Ministério Público Federal
denuncia 12 em primeira acusação criminal do cartel
O Ministério Público Federal
denunciou, na última sexta-feira (31), à Justiça, doze investigados por crimes
de corrupção e lavagem de dinheiro relativos a um aditivo de contrato firmado
em 1998 pela multinacional francesa Alstom com uma companhia de energia do
governo de São Paulo. Entre os denunciados estão dois ex-diretores de estatais
paulistas.
Segundo a denúncia, o pagamento de
propina a funcionários públicos do Estado ocorreu entre 1998 e 2003. O período
compreende as gestões de Mário Covas e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.
É a primeira denúncia de caráter
criminal envolvendo uma empresa do cartel dos setores de energia e
metroferroviário, por práticas que são investigadas, no Brasil, desde 2008. A
Alston também é alvo de outro inquérito sobre irregularidades em contratos com
o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Segundo a Procuradoria da República,
os crimes foram praticados quando da assinatura do décimo aditivo do contrato
Gisel (Grupo Industrial para o Sistema da Eletropaulo), assinado pela Empresa
Paulista de Transmissão de Energia (EPTE) com a Alstom e outras três empresas
por R$ 181,3 milhões, em valores atualizados.
O aditivo se referia ao fornecimento
de equipamento para construção e ampliação de três estações de transmissão de
energia e compra de equipamentos que serviriam para a expansão do Metrô
paulista. O valor da propina para que não houvesse licitação, segundo a
Procuradoria, foi de R$ 23,3 milhões, em valores corrigidos.
Inquérito. O vereador Andrea Matarazzo (PSDB), que chegou a ser indiciado pela
Polícia Federal por corrupção passiva, não foi denunciado. “Forçoso reconhecer
a inexistência, pelo menos por ora, de elementos de prova suficientes para a
propositura da ação penal pública”, avaliou a Procuradoria que, no entanto,
requereu abertura de inquérito policial autônomo para investigar o tucano.
O indiciamento ocorre quando alguém é
apenas suspeito de um delito. A denúncia acontece quando a acusação tem
convicção de que os investigados praticaram crimes. Nessa etapa do processo, os
citados deixam de ser suspeitos e viram acusados.
A denúncia mira dois novos
personagens, acusados por corrupção passiva: o ex-presidente da EPTE José
Sidnei Colombo Martini – hoje professor da Escola Politécnica da USP e prefeito
da Cidade Universitária – e Celso Sebastião Cerchiari, diretor de operações da
Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, empresa privada que
incorporou a EPTE em 2001.
Cerchiari e Martini foram investigados
pela Polícia Federal, mas não indiciados. “José Sidnei e Celso, (...) no
período entre 1998 e 2002, solicitaram e receberam para si, direta e
indiretamente, em razão da função exercida em empresa pública, EPTE e
Eletropaulo, vantagem indevida, consistente em, no mínimo, R$ 1.107.196 à época
dos fatos, o que corresponderia atualmente a R$ 4.037.267,32”, concluíram os
procuradores Rodrigo de Grandis e Andrey Borges de Mendonça. “Em razão da
vantagem indevida, praticaram ato de ofício relacionado à realização de
contratação direta, sem licitação, (...), infringindo dever funcional”.
Movimentações. Análise financeira produzida pela PF mostra que Cerchiari recebeu, em
sua conta, entre 2002 e 2005, R$ 396,3 mil a título de “crédito de
fornecedores”, somando R$ 822,5 mil. Martini, por sua vez, foi contemplado com
R$ 259,5 mil em sua conta bancária nos anos de 1999 a 2001.
Os procuradores assinalaram que o
ex-diretor financeiro da Alstom Thierry Arias e o ex-diretor da Cegelec Jonio
Foigel pagaram R$ 23,3 milhões em propinas para funcionários da Eletropaulo, da
EPTE, do Tribunal de Contas do Estado e da Secretaria de Energia. Segundo o
MPF, tiveram o auxílio do lobista Cláudio Luiz Petrechen Mendes e de Sabino
Indelicato, sócio do conselheiro do TCE Robson Marinho.
Foram denunciados por lavagem de
dinheiro, acusados de simular consultorias e de fazer transitar dinheiro da
propina por empresas offshores, os lobistas Romeu Pinto Junior, Jean-Pierre
Courtadon, Jean Marie Lannelongue e José Geraldo Villas Boas, bem como o
ex-diretor de marketing da Alston Daniel Huet e o lobista Jorge Fagali Neto.
Tucano
agora será alvo de um inquérito específico
A Procuradoria da República requereu
abertura de inquérito policial autônomo “com o objetivo de investigar as
condutas criminosas eventualmente perpetradas por Angelo Andrea Matarazzo”.
Ex-secretário de Energia (governo Mário Covas), Matarazzo foi indiciado pela PF
por corrupção passiva. Os procuradores Rodrigo de Grandis e Andrey Borges de
Mendonça advertem que “o simples fato de se ocupar cargo em tal ou qual órgão
ou diretoria em cujo âmbito o delito foi perpetrado” não dá sustentação
jurídica para a formulação de imputação penal no contexto do Estado Democrático
de Direito.
Por Fernando Gallo e Fausto Macedo - Publicado n'O Estado de S. Paulo,em 02.02.2014, à 00h31

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