Outro agosto
Por Emir Sader (*)
Não há argumento jurídico algum
para o impeachment. A vergonhosa votação na Câmara já havia mostrado, o parecer
da comissão do Senado o confirma. Trata-se de uma continuação da disputa
política eleitoral perdida pela oposição, por outros meios, antidemocráticos,
ilegítimos.
A votação do impeachment no
Senado vai ganhando contornos de decisão sobre o futuro do país, sobre o Brasil
que queremos. Não há argumentos para o impeachment, os votos têm sido votos
políticos contra o governo da Dilma. O governo, mesmo interino, de Michel
Temer, revela que não se trata de uma mudança institucional por uma
circunstância jurídica a dirimir, mas de uma virada para um outro tipo de país.
É uma decisão política entre dois
projetos de país: o que foi escolhido pelo povo, mediante eleições democráticas,
em 2002, 2006, 2010 e 2014. E o que foi implementado nos anos 1990, fracassou e
foi sucessivamente derrotado nas quatro eleições seguintes.
É isso o que se decide em agosto
no Senado. Quem está a favor da retomada do desenvolvimento com distribuição de
renda e quem é favorável à brutal expropriação de direitos da grande maioria, à
alienação de patrimônio público pela privatização, aos gigantescos cortes dos
recursos para as políticas sociais. Quem está a favor de um governo entregue
nas mãos dos banqueiros e dos políticos mais corruptos.
Conforme a opção vencedora, o
futuro do Brasil será mais democrático ou menos democrático. Mais inclusivo ou
de maior exclusão social. De menor ou maior desigualdade. Vai ser um país nas
mãos dos políticos mais corruptos e dos banqueiros ou nas mãos de uma política
que atende os interesses de todos.
Houve um agosto, em 1954, em que
Getúlio se imolou para impedir o golpe, conseguindo adiá-lo por 10 anos. Houve
um agosto, de 1961, de renúncia de um salvador da pátria, um blefe da direita
para tirar a esquerda do governo.
Agosto de 2016 será a confirmação
do vigor e da resistência da democracia, do respeito à vontade da maioria, ou
será a fatídica data de um novo golpe, que se somará ao de primeiro de abril de
1964.
(*) - Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
Comentário publicado em 28/06/2016, em Brasil 247.
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