domingo, 23 de junho de 2013

PROTESTOS

Protestos, manifestações e mudanças
O brasileiro se levanta há dias, contra a corrupção os gastos inúteis e o desmando em todas as áreas da administração pública, no País. Um senso de indignação generalizado, de já ter tolerado demais, apanhado demais. Agora o povo reivindica mudanças de procedimentos na gestão das políticas públicas, nas áreas de saúde, educação e segurança pública e outros.
Se você foi às manifestações, usa carteirinha de estudante para ter direito à meia-passagem, à meia-entrada ou à isenção delas, mas não é estudante, você é apenas parte do problema. Você não tem moral para reclamar da corrupção deste país. O nome disso tudo é hipocrisia.
Em Sobral, por exemplo. Se você joga tudo no meio da rua: lixo, entulhos, galhos, restos de construção, papel, latas, sacos plásticos, dejetos e tudo mais a ermo, você trata a cidade como o seu lixeiro particular. Mas a cidade é de todo mundo. As ruas estão sujas, nojenta e digna de repúdio, a culpa é sua.
Aí você vai à rua protestar, tudo bem. É um direito seu. A final, vivemos uma democracia, numa democracia. Você tem direito de livre expressão. Vá, reclame, reivindique, proteste, manifeste-se.
Mas, a manifestação é contra você.
Ah, você é ciclista, todo orgulhoso de ser sustentável, um carro a menos, menos trânsito e menos CO2. Você reclama da opressão do carro, mais forte, contra a bicicleta, o mais fraco. Mas você não para no sinal. Não respeita a faixa de pedestres. Você até anda na calçada, na contramão, de todo jeito, tornando-se o opressor do pedestre. Você sabe que a calçada é do pedestre, mas você não o respeita, porque você só pensa em você mesmo. Ah, os outros que se explodam, não é assim? Quer protestar? Proteste.
Mas não se iluda: A manifestação é contra você.
Você reclama de cães soltos nas ruas. Mas você que pode ter um cão preso em casa, pode dar-lhe boa ração, cuidado e carinho, mas, nas oras que pode leva seu bichinho de estimação à rua, a passear leva-o para fazer o cocozinho nos canteiros das vias, nos jardins das praças, nas calçadas, em qualquer lugar. Ninguém admite, mas o resultado está aí: nossas avenidas, praças e calçadas são um mar de merda. Calçadas, avenidas e jardins não são a privada do seu totó. E você pensa que é. E não tá nem aí pros outros. Mas você protesta.
A manifestação é contra você.
Você joga de tudo nas ruas: papel no chão, sacolas, lixo de toda a espécie, galhos, restos de construção, tudo. Em terrenos baldios, em esquinas, nas calçadas, em frente à caso dos outros, não importa. Contanto que não seja na sua. Você quer é se livrar. Os outros que se explodam. E não faltam desculpas para você não fazer o que é certo. Essa merda de prefeitura que não instala lixeiras, que não contrata garis, que não manda carro de coleta, ou não manda equipe para limpar as ruas, né? Prefeito incompetente, prefeitura inoperante, e mil e outras reclamações.
Na saída do estádio, do boteco, das barracas de praças, dos clubes, você toma uma cerveja e joga a lata por aí. Come um torresmo, uma pipoca, toma um sorvete e joga a embalagem em qualquer lugar, menos numa lixeira. “Ah, todo mundo está jogando, porque eu não posso jogar? Será que só eu estou errado?”/ “Depois vem a limpeza pública e limpa. Afinal, eu pago meus impostos para isso. Alguém deve vir limpar. A responsabilidade não é do Estado, do município, da prefeitura? Eles que se explodam!”
E você, manifestante, onde acha que está a sua responsabilidade? O que você faz para cumpri-la, todo dia? Você não pode se esquivar dela durante os 365 do ano, durante os dias da sua vida. Mas você se esquiva, todo dia. Ah, os poderes que se explodam. Mas você se manifesta. É um direito seu.
A manifestação é contra você.
Você não cumprimenta o porteiro do seu prédio. Você explora seu empregado. Você não respeita seu semelhante. Você é só você. Primeiro, você. Depois, você de novo. Você [é o centro de tudo. Exagera, horrivelmente, no perfume que você usa nos bifês, nos clubes, no shopping, nas lojas, na igreja, ou em outros locais aonde você vai. O que importa é que o seu perfume importado invada o nariz dos outros. Se é fumante aí é que o egoísmo domina mesmo. Os outros que se explodam!
Você dirige bêbado. Você tem um carrão de luxo põe um escapamento super estridente, que dá para ouvir a quarteirões de distância. Você instala um paredão, um som da ,maior potência no seu carro, que incomoda todo mundo por onde você passa. Todo mundo tem que ouvir a porra das suas músicas, geralmente de péssimo gosto. Mas você quer ser notado, quer aparecer e nem aí para o sossego dos outros. O gosto é seu.  Você quer é ser notado. Os outros que se explodam!
Você compra uma moto e ganha um capacete. Seu capacete só serve para protetor de cotovelo. E sai por aí, furando farol, desobedecendo  sinal, ultrapassando veículos pela direita, correndo a mil, atropelando e sendo atropelado. Mas toda a razão no trânsito é sua. E os outros? Ah, os outros que se explodam.
E você, que, “graças aos seus esforços”, tem um carrão possante, da moda, que sobe a serra para curtir a vida, e que por lá enche a cara de bebidas e, ao fim do domingo, desce a ladeira cheio dos paus e tenta ludibriar ou subornar o policial de trânsito, se esquivando do bafômetro, e ainda se achando cheio de razão, tenta subornar o guarda ou ameaçá-lo com o famoso chavão: “Você sabe com quem está falando?”. Você que age assim, assim mesmo proteste.
Mas a manifestação é contra você.
Ou ainda, você que votou ou vota por dinheiro, por benefícios individuais ou coisas equivalentes. Você que, subservientemente, elege políticos sabidamente corruptos e inescrupulosos, sem compromissos com o povo a quem representa, vá às ruas, esperneie, grite, levante cartazes, proteste.
A manifestação é contra você.
Até você que escreve textos como este, que é jornalista, blogueiro, redator ou apresentador de rádio ou de TV, que vive apontando o dedo contra delitos de quem já cometeu ou ainda comete desmandos administrativos ou desvios de recursos públicos, achando que dedo em riste exime você da sua responsabilidade.  Você que comete arbitrariedade contra subordinados, pessoas humildes, simples, empregado(a)s domésticos etc.  Você é parte da violência. Você é parte da corrupção. Mas proteste. É um direito, nada lhe impede de protestar, mas saiba:
A manifestação é contra você.
De toda a sorte, uma coisa é certa. Para mudar tudo que é de errado que aí está, mude primeiro a você mesmo. Se você não mudar, o país não vai mudar, nada vai mudar. Por isso, não adianta todo mundo apenas demandar que "o poder” conserte as coisas. Quer mudar Sobral, o Ceará, o País? Não se esqueça de mudar primeiro a si mesmo, e pagar o preço da mudança, como uma pessoa adulta, amadurecida, consciente.
Então, amigo, vá pra rua. Já estava mais do que na hora! Mas, por favor, não esqueça, camarada:
A manifestação é contra você.
(Herculano Costa)

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