quarta-feira, 6 de junho de 2018

Opinião - Artigo

Está comprovado: Lula lê mais - e melhor -  que a elite brasileira
 Gustavo Conde
Por Gustavo Conde (*)
Claro que tem gente que duvida que Lula leu 21 livros em 58 dias (mais do que muito intelectual brasileiro leu em 30 anos). A experiência da leitura é uma experiência de sentido, não é o passatempo pequeno-burguês que a classe média gosta de exercitar como forma de atenuante para sua ignorância.
No passado recente, a classe média brasileira comprava enciclopédias inteiras para enfeitar a estante da sala, de acordo com a cor da lombada dos volumes.
Lula vai dando uma pletora de lições à elite burrinha brasileira – que, é óbvio, não vai aprender nada, uma vez que lhe falta soberania de espírito.
Para quem goza de liberdade intelectual e não tem rabo preso com os laços ideológicos do século passado, o momento enseja muita revelação sobre o mundo cognitivo e leitor.
Até nisso, Lula dá um banho na elite que não consegue viver sem odiá-lo. Pobre elite brasileira. Vai acabar se auto extinguindo por ausência severa de sentido em suas vidas e em suas leituras de suas vidas.
Lembro de Emir Sader em seu tuíte histórico: o revisor do processo contra Lula leu 250 mil páginas em 6 dias. Ninguém reclamou da velocidade do assistente do TRF-4. Agora, quando Lula lê 21 livros em 58 dias, a classe média fica espantada.
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É o retrato da máquina de moer carne em que se tornou a nossa lenta capacidade de interpretação de texto. 'Nossa', vírgula. A 'deles'.
Essa falta de competência leitora pode ser explicada com um dado relativamente simples. Os filhos da classe média brasileira vêm lendo resumos de livros pedidos em vestibular há bons 30 anos – isso quando não fraudam o vestibular pedindo pro papaizinho comprar o gabarito que sempre pode ser encontrado meses antes da aplicação da prova (em Minas, um pai pagou 100 mil pelo gabarito do Enem para dar a vaga na faculdade de medicina de presente à filha).
Pesquise na internet e você vai achar resumos para todos os gostos: Machado de Assis, João Cabral, Ítalo Calvino, Eça de Queirós etc. Poucos leem as obras inteiras, em geral apenas os alunos com menos recursos, que frequentam bibliotecas públicas.
A elite brasileira não lê e não saber ler. Esse é um ponto nodal para se compreender a nossa classe média que pensa que é elite. São péssimos. Quando mais dinheiro um aluno de ensino médio tem, mais dificuldade de leitura ele acusa. Isso é empírico.
Ao contrário do que pensam pedagogos ancorados no século 20, a dificuldade financeira produz um aluno melhor, que dá mais valor ao conhecimento e às práticas leitoras. São muito mais “geniais” que seus colegas abastados, cuja limitação aliás, chega mesmo a comover.
Comidinha na mão nunca foi um bom procedimento pedagógico, familiar ou cidadão. Os famigerados playboys, agroboys e sei-lá-mais-o-quê-boys vêm daí. Em outras palavras: a tutela mata.
Por isso, vem muito a calhar a celeuma em torno da velocidade com que Lula é capaz de ler seus livros na prisão. Até essa humilhação, a classe média terá que consagrar a sua própria coadjuvância história: eles não conseguem ler como Lula.
Lula sempre foi leitor voraz de livros e da blogosfera. Sabe ler, diferentemente da freguesia leitora pós graduada do país. Ler, caros amigos, é gerenciar sentidos, não é “aceitar” de maneira domesticada um modelo fechado proposto pelo escriba e seu texto. Isso, Lula sabe fazer melhor do que ninguém, porque é o que ele faz na vida cotidiana: ele lê o povo, ele lê o humano, ele lê a história.
(*) - Gustavo Conde é linguista, colunista do 247 e apresentador do Programa Pocket Show da Resistência Democrática pela TV 247. Artigo publicado em 247, em 06/06/2018

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