quinta-feira, 4 de junho de 2015

Opinião - Artigo

DESTINO MANIFESTO
Inocêncio Nóbrega (*)
                Na presidência, em 1823, James Monroe anunciou a posição dos EUA de não tolerar qualquer intervencionismo nas Américas, por parte da Europa. O Brasil beneficiou-se dessa expressão, pois no ano seguinte se constituíram no primeiro país a reconhecer nossa independência.  Essa manifesta vontade de defesa passou a ter uma postura expansionista, inicialmente no seu próprio território, logo evoluindo aos países latino-americanos, com pretensões econômicas e políticas. Surgia, pois, a doutrina “Destino Manifesto” (Manifest Destiny), para justificar o princípio da prosperidade.  Essa ideologia, entretanto, é resultado do puritanismo protestante, que grupos religiosos ingleses, chegados no Sec. XVII no Novo Mundo do norte, invocando falsa proteção divina, pregavam uma colonização livre, na geração de aglomerados humanos e democráticos, longe do despotismo e conflitos entre religiões, deixados em suas origens.
                O Destino Manifesto materializou-se, entretanto, nas ações imperialistas estadunidenses. Ainda pensam conduzir sozinho o mundo, ou outros o fariam.  Instrumentalizaram, nessa nova linha ideológica, a extinção de nações indígenas, além de alimentarem um sentimento de superioridade diante dos povos, especialmente gerados na América Latina, que a considerava seu quintal.
                Os efeitos dessas doutrinas nasceram muito mais trágicos do que hoje. Suas intervenções políticas e militares no nosso Continente foram freqüentes e descabidas, traduzidas nos sucessivos golpes de estado, em nome dos seus deuses da terra,  cultuados sob o  espírito mercantilista e imagens de suas empresas.  O Brasil  foi vítima dessa intromissão, quando João Goulart acenava com o controle da remessa de lucros das multinacionais, porém  Guatemala, em junho de1954, ante  o invasor operacionalizado pela CIA,  teve seu presidente, Jacobo Arbenz Guzman,  legitimamente eleito, substituído por seis décadas de governos títeres,  na proteção da “United Fruit Company”. Nesse período, 250 mil guatemaltecos foram mortos. Aparentemente restabelecida a democracia, o general Fernando Otto Perez administra, nesse pequeno chão da América Central, os mesmos interesses externos. No momento, as comunidades indígenas e camponesas enfrentam, em sua área, projetos de 14 unidades mineradoras, petrolíferos e hidrelétricos, ocasionando distúrbios sociais de grande monta. A “Kappes, Cassiday & Associates”, de capital norte-americano e canadense, tem ao seu dispor força policial suficiente para destruir cinco povoados, onde está instalada a “Resistência Pacífica de La Puya”. Seria essa intenção dos peregrinos do Mayflower?
(*) - Inocência Nóbrega é Jornalista, articulista e escritor (inocnf@gmail.com)    

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