Depois
de notificado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado deverá, havendo
quórum, votar hoje se afasta do mandato o senador Aécio Neves (foto) para que seja
submetido a recolhimento noturno. Mesmo adversários políticos de Aécio deverão
votar a seu favor.
Na última terça-feira, a Primeira Turma do STF determinou o afastamento de Aécio por 3 votos a 2, em virtude das investigações derivadas da delação dos executivos da JBS. Aécio foi flagrado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista e vangloriando-se de sua influência sobre a escolha do novo presidente da Vale. Um primo seu recebeu o dinheiro num hotel, numa operação controlada da polícia.
Na última terça-feira, a Primeira Turma do STF determinou o afastamento de Aécio por 3 votos a 2, em virtude das investigações derivadas da delação dos executivos da JBS. Aécio foi flagrado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista e vangloriando-se de sua influência sobre a escolha do novo presidente da Vale. Um primo seu recebeu o dinheiro num hotel, numa operação controlada da polícia.
Quando os fatos vieram à tona, o Conselho de
Ética do Senado arquivou o processo contra Aécio, numa violação absurda de
todas as evidências. A partir daquele momento, sua presença no plenário do
Senado é um desafio à lei e ao bom senso. Seu partido, o PSDB, limitou-se a
licenciá-lo da Presidência, quando deveria tê-lo expulsado.
Para mandar recolhê-lo à noite e confiscar seu
passaporte, o STF baseou-se numa interpretação exótica do Código Penal, que
distingue entre “prisão” e “recolhimento noturno”. Os ministros que votaram a
favor argumentam que, por isso, a medida não viola o artigo 53 da Constituição,
que estabelece a necessidade de autorização prévia do Congresso para a prisão
de qualquer de seus integrantes, “salvo em flagrante de crime inafiançável”.
A decisão do STF é criativa, mas não
necessariamente ilegal. Cabe apenas ao Supremo interpretar a lei. A única
instância que poderia rever o determinado pela Primeira Turma é o plenário.
Parlamentares, porém, temem que a mesma manobra seja usada para determinar
afastar outros congressistas sem a anuência da maioria da Casa a que pertencem,
como determina o próprio artigo 53.
Para preservar a autonomia do Legislativo, o
presidente do Senado, Eunício Oliveira, submeterá o afastamento de Aécio ao
plenário da Casa, embora a decisão do STF dispense esse passo. A ordem enviada
pelo oficial de Justiça era para ser cumprida, não votada.
Não é a primeira vez que Congresso e STF medem
forças na Operação Lava Jato. Em 2016, o ex-deputado Eduardo Cunha foi afastado
da Presidência da Câmara por uma decisão unânime do plenário do Supremo. Só
meses depois seu mandato foi cassado na Câmara.
Em liminar no final de 2016, o ministro Marco
Aurélio Mello determinou o afastamento de Renan Calheiros da Presidência do
Senado. A Mesa Diretora decidiu não cumprir a decisão, nem mesmo submetê-la a
plenário, pois o mandato de Renan acabaria em poucos dias.
Os afastamentos de Cunha e Renan não são menos
controversos que a decisão da Primeira Turma contra Aécio. Esta última está
amparada numa distinção clara feita no Código Penal sobre punições. No caso de
Cunha, o STF criou uma punição jurídica que não está prevista em nenhuma lei: a
suspensão do mandato parlamentar.
A liminar que determinou o afastamento de Renan
se baseou na conclusão de que réus não podem estar na linha sucessória da
Presidência da República. Mas a Constituição não estabelece tal restrição
explicitamente. Só determina que, para ser julgado, o presidente precisa ser
afastado do cargo. Não há nexo lógico necessário entre uma e outra coisa. Tanto
que a solução do plenário do STF foi manter Renan no cargo, mas tirá-lo da
linha sucessória.
Em todas as decisões – Cunha, Renan e Aécio
–, os ministros do Supremo adotaram decisões sob medida para atender ao clamor
popular diante das circunstâncias do momento. Todas restringem a autonomia do
Legislativo para determinar o destino dos parlamentares. Todas põem os dois
poderes em conflito.
E todas são compreensíveis. Até agora, o alcance
da Lava Jato sobre parlamentares tem sido restrito. O Congresso faz de tudo
para se autopreservar. Estuda todo tipo de lei para limitar a ação de
policiais, juízes e procuradores. É um acinte que o Conselho de Ética tenha
arquivado a ação contra Aécio. Não é de espantar que a Justiça recorra a
soluções criativas.
Mas esse tipo de saída traz riscos ainda
maiores. A autonomia do Legislativo não pode ser circunstancial, a depender do
alvo de denúncias. A votação em plenário existe para proteger o mandato
parlamentar de arbitrariedades. Se o Supremo decide de acordo com a circunstância,
põe em xeque a própria credibilidade. Aécio se safará no plenário do Senado. A
decisão apenas ampliará a crise entre os poderes, que ambos deveriam tentar
arrefecer.
(*) - Hélio Gurovitz é jornalista. Artigo publicado nesta quinta-feira, 28/09/2017 no G1, às 06h30
(*) - Hélio Gurovitz é jornalista. Artigo publicado nesta quinta-feira, 28/09/2017 no G1, às 06h30
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