Está comprovado: Lula lê mais - e melhor
- que a elite brasileira
Por Gustavo
Conde (*)
Claro que tem gente que duvida
que Lula leu 21 livros em 58 dias (mais do que muito intelectual brasileiro leu
em 30 anos). A experiência da leitura é uma experiência de sentido, não é o passatempo
pequeno-burguês que a classe média gosta de exercitar como forma de atenuante
para sua ignorância.
No passado recente, a classe
média brasileira comprava enciclopédias inteiras para enfeitar a estante da
sala, de acordo com a cor da lombada dos volumes.
Lula vai dando uma pletora de
lições à elite burrinha brasileira – que, é óbvio, não vai aprender nada, uma
vez que lhe falta soberania de espírito.
Para quem goza de liberdade
intelectual e não tem rabo preso com os laços ideológicos do século passado, o
momento enseja muita revelação sobre o mundo cognitivo e leitor.
Até nisso, Lula dá um banho na
elite que não consegue viver sem odiá-lo. Pobre elite brasileira. Vai acabar se
auto extinguindo por ausência severa de sentido em suas vidas e em suas
leituras de suas vidas.
Lembro de Emir Sader em seu
tuíte histórico: o revisor do processo contra Lula leu 250 mil páginas em 6
dias. Ninguém reclamou da velocidade do assistente do TRF-4. Agora, quando Lula
lê 21 livros em 58 dias, a classe média fica espantada.
É o retrato da máquina de moer
carne em que se tornou a nossa lenta capacidade de interpretação de texto.
'Nossa', vírgula. A 'deles'.
Essa falta de competência
leitora pode ser explicada com um dado relativamente simples. Os filhos da
classe média brasileira vêm lendo resumos de livros pedidos em vestibular há
bons 30 anos – isso quando não fraudam o vestibular pedindo pro papaizinho
comprar o gabarito que sempre pode ser encontrado meses antes da aplicação da
prova (em Minas, um pai pagou 100 mil pelo gabarito do Enem para dar a vaga na
faculdade de medicina de presente à filha).
Pesquise na internet e você vai
achar resumos para todos os gostos: Machado de Assis, João Cabral, Ítalo
Calvino, Eça de Queirós etc. Poucos leem as obras inteiras, em geral
apenas os alunos com menos recursos, que frequentam bibliotecas públicas.
A elite brasileira não lê e não
saber ler. Esse é um ponto nodal para se compreender a nossa classe média que
pensa que é elite. São péssimos. Quando mais dinheiro um aluno de ensino médio
tem, mais dificuldade de leitura ele acusa. Isso é empírico.
Ao contrário do que pensam
pedagogos ancorados no século 20, a dificuldade financeira produz um aluno
melhor, que dá mais valor ao conhecimento e às práticas leitoras. São muito
mais “geniais” que seus colegas abastados, cuja limitação aliás, chega mesmo a
comover.
Comidinha na mão nunca foi um
bom procedimento pedagógico, familiar ou cidadão. Os famigerados playboys,
agroboys e sei-lá-mais-o-quê-boys vêm daí. Em outras palavras: a tutela mata.
Por isso, vem muito a calhar a
celeuma em torno da velocidade com que Lula é capaz de ler seus livros na
prisão. Até essa humilhação, a classe média terá que consagrar a sua própria
coadjuvância história: eles não conseguem ler como Lula.
Lula sempre foi leitor voraz de
livros e da blogosfera. Sabe ler, diferentemente da freguesia leitora pós
graduada do país. Ler, caros amigos, é gerenciar sentidos, não é “aceitar” de
maneira domesticada um modelo fechado proposto pelo escriba e seu texto. Isso,
Lula sabe fazer melhor do que ninguém, porque é o que ele faz na vida
cotidiana: ele lê o povo, ele lê o humano, ele lê a história.
(*) - Gustavo Conde é linguista, colunista do 247 e
apresentador do Programa Pocket Show da Resistência Democrática pela TV 247.
Artigo publicado em 247, em 06/06/2018
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