LACERDINHA
Por Inocêncio
Nóbrega (*)
Não emplacou a invocação de dois
pensadores, Karl Marx e Friedrich Engels, requerida por Maurício Lacerda, na
designação do nome de seu filho, Carlos Frederico Werneck Lacerda, que passada
a adolescência optou pelo mundo imperialista. Repórter, no Estado Novo e na
Democracia se insurgiu contra Getúlio Vargas. Foi mais além, usando a imprensa,
fez sérias restrições ao governo de Janio Quadros, fulminando-o em seguida,
justamente este quando inaugurava nova política externa, de autodeterminação
dos povos. Compondo-se com os três ministros militares, rejeitou a posse do
vice-presidente João Goulart. Atacava a todos, deixando clara sua trama
golpista, vitoriosa em 1964.
Se no Rio de
Janeiro, onde se fez governador e carbonário tribuno, ganhou o apelido de
“Corvo”, emprestado por um de seus figadais inimigos, jorn. Samuel Werner. Pelo
menos no nordeste os exóticos insetos tripés, de coloração preta, o
homenagearam por “lacerdinhas”. Em bando,
promoviam a bioinvasão, onde encontrassem pés de fícus na região, aí instalando
seu habitat. Era a plena época das
atividades conspiratórias de Lacerda.
Causavam incômodos às pessoas, não poupando ambientes, nem trajes
requintados e udenistas de carteirinha. O talentoso colunista gaúcho, Juremir Machado,
em sucessivos artigos vem retomando o termo para rotular os atuais doutrinadores
do controvertido político de “um tipo que defende a democracia, mas está
disposto apoiar ditaduras de direita”, que nas passeatas combate a corrução,
porém admite a sonegação.
Há os
lacerdinhas, da mídia: O Cruzeiro, Trib. da Imprensa, O Globo, Folha de S.
Paulo, O Estadão, Veja; David Nasser, A. Chateaubriand, Paulo Francis;
parlamentares: Aloysio Nunes, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Agripino Maia, J.
Bassonaro. Lacerdinhas, retrógrados e raivosos, que não falam, mas dispõem de
contas secretas na Suiça; que tumultuam, pregam a dissolução de um mandato, legítimo
e legal, ou usam do preconceito contra os negros e nordestinos. Agem, tal como
Lacerda na televisão, às vésperas da renúncia de Jânio. Nas considerações do então ministro Pedroso
Horta: “um ato de novela pessoal”.
O povo não
está disposto aceitar à desfolhagem democrática. Início de março de 1964,
Lacerda programou uma visita à J. Pessoa, visando aglutinar correligionários
locais ao golpe, que se avizinhava. Não teve sucesso, entrincheirados na
Faculdade de Direito estudantes e trabalhadores rechaçaram a incômoda presença.
A poucos metros, a Assembléia Legislativa, no último dia 10 de abril, a
audiência pública cedeu ante às manifestações populares, impedindo a fala do
presidente da Câmara dos Deputados, que vinha debater sobre a reforma política
e Pacto Federativo. Sandices políticas e projetos polêmicos ocasionaram o
tumulto, em terras do Négo.
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor (inocnf@gmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário