Tereza Campello diz que
impeachment resultará no retrocesso de políticas sociais
Para a ministra, o debate sobre o futuro depende de não
interromper o presente
(Foto: Elza Fiuza/Arquivo/Agencia Brasil)
A ministra do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, Tereza Campello, disse hoje (30) que as políticas
sociais implementadas pelo governo correm risco de retroceder caso as forças
políticas a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff atinjam
o objetivo.
“Não é apenas uma questão de golpe, mas de
interromper um projeto que está em curso há 13 anos”, alertou a ministra,
durante a reunião plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea), quando foram apresentados resultados do 1º Plano Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan). Segundo o levantamento, entre
2004 e 2014 a taxa de pobreza caiu de 22,3% para 7,3%.
As regiões que tiveram melhor
desempenho foram o Nordeste, onde o percentual de pessoas vivendo na pobreza
caiu de 42,3% para 15%, e o Norte, que, no mesmo período, apresentou uma queda
de 30,4% para 13%. Já o percentual dos que se encontravam em situação de
extrema pobreza caiu, entre 2009 e 2014, de 7,6% para 2,8%.
O Nordeste também foi o mais
beneficiado nesse quesito, com uma redução de 16,5% para 5,7% no período. Ainda
segundo o balanço, entre 2013 e 2014 a renda média domiciliar per
capita aumentou 2,4% no Brasil – percentual que chega a 6,2% se o recorte
abranger a camada 10% mais pobre do país.
“Estamos vivendo um momento em
que está em jogo essa política. O risco é de vivermos retrocesso [caso haja
impedimento da presidenta Dilma]”, afirmou a ministra.
“Nesse sentido, o debate sobre o futuro
depende de não interrompermos o presente. Imagina o que seria o país hoje se
não tivessem interrompido o conjunto de reformas que estava em curso em 1964
com o [ex-presidente] Jango. É isso o que está sendo colocado hoje e aqui”,
destacou a ministra. “Não se pode jogar a democracia no lixo, como estão
querendo fazer”, acrescentou.
Apesar da preocupação, Tereza
Campello disse não acreditar que a presidenta seja afastada do cargo, mas
ressaltou a relevância que as entidades participantes do Consea terão para
evitar o "golpe".
“Acho que não conseguirão
emplacar o golpe, porque há vários setores democráticos que sabem o que está em
jogo. Quanto mais escancarada for essa tentativa de golpe, maior será o apoio à
democracia. Temos inclusive apoio internacional.”
De acordo com a ministra, o
Consea – que não é apenas um conselho setorial e abrange entidades das mais
diversas áreas, como nutrição, medicina, quilombolas, indígenas, mulheres em
ambientes rurais e urbanos, indústrias, entre outros – será muito importante,
"porque o que estão tentando fazer não é apenas desindexar a economia. É
desvincular o orçamento e nós temos políticas continuadas sendo implementadas
no país. Não dá para mudar a cada ano.”
Tereza Campello elogiou a
“corajosa nota” divulgada durante o evento pelo Consea, manifestando
compromisso com a legalidade democrática e “repudiando com veemência as
investidas que visam à desestabilização política do país”.
A ministra criticou
duramente a campanha da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
pedindo o impeachment de Dilma, inclusive por meio de “campanhas
publicitárias milionárias” nos principais jornais do país.
“Contei 14 páginas de anúncios
pedindo impeachment em cada um dos principais jornais [de circulação
nacional], todos pagos pela Fiesp. Na verdade, isso foi pago pelo grande
capital e deixa claro o que está acontecendo, além de nos permitir ter uma
ideia dos votos que eles estão querendo comprar. É isso o que está sendo
financiado neste país. As fraturas da sociedade estão aberta, pedindo que nos
posicionemos em defesa da democracia e de um projeto”, argumentou a ministra.
Segundo ela, as eleições
terminaram em 2014, mas o embate continua. "Se alguém tem de ser
questionado é justamente quem está liderando o processo de impeachment,
que é o presidente da Câmara. Precisamos nos mobilizar não só para a
manifestação de amanhã (31) em favor da democracia, mas para cobrar o
posicionamento dos deputados para que se manifestem contra o golpe",
completou, pouco antes de os integrantes do Consea darem início ao grito de
guerra: "Não vai ter golpe, vai ter luta".
Ainda durante a plenária do
Consea, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
lançou o livro Superação da Fome e da Pobreza Rural: Iniciativas
Brasileiras, publicação que apresenta as principais experiências do Brasil de
combate à fome e à miséria. Foi por meio dessas iniciativas que, em 2014, o
Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome da ONU. O livro já conta com uma versão em
espanhol, lançada este mês durante a última Conferência Regional da FAO no
México.
De Brasília, Pedro
Peduzzi - Repórter da Agência Brasil, 30/03/2016, às 15h28
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