FAO sugere
que jovens de países em desenvolvimento não deixem áreas rurais
Relatório divulgado hoje (9) pela Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sugere que os jovens que
vivem nas áreas rurais de países em desenvolvimento não deixem esses
locais em busca de empregos nas grandes cidades e aproveitem “o papel
fundamental” que essas áreas terão para o crescimento econômico desses países.
De acordo com a nova edição do relatório anual O
Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo, “os habitantes das áreas
rurais que se deslocam para as cidades provavelmente correrão um maior risco de
juntarem-se à população urbana pobre, em vez de encontrar um caminho para sair
da pobreza”.
A urbanização – em especial das cidades com menos
de 500 mil habitantes – representa, segundo a FAO, uma “oportunidade de ouro”
para a agricultura desenvolvida nas áreas rurais, em especial para os
agricultores familiares. Para que isso aconteça, entretanto, é necessário dar a
eles condições para que possam dar conta da demanda que surge a partir desses
mercados.
“As políticas e os investimentos públicos de apoio
serão essenciais para aproveitar a demanda urbana como motor de um crescimento
transformador e equitativo, e as medidas elaboradas para garantir a participação
dos pequenos agricultores familiares no mercado devem estar integradas às
políticas”, diz o relatório.
(Merchandising)
A FAO acrescenta que o investimento nas áreas
rurais também ajudará os países a cumprirem a Agenda 2030 para o
desenvolvimento, uma vez que a maioria das pessoas pobres ou que passam fome
vivem nessas áreas.
Entre os desafios previstos para aproveitar o
potencial das áreas rurais, a FAO sugere três linhas de ação. A primeira está
relacionada à execução de políticas que garantam que os pequenos produtores
possam satisfazer a demanda alimentar urbana – é o caso de medidas como o
fortalecimento dos direitos à posse de terra e o acesso a crédito.
Em segundo lugar, o estudo aponta a criação de
infraestrutura adequada para fazer a ligação das áreas rurais com os mercados
urbanos. De acordo com o levantamento da FAO, “em muitos países em
desenvolvimento a falta de estradas rurais, redes elétricas, galpões de
armazenagem e sistemas de transporte refrigerado são um grande obstáculo para
os agricultores que desejam aproveitar a demanda urbana de frutas frescas,
hortaliças, carne e produtos derivados do leite”.
A terceira ação consiste na inclusão de zonas
urbanas menores e dispersas nessas conexões – não apenas megacidades.
Ainda de acordo com a FAO, o apoio a políticas e o
investimento nas áreas rurais “para construir sistemas alimentares potentes”
pode ajudar também as agroindústrias que estão bem conectadas com as áreas
urbanas, de forma a criar emprego e permitir que um maior número de pessoas
permaneça e prospere no meio rural.
Novas oportunidades econômicas poderão surgir
também das atividades não agrícolas relacionadas à agricultura. É o caso de
empresas que processam, refinam, embalam, transportam, armazenam, comercializam
ou vendem alimentos; o de empresas prestadoras de serviços como os de irrigação
ou plantio; e também das empresas fornecedoras de insumos produtivos, como
sementes, ferramentas e equipamentos, e fertilizantes.
O relatório conclui que os centros urbanos menores
representam um mercado de alimentos “muito negligenciado”, quando, na verdade,
“metade da população urbana de países em desenvolvimento vive em cidades e
povoados com menos de 500 mil habitantes”.
Programas brasileiros
O relatório elogia programas brasileiros como os
que compram a produção de agricultores familiares para compor a merenda escolar
oferecida pelas escolas públicas. Sem citar nominalmente o programa de Seguro
Rural, elogia também "ferramentas de gerenciamento de riscos" que
resultam na proteção de ativos de produtores mais pobres.
“Outras inovações agora amplamente aplicada incluem
a ligação de esquemas públicos de compras de alimentos à alimentação escolar. É
o caso de programas de apoio a pequenos agricultores familiares fornecedores
que têm como pioneiro o Brasil. Proteção social e ferramentas de gerenciamento
de riscos para regiões rurais pobres, bem como para famílias agrícolas,
promovem inclusão e transformações rurais por meio da proteção de ativos”, diz
o relatório.
Em outro momento, o relatório diz que “nos países
onde existe um grande setor comercial, como o Brasil, as fazendas menores são
mais produtivas que as fazendas maiores, mas não mais produtivas que as
fazendas comerciais de grande escala”.
O relatório da FAO apresentou alguns números que
retratam a evolução e a situação atual da alimentação e da agricultura no
planeta. O documento afirma que a demanda dos mercados urbanos é crescente e,
atualmente, representa até 70% dos abastecimentos nacionais de alimentos.
Segundo a publicação, a população rural do mundo em
desenvolvimento aumentou em 1,5 bilhão de pessoas entre 1960 (1,6 bilhão de
pessoas) e 2015 (3,1 bilhões de pessoas). Atualmente as grandes cidades (de 5 a
10 milhões de habitantes) e as megacidades (com mais de 10 milhões de
habitantes) representam 20% da população urbana do planeta.
Metade da população mundial vive, atualmente, em
cidades com menos de 500 mil habitantes ou em áreas rurais que as cercam, e
que, em nível mundial, as zonas urbanas menores representam cerca de 60% da
demanda urbana por alimentos.
O relatório projeta que, em 2030, a maioria da
população urbana mundial estará concentrada nas cidades com uma população que
não superará 1 milhão de habitantes, e que 80% dessas pessoas viverão em áreas
urbanas com menos de 500 mil habitantes.
De Brasília, Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil, 09/10/2017, às 14h40
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