Com
expectativa de inflação em 4,2%, cortes na Selic podem ser interrompidos
Se houver
mudanças no cenário, pode haver nova redução moderada, segundo o
Copom (Imagem:
Arquivo/Marcello
Casal Jr/Agência Brasil)
O ciclo de cortes da taxa básica de
juros, a Selic, pode ser interrompido na próxima reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom) do Banco Central (BC), em março. De acordo com a ata da
última reunião, divulgada hoje (15), o Copom afirma que “caso o cenário básico
evolua conforme esperado, o comitê vê, neste momento, como mais adequada a
interrupção do processo de flexibilização monetária”, ou seja de redução da
Selic. Na reunião realizada nos dias 6 e 7 deste mês, a taxa básica foi reduzida para 6,75% ao
ano, no 11º corte seguido.
Entretanto, o Copom ressalta que essa
“visão para a próxima reunião” pode se alterar e levar a uma redução moderada adicional
na taxa, se houver mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de
riscos. O Copom afirmou que seus próximos passos continuam dependendo da
evolução da atividade econômica e das expectativas para a inflação.
Para o Copom, a inflação deve ficar
em torno de 4,2%, em 2018 e 2019. A meta de inflação para 2018 é 4,5% e para
2019, 4,25%. Nos dois anos, há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto
percentual para baixo ou para cima do centro da meta. Em 2017, a inflação
fechou o ano abaixo do centro da meta (4,5%) e do limite inferior (3%), em 2,95%.
Para alcançar a meta, o BC usa como
principal instrumento a taxa a Selic. Quando o Copom aumenta a Selic, a meta é
conter a demanda aquecida, e isso gera reflexos nos preços porque os juros mais
altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom diminui os
juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à
produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação.
“Todos [os membros do Copom, composto
pela diretoria do BC] concordaram que a recuperação da economia apresenta maior
consistência. Nesse contexto, entendem que, à medida que a atividade econômica
se recupera, a inflação tende a voltar para a meta”, diz a ata. O Copom
reiterou que devido aos atuais níveis de ociosidade da economia, revisões
pequenas na intensidade de recuperação do país não levariam a mudanças na
trajetória esperada para a inflação.
Na análise para decidir sobre a taxa
Selic, o Copom informou que levou em consideração as oscilações recentes dos
preços de energia elétrica e dos combustíveis.
O comitê também avaliou que “uma
frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas” como a da
Previdência” e “ajustes necessários” na economia brasileira podem afetar
prêmios de risco (retorno adicional aos investidores por correr maior risco de
calote) e elevar a trajetória da inflação.
Cenário externo
No debate sobre os próximos passos, o
comitê avaliou, na reunião, que a interrupção do processo de cortes da Selic
seria favorecida não só pela “recuperação mais consistente da economia”
brasileira, mas também por “uma piora no cenário internacional”.
Os membros do comitê avaliaram que,
no mundo, há perspectivas de retorno das taxas de inflação para patamares mais
próximos da meta, em países centrais (que comandam a economia mundial), além de
elevação de salários nessas economias. Para o Copom, isso reforça o cenário de
continuidade do processo de normalização das taxas de juros desses países, como
os Estados Unidos. A expectativa é que isso ocorra de forma gradual. “Mas a
trajetória prospectiva da inflação de preços e salários pode tornar esse
processo mais volátil [com fortes oscilações] e produzir algum aperto das
condições financeiras globais”, disse.
Uma elevação das taxas de juros nos
Estados Unidos estimula os investidores a vender ações na bolsa de valores e a comprar títulos
do Tesouro norte-americano, considerados os papéis mais seguros do
planeta. Dessa forma, propiciam a fuga de capitais de países emergentes, como o
Brasil, para cobrir prejuízos em mercados de economias avançadas.
Mas os membros do Copom destacaram a
capacidade da economia brasileira de “absorver eventual revés no cenário
internacional, devido à situação robusta de seu balanço de pagamentos e o
ambiente com inflação baixa, expectativas ancoradas e perspectiva de
recuperação econômica”.
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