Fachin e sua batata quente: sigilo dos áudios será o
pior dos mundos
Por Teresa Cruvinel (*)
Deve ser conhecida nesta terça-feira a decisão do ministro-relator
da Lava Jato no STF, Luiz Fachin, de manter sob sigilo ou divulgar os áudios em
que os delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud revelam condutas que
podem levar à anulação do acordo de colaboração premiada. Esta será a
grande decisão do dia. A opção pelo sigilo trará o pior dos mundos. Como quatro
ministros do STF foram citados, todo o Supremo estará sob suspeição. Temer e
seus defensores farão a festa, desqualificando todo o processo da delação e
subindo o fogo contra Janot, acusado pelo Planalto de perseguir seu
ocupante. A primeira providência será pedir a anulação da primeira
denúncia, a de corrupção passiva, que embora rejeitada pela Câmara terá
prosseguimento quando Temer deixar o cargo.
Mesmo que o procurador-geral
Rodrigo Janot apresente, nos dias que lhe restam de mandato, a segunda denúncia
contra Temer – e ele fez questão de dizer ontem que continuará praticando os
“atos de ofício” inerentes a seu cargo – ele sabe que ela já virá ao mundo
com força e impacto reduzidos pela reviravolta no caso JBS.
Outra estratégia do grupo de
Temer será pleitear junto ao STF, onde já tramita um segundo pedido de
suspeição de Janot, agora dirigido ao plenário (o primeiro foi refugado por
Fachin), a interdição de uma segunda denúncia que ele venha a apresentar,
ficando o caso para ser examinada por sua sucessora Raquel Dodge, que toma
posse dia 18. Com os áudios sob sigilo, toda a discurseira dos
governistas ganhará mais ressonância e reverberação.
Se Fachin optar pela revelação
dos diálogos Joesley-Saud, a gravidade real do que disseram poderá ser avaliada
e percebida, evitando-se a manipulação. Janot será aplaudido
pelo rigor com que tratou um deslize dos delatores ultra-premiados e Temer não
poderá trombetear tanto. A sociedade tem o direito de saber o que
eles disseram sobre as relações com o ex-procurador Marcello Miller, ainda antes
do fechamento do acordo, sobre ministros do STF e talvez até sobre o próprio
procurador-geral. Este pode ser um argumento a ser usado de Fachin. Mas
ele pode também, como dizem fontes do meio jurídico, optar pelo sigilo alegando
que se tratou de conversas entre cliente e advogado.
O inacreditável nesta
reviravolta é que ela foi produzida pelos próprios delatores da JBS, por terem
gravado a si mesmos em conversas preliminares sobre a delação, diz-se que forte
contribuição etílica, e por terem depois enviado inadvertidamente a gravação à
PGR como se se tratasse de arquivo sobre relações com o senador Ciro Nogueira,
do PP-PI.
Janot poderia ter feito como em
Curitiba. Poderia ter seguido em frente, ignorando um fato que já vem
sendo investigado, as relações do ex-procurador Miller com a JBS.
Preferiu honrar o cargo e dar inteira transparência ao achado casual que
pode estragar todo o seu esforço para demonstrar os crimes de Temer e de seu
grupo no conluio com o grupo JBS. Honra e vitória nem sempre andam
juntas. Temer, por exemplo, especializou-se em ganhar sem honra. Assim ganhou a
Presidência, enterrou a primeira denúncia e agora pode livrar-se da
segunda.
(*) – Teresa Cruvinel é uma das mais
acreditadas jornalistas políticas do País. Artigo publicado em Brasil 247, em
05/09/2017
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