Quando a elite pedira o
afastamento de Cunha?
Apesar de acusado de se
beneficiar em esquemas de corrupção e recebimento de lucros indevidos, o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), continua firme no cargo e, ainda
mais surpreendente, com o apoio de setores da mídia e da oposição em suas ações
contra o governo – seja em defesa do impeachment contra a presidente Dilma
Rousseff, seja contra medidas que procuram regularizar a situação fiscal do
País. A pergunta que fica é: até quando este apoio será mantido?
É quase certo que o peemedebista
se tornará réu no Supremo Tribunal Federal, que deverá aceitar a denúncia
contra ele feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por
suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava
Jato. De acordo com Janot, Cunha recebeu ao menos US$ 5 milhões em propina no
esquema de corrupção da Petrobras.
Além do STF, outra investigação
contra Cunha corre na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão vinculado ao
ministério da Fazenda, por suposto lucro indevido de R$ 900 mil em fundo de
pensão. Questionado sobre o tema nessa semana, o parlamentar não quis comentar,
alegando se tratar de "coisa muito antiga", que nem se lembrava mais.
Nesta quarta-feira 30, para
somar-se ao currículo de Cunha, veio à tona a notícia de que a Suíça também
investiga o deputado pelos crimes de corrupção e lavagem. As suspeitas –
confirmadas na última sexta-feira pelo depoimento de João Augusto Rezende
Henriques, delator na Lava Jato – são de que o presidente da Câmara recebeu
propina em troca de informação privilegiada concedida para a venda de um campo
de petróleo no Benin, na África, para a Petrobras.
Mesmo estando no alvo, Cunha decidiu
hoje se vingar do País. Com uma manobra, obstruiu uma sessão que analisaria
vetos presidenciais contra propostas que prejudicam o ajuste fiscal. A
manutenção dos vetos daria fôlego ao governo e tranquilizaria o mercado e os
agentes econômicos, na avaliação do Planalto. Afinal, apenas o veto do reajuste
dos servidores do Judiciário evitaria gastos na ordem de R$ 37 bilhões até
2019. Enquanto se aprovado, o reajuste praticamente anularia os cortes que o
Executivo vem anunciando.
Cunha impôs uma condição para
atender a vontade do governo: colocar na pauta um veto específico, formalizado
ontem por Dilma, que proibiu o financiamento empresarial de campanhas. Com o
gesto, foi chamado de "chantagista" por alguns parlamentares. Mas
recebeu o apoio da oposição, que exigiu do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), um calendário para acelerar a votação da Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 113/15, que trata de financiamento de empresas para
partidos e campanhas políticas. A proposta já foi aprovada pelos deputados e
está parada no Senado.
"Queremos a fixação de um
calendário de votação da PEC e, depois desse calendário definido, podemos
pactuar também a agenda de votação da sessão do Congresso. A gente tem de fazer
com que as duas partes possam recuar. O impasse não interessa. Precisamos
avançar na apreciação dos vetos e definir a questão do financiamento de
campanha", disse o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE).
"É imprescindível que o
presidente do Senado ponha em votação a PEC que está literalmente engavetada no
Senado para que possamos definir se vai haver financiamento privado no
país", disse outro líder, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Renan
disse, no entanto, que para atender os deputados é preciso um acordo de
procedimentos com os senadores para que haja a quebra dos interstícios
previstos pelo regimento interno da Casa. Ele marcou então uma nova sessão
conjunta para análise dos vetos na próxima terça-feira.
Primeiros a defender o
afastamento da presidente Dilma do poder, mesmo não havendo provas de que tenha
cometido algum crime, os líderes da oposição têm comportamento contrário quando
se trata de Eduardo Cunha. Prestes a se tornar réu na corte Suprema do País e
já investigado na Suíça e pela CVM por ter se beneficiado por meio de corrupção,
o peemedebista é apoiado pela oposição golpista e moralista. Onde foi parar a
indignação desses políticos e da imprensa quando se trata do presidente da
Câmara?
De: Brasília 247, publicado em 30/09/2015
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