DIÁRIO
DE PERNAMBUCO
Inocêncio Nóbrega (*)
O segundo mais antigo jornal, ora em circulação na América
Latina, “El Mercurio”, surgiu em Valparaíso, Chile, a 12 de setembro de 1827. À
semelhança de seu título sucede ao “El Mercurio de Chile”, que dava cobertura
aos acontecimentos políticos pela independência do Brasil. Havia, também, “Le
Aurora” e “Gaceta Ministerial”, aquele dirigido por Camilo Henriquez.
No
Brasil, dois anos antes, 7 de novembro de 1825, menos aos domingos já percorria
nas ruas de Recife e Olinda o “Diário de Pernambuco”. Ele é, sem dúvida, o mais
vetusto órgão de imprensa a correr no nosso Continente, além da capital
pernambucana as principais cidades do nordeste, consigo trazendo a
respeitabilidade e experiência na condição de testemunha ocular de conturbados
períodos da nossa história, inclusive de parte do Império. Quando veio à lume,
numa segunda-feira, dia de S. Florêncio, em quatro páginas, duas colunas,
editado que era na “Typographia Miranda & Companhia”, de seu próprio
idealizador, Antonio José de Miranda Falcão, o número inaugural, vendido ao
preço de 10 réis, dizia de sua destinação: cobrir a movimentação diária das
entradas e saídas das embarcações, negócios comerciais e imobiliários de
compras e vendas, leilões, roubos, perdas, viagens e avisos.
No
meu livro, “Independência! No Grito e na Raça”, trago o registro desse
lançamento, feito por um periodista, em espanhol, referindo-se à “publicación
brasileña que llega hasta nuestros dias”. Interessante a percepção de seu
idealizador, de que o porto recifense dividia com o do Maranhão a exportação de
produtos dos sertões cearenses: sal, couraças, algodão, que se acumulava com de
outras regiões, a exemplo do açúcar, recebendo,
por outro lado, escravos africanos.
Normalmente voltavam com, cristais, louças, pratarias, porcelanas “made in
england”, móveis do melhor estilo europeu, além de outras quinquilharias, para
satisfação da sociedade burguesa. Mudou-se, com o decorrer dos tempos, sua
trajetória, ao se incorporar, decididamente, à causa libertária, rendendo ao
Miranda Falcão vários processos judiciais.
Oito
gerações de abnegados profissionais, durante 19 décadas, se envolveram nesse
constante desafio de levar, com seriedade, informações e cultura, inicialmente a
uma população de 25 mil habitantes. Recentemente falecido poeta maranhense,
Ferreira Gullar, foi um dos seus mais proeminentes articulistas, assim como
tantos outros, de todos os estados de sua influência. Assim, a história do DP
se confunde com a do jornalismo nacional. Não obstante pernambucano, a partir
de 1931 integrou-se à grande família dos Diários Associados, do saudoso
paraibano Assis Chateaubriand, onde ainda continua. Surpreendeu-me, todavia, que sua edição nº
310, de 07.11 deste ano, cujo exemplar
tenho em mãos, não trouxe, sequer, uma linha lembrando seu 191º aniversário.
Lamento essa perda de memória, que começa tomar conta de jovens
administradores, de ativos públicos ou privados, ainda mais em se tratando de
um patrimônio cultural como é o “Diário de Pernambuco”, ao qual rendo minhas
modestas homenagens, mesmo tardiamente.
(*) - Inocêncio Nóbrega é jornalista e escritor - inocnf@gmail.com. Em 30/12/2016
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