Crise na
base às vésperas da 2ª denúncia explica nervosismo de Temer
Por Teresa
Cruvinel (*)
O nervosismo de Temer
transborda no vídeo que ele postou nas redes antes de embarcar para a China:
Tem gente que “quer semear a desordem nas instituições mas tenho a força
necessária para resistir”, disse em referência implícita ao procurador-geral
Rodrigo Janot e à sua próxima denúncia. Temer sabe que a situação mudou, de 2
de agosto para cá, e que não contentará sua base apenas com demissões de
indicados pelos “traidores”. O que o Centrão exige é a demissão dos ministros
do PSDB, especialmente a do coordenador político Antonio Imbassahy e a do
ministro das Cidades Bruno Araújo. Temer está entre a cruz e a
caldeirinha. Demiti-los será empurrar o PSDB para fora do governo,
perdendo seu pilar mais sólido de sustentação. Mas contrariando a turma
do Centrão, corre o risco de ver crescer a rebeldia no baixo clero que foi
decisivo para barrar a primeira denúncia.
A demissão de mais de cem
apadrinhados de “infiéis” que votaram a favor da primeira denúncia em 2 de
agosto foi um aperitivo leve para o Centrão, que continua indócil.
Primeiro, porque as exonerações foram publicadas mas não, ainda, as nomeações
dos indicados pelos “fieis”. Depois, porque os tucanos continuam sendo
poupados. Metade da bancada tucana votou contra Temer naquela ocasião (22
a 21, foi o placar).
Mas, até agora, só foram exonerados os ocupantes de cargos
indicados por partidos como PSB, SD, DEM, PP e outras siglas que entregaram uma
porção bem maior de votos, proporcionalmente ao tamanho das bancadas.
Pelo tamanho da traição do PSDB, diz um deputado da fileira rebelde, o castigo
ao partido não pode ficar só no segundo escalão, devendo atingir também pelo
menos os dois ministros, que são deputados e não conseguiram convencer nem seus
próprios colegas de bancada.
Os outros dois são o chanceler Aloysio Nunes
Ferrreira, que é senador, e Luislinda Valois, de Direitos Humanos, que não é
parlamentar. Além da “traição” de metade da bancada tucana, o PSDB
ainda veiculou, no dia 17 de agosto, o programa partidário em que critica o
“presidencialismo de cooptação” e define Temer como um presidente que “enfrenta
dificuldades para governar e unir o país”. Se continuar premiando um
partido que faz isso, dizem os do Centrão, Temer estará mostrando que a fidelidade
não compensa.
As demissões, por outro lado,
estão levando água para o moinho dos descontentes. Muitos deputados aliados que
votaram contra a denúncia planejavam continuar firmes com a agenda do
Governo mas, diante da retaliação, sentem-se agora liberados para agir como
oposição. Retaliações do governo sempre tocam no espírito de corpo da
Casa, afetando não apenas a vítima.
Temer conhece este quadro, e
por isso largou a declaração nervosa em vídeo antes de embarcar. Ele sabe que,
hoje, não tem “a força necessária” para barrar uma segunda denúncia. Pode vir a
tê-la, pois com o aumento do deficit fiscal, conseguiu ampliar o volume de
emendas parlamentares que podem ser liberadas. Aliás, muita gente do
Centrão reclama também que boa parte das emendas prometidas para barrar a
primeira denúncia não foram empenhadas, e isso é que garante a execução e o
pagamento das obras de que elas tratam. Sem empenho, não há garantia
alguma. Com mais emendas e mais favores, Temer pode, novamente,
obter a maioria para barrar a segunda denúncia mas hoje a situação é bem mais
complicada. E o nó está na birra do Centrão com o PSDB, na exigência de demissão
dos ministros tucanos.
Em 2 de agosto, os votos a
favor do acolhimento da denúncia foram 227, quando seriam necessários
342. Temer conseguiu 263 votos a favor da rejeição, uma vitória magra mas
superior aos 171 necessários. Se nesta barafunda com a base ele perder 93
votos, a denúncia passa. Para um governo que compra votos
descaradamente, parece um risco baixo. Mas para deputados que começam a
ficar aflitos com a perspectiva de não se elegerem por conta do apoio a um
governo tão impopular, ajudar a barrar uma segunda denúncia pode ter um
custo alto. Tudo está na balança.
(*) – Teresa Cruvinel é uma das mais acredita
jornalistas políticas do País. Artigo publicado em 30/08/2017, no site Brasil
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