Funaro fecha
acordo de delação com MPF
Lúcio Funaro, investigado por supostas ligações com o presidente Michel Temer e com o ex-deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) (Foto: Gustavo Miranda/Agência O Globo)
Depois de meses de negociação e após uma reunião que só terminou por
volta da meia-noite, advogados do operador Lúcio Bolonha Funaro e integrantes
do Ministério Público Federal (MPF) acertaram os termos do acordo de delação
premiada. Segundo pessoas com acesso às negociações, o acordo será assinado
ainda nesta terça-feira.
Após a formalização entre as duas partes, o material, incluindo os
anexos em que o futuro delator promete apresentar provas sobre crimes de que
teve conhecimento e/ou participação, será enviado pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o acordo
seja homologado.
Funaro agia como operador do PMDB. Há uma semana, após acompanhar
audiência na Justiça Federal, onde responde a processo junto com o
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que teve o mandato cassado,
Funaro foi abordado por jornalistas.
Indagado se tinha algo a falar sobre o presidente Michel Temer,
limitou-se a dizer que ainda tem o que dizer. No entanto, ainda não há detalhes
sobre o conteúdo da delação do operador e qual a extensão da lista de
envolvidos do mundo político citados por ele.
Preso desde julho do ano
passado na Operação Sépsis, o doleiro Lúcio Funaro, ligado ao ex-deputado
Eduardo Cunha, reforçou parte das acusações do empresário Joesley Batista contra
o presidente Michel Temer. A conversa gravada entre empresário e
presidente é ponto de partida da delação contra Temer.
Transferência à PF
Na última segunda-feira, o doleiro foi transferido do
presídio da Papuda para a carceragem da Polícia Federal (PF). Foi a
segunda vez desde o início do mês passado que Funaro foi levado à carceragem da
polícia, onde pode prestar depoimentos com mais facilidade. Normalmente, quem
negocia acordo de delação é levado para lá.
Na última semana, fontes vinculadas ao caso disseram ao GLOBO que o
acordo estava em fase final de negociação e só não tinha sido assinado até
então porque as partes ainda divergiam sobre o tempo em que Funaro ficaria
preso. Investigadores da Lava-Jato exigiam 12 anos de prisão para o operador. O
doleiro entendia que, pelas informações oferecidas, teria direito a deixar a
cadeia até o fim deste ano.
Os investigadores decidiram estabelecer regras mais duras para o
operador porque ele só se dispôs a colaborar quando boa parte da suposta
estrutura de corrupção a que pertencia já era conhecida da Lava-Jato. Conta
também contra Funaro o fato de que este seria o segundo acordo de delação dele.
O operador fez acordo de colaboração durante as investigações do mensalão, mas
não cumpriu o compromisso de não voltar a cometer crimes.
As revelações de Funaro podem atingir um expressivo número de políticos,
entre eles o presidente Michel Temer. Antes de ser preso, no início de julho do
ano passado, o operador do PMDB era considerado um dos principais cúmplices dos
negócios do ex-deputado Eduardo Cunha e de outros políticos do partido.
Depoimento levou Geddel à prisão
Um único depoimento que o doleiro prestou à PF, por exemplo, já serviu
de base para a prisão do ex-ministro da Secretaria
de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que era um dos
ministros mais influentes na primeira fase do governo Temer.
Geddel foi acusado de tentar impedir acordo de delação premiada do
ex-deputado Eduardo Cunha e do operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro. Ele
foi preso em Salvador e está em em prisão domiciliar.
No pedido de prisão apresentado ao juiz, os investigadores afirmam que
"foram citadas mensagens enviadas recentemente (entre os meses de maio e
junho) por Geddel à esposa de Lúcio Funaro. Para provar, tanto a existência
desses contatos quanto a afirmação de que a iniciativa partiu do político,
Funaro entregou à polícia cópias de diversas telas do aplicativo".
Nas mensagens, Funaro identifica Geddel como "Carainho". Para
o Ministério Público, "os novos elementos deixam claro que Geddel continua
agindo para obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o perfil de alguém
que reitera na prática criminosa". Geddel foi preso em Salvador e deve ser
transferido agora para Brasília.
De Brasília, Jailton de Carvalho, de O Globo, 22/08/2017, às 13h46
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