Já hoje: 42ª fase prende Aldemir
Bendine, ex-presidente da Petrobras
Aldemir Bendine é ex-presidente da Petrobras
(Foto: Givaldo
Barbosa/Agência O Globo)
A pedido da força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná
(MPF/PR), a Justiça expediu e a Polícia cumpre, na manhã desta quinta-feira,
três mandados de prisão temporária e 11 de busca e apreensão em nova fase da
operação Lava-Jato. Os focos principais desta operação são Aldemir Bendine,
ex-presidente da Petrobras, e operadores financeiros suspeitos de
operacionalizarem o recebimento de R$ 3 milhões de reais em propinas pagas pela
Odebrecht em favor do próprio Bendine.
Além de ter sido presidente da Petrobras entre 6 de fevereiro de 2015 e
30 de maio de 2016, o principal alvo desta nova fase também esteve à frente do
Banco do Brasil entre 17 de abril de 2009 e 6 de fevereiro de 2015.
Há evidências indicando que, numa primeira oportunidade, um pedido de
propina no valor de R$ 17 milhões foi realizado por Aldemir Bendine à época em
que era presidente do Banco do Brasil, para viabilizar a rolagem de dívida de
um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial. Marcelo Odebrecht e Fernando
Reis, executivos da Odebrecht que celebraram acordo de colaboração premiada com
o Ministério Público, teriam negado o pedido de solicitação de propina porque
entenderam que Bendine não tinha capacidade de influenciar no contrato de
financiamento do Banco do Brasil.
Além disso, há provas apontando que, na véspera de assumir a presidência
da Petrobras, o que ocorreu em 6 de fevereiro de 2015, Aldemir Bendine e um de
seus operadores financeiros novamente solicitaram propina a Marcelo Odebrecht e
Fernando Reis. Desta vez, as indicações são de que o pedido foi feito para que
o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado na Petrobras, inclusive em
relação às consequências da Operação Lava Jato.
Em decorrência deste novo pedido e com receio de ser prejudicada na
estatal petrolífera, a Odebrecht, conforme depoimentos de colaboradores,
informações colhidas em busca e apreensão na 26ª fase da Lava Jato (operação
Xepa) e outras provas de corroboração, optou por pagar a propina de R$ 3
milhões. O valor foi repassado em três entregas em espécie, no valor de R$ 1
milhão cada, em São Paulo. Esses pagamentos foram realizados no ano de 2015,
nas datas de 17 de junho, 24 de junho e 1º de julho, pelo Setor de Operações
Estruturadas da Odebrecht.
Já neste ano de 2017, um dos operadores financeiros que atuavam junto a
Bendine confirmou que recebeu a quantia de R$ 3 milhões da Odebrecht, mas
tentou atribuir o pagamento a uma suposta consultoria que teria prestado à
empreiteira para facilitar o financiamento junto ao Banco do Brasil. Todavia, a
investigação revelou que a empresa utilizada pelo operador financeiro era de
fachada.
Além disso, não foi apresentado nenhum material relativo à alegada consultoria
e não foi explicado o destino de valores, a forma oculta do recebimento, a
ausência de contrato escrito para serviços de valor milionário e o motivo da
diminuição do valor de tais serviços, que inicialmente seriam, conforme
reconhecido pelo próprio operador, de R$ 17 milhões, para R$ 3 milhões.
Buscando dar aparência lícita para os recursos, o operador financeiro,
após tomar ciência das investigações, efetuou o recolhimento dos tributos
relacionados à suposta consultoria, cerca de dois anos após os pagamentos, com
o objetivo de dissimular a origem criminosa dos valores. Há indícios que a
documentação também foi produzida com intuito de ludibriar e obstruir as
investigações.
A colaboração premiada dos executivos da Odebrecht foi o ponto de
partida das investigações. A partir daí, a investigação se aprofundou e revelou
estreitos vínculos entre os investigados e permitiu colher provas de
corroboração dos ilícitos narrados. Dentre as diligências efetuadas estão
análise de ligações telefônicas, identificação junto a hotéis de reuniões
secretas, descoberta mediante análise de cartões de crédito de encontros em
restaurantes, colheita de comunicações ocultas por aplicativos de celular que
eram destruídas em tempo pré-determinado para apagar os vestígios de crimes,
bem como exame de anotações que apontam para pagamentos de despesas de
hospedagem em favor de familiares de Aldemir Bendine.
Audácia de criminosos
Para o procurador da República Athayde Ribeiro Costa, “é incrível topar
com evidências de que, após a Lava Jato já estar em estágio avançado, os
criminosos tiveram a audácia de prosseguir despojando a Petrobras e a sociedade
brasileira. Os crimes recentes são a prova viva de que a prisão é necessária
para frear o ímpeto criminoso de um esquema que vem desviando bilhões há mais
de década”.
“Há quem fale que as investigações contra a corrupção têm que acabar,
mas casos como esse deixam claro que os criminosos não vão parar. Pregar o fim da
Lava Jato é defender a liberdade para os ladrões do dinheiro público
prosseguirem. Se queremos um Brasil com menos corrupção, é preciso ir até onde
eles foram e estão dispostos a ir”, disse a procuradora da República Jerusa
Burmann Viecili.
“Preocupa a todos nós o arrefecimento do investimento na Lava Jato pela
direção da Polícia Federal”, destacou o procurador da República Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa no MPF/PR. “Das últimas sete operações
da Lava Jato, seis foram pedidas pelo Ministério Público. É preciso preservar o
trabalho da Polícia Federal nas investigações. O Ministro da Justiça e o
Delegado-Geral têm poder e a consequente responsabilidade sobre o tamanho do
efetivo, que foi reduzido para menos de metade”, completou.
Com matéria de O Globo por O Globo, em 27/07/2017,
às 07h22
A pegada na balada
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