexeu com o brio das excelências, há pouco
o que esperar das novas denúncias de Janot, disse o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, segundo o site Poder360. Nada mais grave do que isso deve
aparecer, apesar das delações que estão na bica. Mirando 2018, DEM e PSDB, no
encontro entre Maia e Geraldo Alckmin, outros demistas e tucanos, acertaram o
enterro da denúncia e a permanência de Temer, eleitoralmente mais conveniente a
eles. As ruas estão vazias e os indignados já não batem mais panelas.
Assim, caso uma parte da elite nacional queira mesmo se livrar do
presidente que vem ampliando a recessão e promovendo o colapso fiscal, vai ter
que lutar com outras armas. Por ora, com a exposição da inviabilidade econômica
do governo. Está claramente começando outra fase do jogo.
(*) Teresa Cruvinel é uma das mais acreditadas jornalistas
políticas do País. Artigo publicado em Brasil 247, em 27/07/2017
Campanha Educação no Trânsito do:
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