terça-feira, 15 de agosto de 2017

Política II

Procuradores da Lava-Jato rejeitam proposta de delação de Eduardo Cunha
Eduardo Cunha foi preso e condenado no âmbito da Operação Lava-Jato
(Foto: Denis Ferreira/AP)
A mais esperada e também uma das mais temidas delações desde os acordos da JBS e Odebrecht não vai acontecer, pelo menos por enquanto. Procuradores do Grupo de Trabalho da Lava-Jato em Brasília rejeitaram a proposta de delação apresentada pelo ex-deputado Eduardo Cunha, um dos mais próximos aliados do presidente Michel Temer. As negociações vinham se arrastando há mais de um mês e, na sexta-feira passada, procuradores decidiram botar um ponto final das negociações.
As promessas do ex-deputado de delatar políticos com quem mantinha estreitos vínculos foram consideradas "inconsistentes e omissas". Cunha também teria apresentado poucos documentos para comprovar as genéricas acusações que teria feito. A informação sobre o fim das tratativas foi divulgada pelo Valor e confirmadas pelo GLOBO nesta terça-feira. A recusa da delação não pode, ainda, ser considerada uma derrota de Cunha. Na semana passada, um interlocutor do ex-deputado disse que, mesmo com novo advogado e negociações em andamento, ele tinha mudado de estratégia.
À espera da nova procuradora
Segundo esta mesma fonte, Cunha apresentou de forma intencional uma delação branda para ser rejeitada pela equipe do atual procurador-geral Rodrigo Janot. A ideia dele seria esperar a posse da futura procuradora-geral Raquel Dodge e, a partir daí, buscar um acordo mais favorável, com menos revelações comprometedoras e mais benefícios. Com isso ele poderia poupar os aliados com quem mantinha contato com mais frequência, entre eles Temer e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves.
Cunha estaria apostando também numa inversão de expectativas no Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da troca de papéis entre Janot e Raquel Dodge. Com Janot fora de cena, ele acredita que seria mais fácil obter um habeas corpus no STF para deixar a prisão em Curitiba. A decisão da Câmara de impedir que o STF abra processo por corrupção contra Temer como queria Janot teria sido um dos motivos que levaram Cunha a recuar da ideia da delação já.
No início das negociações Cunha teria prometido falar tudo sobre Temer e pelo menos mais 50 deputados, senadores e ministros, entre outros políticos. Procuradores entendiam que, pelos indícios que pesam contra o ex-deputado, Cunha teria munição para triturar a reputação de um expressivo número de políticos, alguns deles do topo da hierarquia. Era isso que justificaria o acordo com o ex-deputado. Até ser preso Cunha era suspeito de liderar uma das maiores bancadas da Câmara. Ele teria mantido o poder mesmo depois de encarcerado.
Investigadores ainda mantém o mesmo ponto de vista sobre o potencial explosivo se, de fato, Cunha decidisse falar tudo o que sabe. Mas, nas últimas semanas, eles passaram a estranhar a estratégia do ex-deputado. Cunha prometia muito e entregava pouco. Para surpresa deles, Cunha estaria deixando importantes fatos de fora da delação. Estaria também apresentando versões completamente inverossímeis e até mesmo contraditória em relação a contundentes provas já recolhidas ao longo das investigações.
— Não sabemos se essa delação vai acontecer - dizia um dos investigadores.
Na sexta-feira, foi batido o martelo. Nos termos apresentados, a Procuradoria-Geral entende que não tem cabimento fazer acordo com Cunha. O ex-deputado está preso em Curitiba desde 20 de outubro do ano passado. Em 31 de março deste ano ele foi condenado a 15 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas em sentença assinada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
De Brasília, Jailton de Carvalho, O Globo, em 15/08/2017, às 16h29

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