Cunha tenta última cartada em busca de delação
O
ex-deputado Eduardo Cunha está preso em Curitiba, desde outubro do ano passado
(Foto: Geraldo Bubniak / Arquivo O Globo / 20-10-2016)
Menos de uma semana depois de receber um “não” do Grupo de Trabalho da
Lava-Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha pediu para reabrir as negociações na
tentativa de um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da
República. Um emissário do ex-deputado até sugeriu que, se fosse de interesse
do Ministério Público, Cunha participaria diretamente das tratativas, segundo
disse ao GLOBO uma fonte que acompanha a movimentação de perto.
Nesse caso, investigadores de Brasília poderiam ouvi-lo em Curitiba,
onde ele está preso. Procuradores devem decidir, até a próxima semana, se
aceitam ou não pôr de volta à mesa a discussão da delação do ex-deputado.
Na proposta apresentada inicialmente, Cunha teria se comprometido a
falar sobre as relações dele com o presidente Michel Temer. Também falaria
sobre deputados, senadores e ministros que hoje estão no centro do poder em
Brasília. Mas as informações oferecidas por escrito foram consideradas
superficiais e inconsistentes.
O ex-deputado teria sido omisso em relação a
crimes já conhecidos. Cunha também apresentou poucas provas para sustentar as
acusações, algumas delas genéricas, que prometeu fazer. O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, e a equipe de auxiliares não tiveram dúvidas em
recusar o acordo.
Mas, nesta
semana, para surpresa dos investigadores, um emissário de Cunha pediu ao Grupo
de Trabalho para retomar as negociações. A sinalização é que o ex-deputado
poderia ter dados relevantes a acrescentar à proposta inicial.
O mais temido
Como prova
de que está disposto a revelar tudo o que sabe, Cunha falaria diretamente com
os procuradores. Até sexta-feira passada, a negociação era intermediada pelo
advogado Délio Lins e Silva Júnior. Na nova configuração, continuaria com o
advogado, mas sentaria à mesa com os procuradores para uma conversa franca, sem
a preocupação de modular uma acusação a um interesse específico.
A possível
retomada das negociações com Cunha, desta vez num nível mais elevado, poderia
provocar uma reviravolta nas investigações da Lava-Jato nesta reta final do
mandato de Janot, que deixa o cargo em um mês. Até ser rejeitada, na sexta-feira
passada, a delação do ex-deputado era uma das mais esperadas e temidas.
De Brasília, O Globo, 18/08/2017
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