domingo, 24 de maio de 2015

Opinião - Artigo

Belchior, 39 Anos de alucinação
Por Khalil Gibran (*) 
Era agosto de 1971, quando Uma Canção "Na Hora do Almoço" venceria o IV Festival Universitário de Música Brasileira, promovido pela TV Tupi do Rio de Janeiro. A música seria a primeira de muitas do cantor e compositor cearense Belchior, que ficariam conhecidas por gerações e gerações de brasileiros.
Nascido na cidade de Sobral, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou Simplesmente Belchior, teve uma  infância simples, de menino do interior, Como ele próprio gosta de descrever, porem, a Sobral da era de sua meninice numa cidade repleta de sons, cores e poesia, que iluminariam seu imaginário por toda a sua trajetória. Alguns deles, dentro da sua própria família, como de seu pai, que tocava sax e flauta, e de sua mãe que, cantava sem coro da Igreja local.
Belchior conta que havia na cidade uma Rádio que se espalhava por de todos os cantos, através das então conhecidas radiadoras (alto-falantes cônicos que lembravam um megafone e eram usados ​​para propagar o som pela cidade). Além disso, Bel, como gosto de me referir ao poeta, adorava admirar as pinturas das Igrejas (há muitas delas em Sobral) e correr atrás das bandas de música, grupos musicais tradicionais no Nordeste, compostos por sopros e percussão, que ainda resistem ao tempo nas cidades do interior.
Mudando-se para Fortaleza a  fim de continuar seus estudos, o artista acabou por ingressar no Liceu do Ceará, de onde sairia para um mosteiro, em Guaramiranga - CE, e de lá para uma Faculdade de Medicina, em Fortaleza. Somente por essa época, Belchior teria contato com o movimento artístico de que efervescia na Cidade e de onde sairiam nomes como: Fausto Nilo, Fagner, Ednardo, Rodger, Cirino e outros tantos. E foi ali, com aquele grupo de novos amigos, que ele viu pela primeira vez uma possibilidade de compartilhar sua arte com outros colegas.
Em meio à criativa boemia fortalezense do início dos anos 70, o jovem cantor resolveu largar a faculdade de Medicina e encarar na "vida de artista", Mudando-se para o Rio de Janeiro em 1971. quando venceu o supracitado Festival Universitário, teve compactos lançados em 1971 e 1973, e em 1972, sua canção "Mucuripe", em parceria com Fagner, foi lançada por Elis num compacto. Seu primeiro Long Play, Mote e Glosa, no entanto, só seria lançado em 1974.
Apesar das conquistas, o nome de Belchior só ganharia grande notoriedade com o lançamento de Falso Brilhante, em 1976, disco antológico de Elis Regina em que ela interpretava, de forma visceral, "Velha Roupa Colorida" e "Como nossos pais". Esse foi o LP mais importante da carreira de Elis, um registro em estúdio de parte do repertório do seu espetáculo musical de maior repercussão.

Com o sucesso das composições de Belchior na voz de Elis Regina, a Polygran lançaria, em agosto de 1976, o disco que viria a ser um dos mais importantes de todos os tempos, para a música brasileira, e após 39 anos, Alucinação, de Belchior, ainda ecoam  várias canções por rádios, TV's, shows, mostras e regravações em todas as partes do Brasil. Canções como "A Palo Seco", "Apenas Um Rapaz Latino Americano", "Como Nossos Pais", "Fotografia 3x4" e "Alucinação", e todo o restante do disco, se tornariam verdadeiros hinos entoados, nos shows de Belchior por toda a sua carreira.
Sem sombra de dúvidas, Belchior é um dos maiores compositores de todos os momentos da nossa Música Popular, as sutilezas poéticas de sua obra são encantadoras, emocionam e gozam de uma liberdade que, de por vezes, podem ser comparadas às genialidades de Fernando Pessoa e Bob Dylan.
Se Bel queria mesmo que seus versos, feito faca, cortassem a nossa carne, ele conseguiu. Porque "A Juventude do Nosso Coração é Perversa" e nos faz sofrer, perceber que "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Nesse mundo, é difícil não querer o que a cabeça pensa, querer o que a alma deseja, e enxergar que "a vida inteira está em frente naquela estrada, ali em frente".
Resta-nos saber "quais versos Belchior ainda nos guarda nas dobras blusão". Que discotecas tem ouvido? Com que pessoas tem conversado?
Ele é "Apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior", mas soube compreender e cantar, como poucos a nossa solidão, o nosso som, a nossa fúria e a nossa "Pressa de Viver ".
Viva, Belchior!
Publicado em www.brasil24 / 7, em 23/05/2015, Ilustração fotográfico do blog, em 24/05/2015
(*) -  Khalil Gibran é Articulista

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