Por Gleisi Hoffmann (*)
Não é de hoje que o programa
Bolsa Família sofre ataques. Quando foi lançado dizia-se que era o bolsa esmola
e incentivo para a vagabundagem; as críticas mais à esquerda diziam que era
paternalismo, programa compensatório.
No auge do governo Lula, quando
ele tinha quase 90% de popularidade, o Bolsa Família foi politicamente
disputado a tapas. O PSDB jurava que a iniciativa era sua, da gestão FHC, que
tinha iniciado o projeto piloto. Os radicais de esquerda começaram a defendê-lo
como um grande feito social, que minimamente combatia a desigualdade.
Agora, com as necessidades de
ajustes ao orçamento, o programa sofre novos ataques. Desta feita, o relator
geral do Orçamento da União, deputado Ricardo Barros, do PP do nosso Estado,
propõe cortar R$ 10 bilhões do programa com a desculpa de equilíbrio fiscal e
de que "todos" têm de dar sua contribuição. Mas o relator não propõe
cortar as emendas parlamentares, ou o Fundo Partidário. Muito pelo contrário,
neste caso ele propõe aumento.
Setores mais conservadores,
inclusive do nosso Paraná, aplaudem a iniciativa. Ato contínuo, o governador
Beto Richa, que nunca tem posicionamento firme e convicto sobre qualquer
assunto, anunciou que cortaria pela metade o Programa Família Paranaense, ação
da qual se gabava por complementar o Bolsa Família no Estado em
"expressivos" R$ 10,00. Vamos lembrar que este "programa"
do Paraná foi uma das vitrines de sua campanha à reeleição! Será que mantém o
intento ou recua, por medo de pressão, como fez no caso de fechamento de
escolas?
Descompromisso do governo
paranaense à parte, o fato é que o Bolsa Família, um dos programas mais bem
sucedidos no mundo para o enfrentamento à pobreza no curto prazo, está na mira
daqueles que nunca passaram necessidade na vida, que acham que o direito a
comer pode ser negociado para recuperar a economia!
O Brasil só saiu do mapa da
miséria e da fome, e pela primeira vez forma uma geração sem fome no Brasil,
porque um homem pobre, sofrido pela fome, operário metalúrgico, assumiu o
comando do país. Só quem sentiu a dor da fome, como Lula, tem sensibilidade
para garantir um programa de renda mínima, que assegure ao menos três refeições
ao dia. Isso é o mínimo que um desenvolvimento econômico decente pode
pretender.
Só no Paraná, um Estado
considerado com boa renda percapita, se o Bolsa Família sofrer este corte,
1.078.611 pessoas deixarão de ser beneficiadas. 223.418 pessoas entrarão na
pobreza extrema e, dessas, 114.487 têm até 17 anos de idade. Nosso Estado
deixará de receber R$ 683.676.120,00. Não são pequenas as consequências dessa
proposta.
Pela dimensão que tem, o Bolsa
Família é um programa barato. Comparado a contas de juros, então, é quase uma
ninharia. Será que temos de fazer um ajuste em cima dos mais pobres, dos mais
sofridos. Se isso era comum no Brasil antes de Lula e Dilma, agora não é mais.
Vamos resistir, apesar de todo preconceito e visão distorcida que tem parcela
da população e o relator geral do Orçamento.
Sou descendente de alemães, parte
de meus ascendentes veio da Alemanha pós-guerra. Trabalharam muito aqui,
sofreram, alguns morreram antes de realizar seu propósito. Acredito que se
tivessem uma oportunidade mínima não teriam deixado seu país. Sei que a guerra
é devastadora, mas a fome e a miséria também são. Falo isso porque avalio que
setores da sociedade paranaense que se colocam contra o Bolsa Família, não têm
esse direito, em nome de seus antepassados, que poderiam ter tido uma vida
melhor, com mais oportunidade!
(*) - Gleisi Hoffmann é Senadora da República pelo PT (PR)
Nenhum comentário:
Postar um comentário