Reuters: Temer pode cair na segunda
denúncia
O governo terá de fazer um esforço
maior para articular a sua base e derrubar a segunda denúncia contra o
presidente Michel Temer e dois de seus ministros, avaliou um importante aliado.
É que ao já instável clima entre as
legendas que integram o governo soma-se um mal-estar relacionado a demandas
antigas ainda não cumpridas.
"Não é que o preço aumentou, é
que surgiu a oportunidade de cobrar", avaliou a fonte, que preferiu não
ser identificada. "É mais uma questão de passivos, de pendências desde
antes da primeira disputa", afirmou.
Ainda que essa fonte não preveja um
placar no plenário muito diferente dos números da votação da primeira denúncia,
foi identificado um movimento de alguns aliados com a intenção de garantir que
Temer passe por este segundo teste sem grandes demonstrações de força.
"Parte da base acha que pode dar
menos votos a Temer. Não vão deixar a denúncia passar, mas não quer que ele
saia muito fortalecido", explicou.
Para que a Câmara autorize o Supremo
Tribunal Federal a julgar a denúncia são necessários os votos de 342 dos 513
deputados. Na primeira acusação, 263 deputados votaram contra a autorização e
apenas 227 votaram a favor.
Vida
mais tranquila na CCJ
O aliado calcula, no entanto, que o
placar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) pode ser mais favorável ao
presidente do que na primeira denúncia. Governistas têm levantado nomes e
números na comissão, e avaliam trocas de titulares que possam votar contra a
denúncia.
Na primeira denúncia, a CCJ precisou
realizar duas votações, porque o parecer inicial, do deputado Sergio Zveiter
(RJ) --então no PMDB e hoje no Podemos--, favorável à autorização, foi
derrotado pelo voto de 40 dos 66 membros da comissão. Com isso, foi preciso um
novo parecer, do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), contrário à autorização,
aprovado por 41 votos.
Agora Temer é alvo de denúncia por
obstrução da Justiça e organização criminosa, crime imputado a dois de seus
ministros -Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da
Presidência)- que também integram a denúncia encaminhada à Câmara dos Deputados
pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
O pedido para instauração de processo
contra os três já tramita na CCJ da Câmara, responsável por emitir um parecer
sobre a denúncia, a ser posteriormente submetido ao plenário.
Na última quarta-feira, os advogados
de Temer, Padilha e Moreira entregaram as manifestações das defesas, abrindo o
prazo de cinco sessões para a comissão produzir o parecer.
O relator do caso, deputado Bonifácio
de Andrada (PSDB-MG), já adiantou que deve apresentar um parecer entre
terça-feira e a manhã de quarta-feira da próxima semana. A previsão, segundo
calendário acertado no colegiado, é de início da discussão e da votação no dia
17 deste mês.
Bonifácio, aliás, ocupou o centro da
mais recente turbulência envolvendo a denúncia contra Temer. Seu partido, o
PSDB, que enfrenta uma cada vez mais forte divisão interna, resolveu pedir de
volta a vaga ocupada pelo deputado na CCJ.
Para que Bonifácio continuasse na
relatoria, foi necessário que o PSC, partido do líder do governo no Congresso,
André Moura (SE), cedesse seu espaço no colegiado ao deputado tucano.
Segundo a fonte consultada pela
Reuters, a situação da bancada do PSDB é, de fato, complexa, e "muito
confusa".
A atuação pelo desligamento de
Bonifácio da vaga tucana na comissão expôs o partido e, de quebra, irritou
aliados que reclamam por mais espaço no governo. Para eles, não é justo uma
sigla em que quase metade da bancada posiciona-se contra Temer comandar quatro
ministérios.
De
Brasília, Maria Carolina Marcello, Reuters, 06/10/2017, às 17h18
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