terça-feira, 28 de abril de 2015

Opinião - Artigo

LACERDINHA
   Por Inocêncio Nóbrega (*)
         Não emplacou a invocação de dois pensadores, Karl Marx e Friedrich Engels, requerida por Maurício Lacerda, na designação do nome de seu filho, Carlos Frederico Werneck Lacerda, que passada a adolescência optou pelo mundo imperialista. Repórter, no Estado Novo e na Democracia se insurgiu contra Getúlio Vargas. Foi mais além, usando a imprensa, fez sérias restrições ao governo de Janio Quadros, fulminando-o em seguida, justamente este quando inaugurava nova política externa, de autodeterminação dos povos. Compondo-se com os três ministros militares, rejeitou a posse do vice-presidente João Goulart. Atacava a todos, deixando clara sua trama golpista, vitoriosa em 1964.
            Se no Rio de Janeiro, onde se fez governador e carbonário tribuno, ganhou o apelido de “Corvo”, emprestado por um de seus figadais inimigos, jorn. Samuel Werner. Pelo menos no nordeste os exóticos insetos tripés, de coloração preta, o homenagearam por “lacerdinhas”.  Em bando, promoviam a bioinvasão, onde encontrassem pés de fícus na região, aí instalando seu habitat. Era a plena época das atividades conspiratórias de Lacerda.  Causavam incômodos às pessoas, não poupando ambientes, nem trajes requintados e udenistas de carteirinha.  O talentoso colunista gaúcho, Juremir Machado, em sucessivos artigos vem retomando o termo para rotular os atuais doutrinadores do controvertido político de “um tipo que defende a democracia, mas está disposto apoiar ditaduras de direita”, que nas passeatas combate a corrução, porém admite a sonegação.
            Há os lacerdinhas, da mídia: O Cruzeiro, Trib. da Imprensa, O Globo, Folha de S. Paulo, O Estadão, Veja; David Nasser, A. Chateaubriand, Paulo Francis; parlamentares: Aloysio Nunes, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Agripino Maia, J. Bassonaro. Lacerdinhas, retrógrados e raivosos, que não falam, mas dispõem de contas secretas na Suiça; que tumultuam, pregam a dissolução de um mandato, legítimo e legal, ou usam do preconceito contra os negros e nordestinos. Agem, tal como Lacerda na televisão, às vésperas da renúncia de Jânio.  Nas considerações do então ministro Pedroso Horta: “um ato de novela pessoal”.
            O povo não está disposto aceitar à desfolhagem democrática. Início de março de 1964, Lacerda programou uma visita à J. Pessoa, visando aglutinar correligionários locais ao golpe, que se avizinhava. Não teve sucesso, entrincheirados na Faculdade de Direito estudantes e trabalhadores rechaçaram a incômoda presença. A poucos metros, a Assembléia Legislativa, no último dia 10 de abril, a audiência pública cedeu ante às manifestações populares, impedindo a fala do presidente da Câmara dos Deputados, que vinha debater sobre a reforma política e Pacto Federativo. Sandices políticas e projetos polêmicos ocasionaram o tumulto, em terras do Négo.
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor (inocnf@gmail.com)   

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