A imprensa
que tenta cegar os incautos
Por Herculano Costa (*)
Ruy Barbosa, um dos nossos mais competentes
jurisconsultos, escritor ilustre, político notável, poliglota exímio, era
também um apaixonado jornalista. Crítico implacável do jornalismo tendencioso,
Ruy escreveu várias obras exortando jornalistas brasileiros de sua época, para
exercerem suas profissões com ética, seriedade, isenção de ânimos, etc, etc.
Nesse sentido, “A imprensa e o dever da verdade”, foi a obra mais marcante de
Ruy. Publicou também inúmeros e imensos artigos sobre o papel do jornalista
ante os acontecimentos políticos do Brasil de seu tempo. Quem não admirou, do
legado do “Águia de Haia”, a famosa frase: “A imprensa é a vista da Nação”?
Noutra oportunidade o grande jurista cunhou também esta: “A imprensa é o quarto
poder da República”. Segundo ele observou, à época, a Imprensa Livre estava no
mesmo patamar dos Poderes Constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Ruy Barbosa, como se sabe, foi também
político militante. Deputado provincial (hoje estadual), deputado geral (o
mesmo que deputado federal nos dias de hoje) e por 31 anos exerceu cargo de senador. Enquanto detentor de cargos
públicos não contrariava o pensamento da imprensa, então do seu lado. Ruy, no
entanto, por quatro vezes, lançou-se candidato a Presidente da República. Em
duas ocasiões, retirou sua postulação (por conveniência de seus interesses – o
que hoje a gente classifica como acordo político), para apoiar outros candidatos.
Mais por duas vezes concorreu ao dito cargo de Presidente e, nas duas vezes, foi derrotado: em 1910 por
Hermes da Fonseca e em 1919, por Epitácio Pessoa.
Depois
dessas malsucedidas disputas eleitorais, Ruy passou a manifestar sua decepção
com a imprensa. Segundo ele, nas duas vezes em que concorreu à presidência, foi
vítima das armações de uma imprensa imoral, mercenária e que apenas cumpria
ordens dos políticos que estavam no poder. No seu discurso A IMPRENSA E O DEVER
DA VERDADE, que depois transformou em livro, Ruy manifestou repulsa pela
imprensa que ao seu ver tinha se
degradado e se unido aos Poderes Executivo e Legislativo, ao ponto de ser usada
pelos políticos, para denegrir a sua honra, no firme propósito de impedir que
ele chegasse ao Palácio do Catete. Segundo escreveu, a simbiose maléfica entre
a Imprensa e os Poderes era tão grande que os jornais só publicavam o que o Presidente
da República queria que fosse veiculado. Por diversas vezes o jornalista e
senador Ruy Barbosa denunciou a imoralidade reinante nos primeiros anos da
República. O poder dos jornais controlados pelos políticos era tão grande ao
ponto de Ruy declarar em tom de ironia que
a imprensa havia se tornado o “Primeiro Poder da República”. (Quer continuar lendo este artigo? Clic abaixo, em:)
A imprensa, a qual Ruy Barbosa devotou toda a sua vida, havia se
transformado num instrumento perigosíssimo, nas mãos de pessoas sem escrúpulos
e sem moral. Ele mesmo se sentia injustiçado e vítima da imprensa, cuja moral,
ética e seriedade tanto lutou para construir.
Agora, em relação à publicidade da
época de Ruy, a imprensa, hoje, se avariou muito mais, ainda. Até pela
velocidade e poder de alcance dos modernos meios, pelos quais a informação é
descontroladamente veiculada. Ao invés de ser os olhos por onde se lhe exerce a
vista, ou o cristal que lhe clareia a mente, passou a ser a obscuridade por
onde a verdade se
perde.
Atualmente, quase um século depois das declarações de Ruy, a publicidade persiste em percorrer os mesmos caminhos da imoralidade, da mentira,
da enganação e do mercenarismo! A imprensa atual (com as raras e honrosas exceções
que a regra permite) está mais corrompida e venal do que nos tempos de Ruy
Barbosa, disso não tenho dúvida alguma.
Diariamente vemos uma imprensa corrupta e mentirosa fazendo de tudo para passar
aos brasileiros que os governos do Partido dos Trabalhadores nada fizeram ou
nada têm feito de bom nesses mais dez anos que administra o Brasil. A chamada Grande Imprensa, principalmente a Revista Veja, a Rede Globo e os jornais O
Estado de São Paulo, O Globo e a Folha de São Paulo só divulgam as notícias que
tenham como objetivo confundir a mente de telespectadores, leitores e ouvintes,
que o Brasil está indo de mal a pior, como se nos últimos cinqüenta anos ou até
mais, o Brasil tivesse estado melhor. São notícias truncadas, carregadas de
mentiras ou de inverdades, encobrindo
verdades maiores (como os escândalos, a corrupção, a sonegação fiscal e as improbidades
administrativas de toda a espécie, em outros partidos ou grupos econômicos para
os quais trabalham). Querem tapar com panos pretos alguns holofotes que tentem
focar na corrupção de seus patrões. A imprensa é os olhos da Nação? Não. A imprensa virou os olhos do Patrão!
Em 30/08/2014
(*) Herculano Costa é jornalista e escritor.
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