DESTINO MANIFESTO
Inocêncio Nóbrega (*)
Na
presidência, em 1823, James Monroe anunciou a posição dos EUA de não tolerar
qualquer intervencionismo nas Américas, por parte da Europa. O Brasil
beneficiou-se dessa expressão, pois no ano seguinte se constituíram no primeiro
país a reconhecer nossa independência. Essa manifesta vontade de defesa passou a ter
uma postura expansionista, inicialmente no seu próprio território, logo
evoluindo aos países latino-americanos, com pretensões econômicas e políticas. Surgia,
pois, a doutrina “Destino Manifesto” (Manifest Destiny), para justificar o
princípio da prosperidade. Essa
ideologia, entretanto, é resultado do puritanismo protestante, que grupos
religiosos ingleses, chegados no Sec. XVII no Novo Mundo do norte, invocando
falsa proteção divina, pregavam uma colonização livre, na geração de aglomerados
humanos e democráticos, longe do despotismo e conflitos entre religiões,
deixados em suas origens.
O
Destino Manifesto materializou-se, entretanto, nas ações imperialistas
estadunidenses. Ainda pensam conduzir sozinho o mundo, ou outros o fariam. Instrumentalizaram, nessa nova linha
ideológica, a extinção de nações indígenas, além de alimentarem um sentimento
de superioridade diante dos povos, especialmente gerados na América Latina, que
a considerava seu quintal.
Os
efeitos dessas doutrinas nasceram muito mais trágicos do que hoje. Suas intervenções
políticas e militares no nosso Continente foram freqüentes e descabidas,
traduzidas nos sucessivos golpes de estado, em nome dos seus deuses da
terra, cultuados sob o espírito mercantilista e imagens de suas
empresas. O Brasil foi vítima dessa intromissão, quando João
Goulart acenava com o controle da remessa de lucros das multinacionais,
porém Guatemala, em junho de1954, ante o invasor operacionalizado pela CIA, teve seu presidente, Jacobo Arbenz Guzman, legitimamente eleito, substituído por seis
décadas de governos títeres, na proteção
da “United Fruit Company”. Nesse período, 250 mil guatemaltecos foram mortos. Aparentemente
restabelecida a democracia, o general Fernando Otto Perez administra, nesse
pequeno chão da América Central, os mesmos interesses externos. No momento, as
comunidades indígenas e camponesas enfrentam, em sua área, projetos de 14
unidades mineradoras, petrolíferos e hidrelétricos, ocasionando distúrbios
sociais de grande monta. A “Kappes, Cassiday & Associates”, de capital
norte-americano e canadense, tem ao seu dispor força policial suficiente para destruir
cinco povoados, onde está instalada a “Resistência Pacífica de La Puya”. Seria
essa intenção dos peregrinos do Mayflower?
(*) - Inocência Nóbrega é Jornalista, articulista e escritor (inocnf@gmail.com)
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