Brasil desperdiça quase 40% de sua água tratada em
rede de distribuição falha
Diante da mais grave crise
hídrica de toda a história do país, o debate sobre as alternativas emergenciais
já não exclui a hipótese de racionamento da oferta de água nas principais
regiões metropolitanas, a começar pela região Sudeste. Apelos por ajuda à
população também se multiplicam, assim como campanhas para que as pessoas
economizem água.
Cada gota de água poupada é
importante e gestos simples devem ser estimulados, como o fim de banhos
demorados e a suspensão da lavagem de calçadas e carros. É necessário lembrar,
porém, que os domicílios recebem apenas 10% da água coletada e tratada e que
estudos indicam um problema ainda maior: o alto índice de perda de água nas
próprias redes de distribuição, estimado em 37,5%, na média nacional.
Foi o que mostrou a edição de
dezembro de 2014 da revista Em
Discussão!, publicada pela Secretaria de Comunicação do Senado. O
desperdício de água já tratada representa uma perda de mais de R$ 10 bilhões
por ano, segundo estudo que resultou de parceria entre o Instituto Trata Brasil
e a Universidade de São Paulo (USP), publicado em março de 2013. Além de
agravar a escassez hídrica, essas perdas dificultam novos investimentos em
abastecimento e saneamento, limitando a oferta de serviços essenciais à
população.
A explicação, em boa parte, está
nas tubulações antigas e mal conservadas, por onde a água escorre sem controle.
Com desperdício tão elevado, as companhias acabam retirando do ambiente mais
água do que realmente a população necessita. Além disso, há roubos e ligações
clandestinas, ausência de medição ou medições incorretas, com impacto
considerável sobre o faturamento das empresas.
Combate ao desperdício
Eduardo Suplicy (PT-SP), que está
se despedindo do Senado agora em janeiro, considera inaceitável tanto
desperdício. Por isso, cobra investimentos de todos os governos no combate às
perdas físicas, por meio da troca de equipamentos, tubulações, hidrômetros e válvulas
e redutores de pressão. Além disso, pede a execução de permanente varredura
atrás de fraudes, com uso de equipamentos de alta tecnologia.
Segundo estratégia traçada pela
Agência Nacional de Águas (ANA), na publicação Atlas
Brasil — abastecimento urbano de água, todos os municípios teriam
condições de reduzir as perdas para patamar de 30% até 2025. Para que essa meta
possa ser alcançada, o órgão defende a aplicação de R$ 834 milhões em ações
diversas.
Com redução de apenas 10% nas
perdas, as operadoras já agregariam R$ 1,3 bilhão anuais às suas receitas. É o
que indica o estudo do Instituto Trata Brasil e da USP, intitulado Perdas
de Água: entraves ao avanço do saneamento básico e riscos de agravamento à
escassez hídrica no Brasil.
"As perdas fazem com que
mais água tenha que ser retirada da natureza para cobrir a ineficiência. É
preciso que governo federal, governadores e prefeitos lutem por reduções de
perdas desafiadoras, pois certamente resultarão em recursos financeiros para
levar água potável e esgotamento sanitário a quem não tem", avalia Édison
Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil.
Ação parlamentar
A preocupação com a ameaça de
racionamento e a redução da disponibilidade mesmo em médias e pequenas cidades
vem mobilizando a atenção dos senadores em diferentes frentes. Em 2014, os
parlamentares realizaram audiências para ouvir especialistas e dirigentes
públicos. Também avançaram na votação de propostas legislativas que ajudam a
promover o uso racional de recursos hídricos.
Como alternativa para diminuir o
uso de água tratada, um dos projetos, o PLS 112/2013, torna obrigatória a coleta, o armazenamento e
o uso de águas pluviais para irrigar áreas verdes e lavar calçadas, com
previsão de estrutura adequada nos novos condomínios residenciais e comerciais,
hospitais e escolas.
O texto do senador João Durval
(PDT-BA), que também encerra seu mandato neste mês, ainda sugere
incentivos tarifários para que condomínios e domicílios individuais adotem
medidas com o fim de acabar com vazamentos e instalem dispositivos que
economizam água, como vasos sanitários com descarga reduzida.
O projeto já passou pelas
Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Assuntos Sociais (CAS). Agora,
aguarda deliberação da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e
Fiscalização e Controle (CMA), onde será votado em decisão terminativa.
Não se pode esperar, contudo,
resultados imediatos de quaisquer das soluções cogitadas, como a diminuição do
desperdício nas redes de distribuição. Assim, a atual crise hídrica, que também
afeta a produção energética, baseada majoritariamente em fontes hidráulicas,
poderá exigir esforços de adaptação inéditos para a maioria dos brasileiros, à
exceção dos nordestinos, já familiarizados à escassez de água.
Fonte: Agência Senado de Notícias
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