Quem matou Teori Zavascki...
Por Eduardo Guimarães (*)
Morreu nesta quinta-feira (19), aos 68 anos de
idade, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki após a queda
de uma aeronave em Paraty, litoral do Rio de Janeiro. A informação da morte foi
confirmada pelo seu filho Francisco Zavascki.
O Brasil e a humanidade devem lamentar a morte de
um homem honesto e corajoso que não teve medo de contrariar ninguém, nem gregos
nem troianos, ainda que tenha sido acusado de postergar decisões contra Eduardo
Cunha.
O avião no qual Teori foi acidentado era um Hawker
Beechcraft King Air C90 prefixo PR-SOM pertencente o grupo Emiliano
Empreendimentos.
Trata-se de um excelente avião. É o único bimotor
pequeno que o serviço secreto norte-americano autoriza o presidente dos Estados
Unidos a usar. E é muito improvável que um ministro do STF se metesse em um
avião em condições duvidosas de manutenção.
Zavascki era o relatar da Lava Jato no STF. Decidia
quem seria investigado ou não. Processado ou não. Condenava, absolvia, ainda
que sujeito a ter suas decisões alteradas pelo colegiado. Porém, sem andamento
de Teori, nada andava para políticos com foro privilegiado.
Antes que algum espertinho tente vender a tese de
que o PT está por trás de tudo isso, é bom que saibam que Lula não tem foro
privilegiado e, assim, não seria julgado pelo STF antes de passar por pelo
menos duas instâncias da Justiça comum.
Na verdade, os investigados pela Lava Jato que
estavam ameaçados pelo STF são justamente os que têm mandatos e ou cargos
públicos importantes, como deputados, senadores, presidente da República e
ministros de Estado.
Teori estava para homologar dezenas e dezenas de
acordos de delação premiada de funcionários da Odebrecht contra alvos que até
aqui não vinham sendo incomodados. Os nomes de tucanos graúdos apareceram
justamente nas delações da Odebrecht, mas o principal nome envolvido nas
delações que Teori iria analisar é o do presidente da República.
O nome do presidente Michel Temer aparece 43 vezes
no documento do acordo de delação premiada de Cláudio Melo Filho,
ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, é mencionado
45 vezes e Moreira Franco, secretário de Parceria e Investimentos do governo
Temer, 34.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, que pediu
demissão recentemente, surge em 67 trechos.
O líder do governo no Congresso, Romero Jucá
(PMDB-RR), apontado como o “homem de frente” das negociações da empreiteira no
Congresso, tem 105 menções no relato, um arquivo preliminar, ao qual a Folha
teve acesso, do que o ex-executivo vai dizer em depoimento às autoridades da
Lava Jato.
De acordo com Melo Filho, o presidente Temer atua
de forma “indireta” na arrecadação financeira do PMDB, mas teve papel
“relevante” em 2014, quando, segundo ele, pediu R$ 10 milhões a Marcelo
Odebrecht para a campanha eleitoral durante jantar no Palácio do Jaburu, em
maio de 2014.
Segundo o delator, Temer incumbiu Padilha de
operacionalizar pagamentos de campanha. O ministro, diz o ex-executivo, cuidou
da distribuição de R$ 4 milhões daqueles R$ 10 milhões: “Foi ele o
representante escolhido por Michel Temer –fato que demonstrava a confiança entre
os dois–, que recebeu e endereçou os pagamentos realizados a pretexto de
campanha solicitadas por Michel Temer. Este fato deixa claro seu peso político,
principalmente quando observado pela ótica do valor do pagamento realizado, na
ordem de R$ 4 milhões”.
“Chegamos no Palácio do Jaburu e fomos recebidos
por Eliseu Padilha. Como Michel Temer ainda não tinha chegado, ficamos
conversando amenidades em uma sala à direita de quem entra na residência pela
entrada principal. Acredito que esta sala é uma biblioteca”, disse o delator,
que conta detalhes do jantar.
“Após a chegada de Michel Temer, sentamos na
varanda em cadeiras de couro preto, com estrutura de alumínio. No jantar,
acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o
Vice-Presidente da República como presidente do referido partido político,
Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhões”,
diz.
“Claramente, o local escolhido para a reunião foi
uma opção simbólica voltada a dar mais peso ao pedido de repasse financeiro que
foi feito naquela ocasião. Inclusive, houve troca de e-mails nos quais Marcelo
se referiu à ajuda definida no jantar, fazendo referência a Temer como ‘MT'”,
ressalta o ex-executivo da Odebrecht.
Um dos endereços de entrega foi o escritório de
advocacia de José Yunes, atual assessor especial da Presidência da República.
Segundo o delator, “o atual presidente da República
também utilizava seus prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso
dos pagamentos que participei, operacionalizado via Eliseu Padilha”.
O delator disse que foi apresentado a Temer por
Geddel em agosto de 2005 na festa de aniversário de seu pai.
Ao se referir ao ministro Padilha, ele afirma que o
hoje ministro “atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que
muitas vezes fala em seu nome”, disse Melo Filho.
“Eliseu Padilha concentra as arrecadações
financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos”,
afirmou.
A relação entre os quatro caciques peemedebistas é
muito forte, segundo o delator, “o que confere peso aos pedidos formulados por
eles (ministros), pois se sabe que o pleito solicitado em contrapartida (pela
empresa) será atendido também por Michel Temer”.
“Geddel Vieira Lima também possui influência dentro
do grupo, interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca
de pagamentos”, disse o delator.
Melo Filho afirmou que defendia “vigorosamente” as
solicitações de pagamento feitas por Geddel junto à Odebrecht “como
retribuição” pelo fato de o ex-ministro lhe aproximar das outras lideranças.
Sobre Jucá, ele declarou que um “exemplo” da força
dele é “encontrado no fato de que o gabinete do Senador sempre foi concorrido e
frequentado por agentes privados interessados na sua atuação estratégica”.
Todos os citados têm negado qualquer irregularidade
na relação com a Odebrecht.
Políticos na mira da Odebrecht
Alguns dos citados em delação premiada de Cláudio
Melo Filho, ex-executivo da empreiteira
MICHEL TEMER Ex-executivo disse que parte de valor
prometido ao PMDB em 2014 foi entregue em dinheiro no escritório de José Yunes,
amigo do presidente
RENAN CALHEIROS (PMDB-AL) O presidente do Senado
recebeu o apelido de ‘Justiça’ na lista de codinomes da empreiteira
RODRIGO MAIA (DEM-RJ) Presidente da Câmara dos Deputados
teria recebido R$ 100 mil; seu codinome era ‘Botafogo’
ELISEU PADILHA (PMDB-RS) O ministro-chefe da Casa
Civil de Michel Temer seria o ‘Primo’ na lista da empreiteira baiana
MOREIRA FRANCO (PMDB-RJ) Secretário-executivo do
Programa de Parcerias de Investimentos, seria o ‘Angorá’ das planilhas
ROMERO JUCÁ (PMDB-RR) Senador e ex-ministro, seria
o ‘Caju’
EUNÍCIO OLIVEIRA (PMDB-CE) Senador, apelidado de
‘Índio’
GEDDEL VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Ex-ministro da
Secretaria de Governo, apelidado de ‘Babel’
EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ) Ex-presidente da Câmara e
ex-deputado, seria ‘Caranguejo’
JAQUES WAGNER (PT-BA) Ex-ministro-chefe da Casa
Civil de Dilma, seria o ‘Polo’*
DELCÍDIO DO AMARAL (ex-PT-MS) O ex-senador aparecia
nas planilhas como ‘Ferrari’
INALDO LEITÃO (PB) Ex-deputado, o ‘Todo Feio’ teria
recebido R$ 100 mil
AGRIPINO MAIA (DEM-RN) Empresa teria destinado ao
senador R$ 1 milhão
DUARTE NOGUEIRA (PSDB-SP) ‘Corredor’ aparece como
beneficiário de R$ 350 mil
LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Deputado, seria o
‘Bitelo’
FRANCISCO DORNELLES (PP-RJ) Vice-governador do Rio,
seria o ‘Velhinho’ nas planilhas
ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB) Prefeito de Manaus teria
recebido R$ 300 mil
CIRO NOGUEIRA (PP-PI) Senador seria o ‘Cerrado’
HERÁCLITO FORTES (PSB-PI) Deputado, seria o ‘Boca
Mole’ e teria recebido R$ 200 mil
GIM ARGELLO (DF) Ex-senador é o ‘Campari'; teria
faturado R$ 1,5 mi
PAES LANDIM (PTB-PI) Deputado, seria o ‘Decrépito’,
teria levado R$ 100 mil
ANDERSON DORNELLES Ex-braço direito de Dilma, seria
o ‘Las Vegas’
LÍDICE DA MATA (PSB-BA) Senadora, seria a ‘Feia';
teria recebido R$ 200 mil
JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA) Deputado teria
recebido R$ 300 mil e seria o ‘Missa’
Agora adivinhe, leitor, quem vai tomar o lugar do
falecido Teori. Um novo ministro do STF, indicado pelo presidente da República,
Michel Temer.
PS: Um dos principais investigadores da
Operação Lava Jato, o delegado federal Marcio Adriano Anselmo pediu
a investigação “a fundo” da morte do ministro Teori Zavascki na véspera da
homologação da colaboração premiada da Odebrecht. “Esse ‘acidente’ deve ser
investigado a fundo”, escreveu em sua página no Facebook, destacando a palavra
“acidente” entre aspas.
(*) - Eduardo Guimarães é jornalista, responsável pelo Blog da Cidadania, Artigo publicado em 20/01/17, em Brasil 247
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