quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Opinião - Artigo

E o dia seguinte à condenação de Lula pelo TRF-4?
Bepe Damasco
Por Bepe Damasco (*)
Lula é esperança do povo brasileiro para derrotar o golpe e restituir seus direitos. E a população dá seguidas demonstrações disso ovacionando o ex-presidente por onde ele passa com suas caravanas. Mas, alguém tem dúvida de que a consumação do golpe dentro do golpe é uma questão de meses? Os integrantes da ditadura do Judiciário não se constrangem nem mesmo em antecipar a confirmação da condenação de Lula pela imprensa. É que, com poucas exceções, não temos mais juízes nem procuradores, mas sim militantes da direita antidemocrática travestidos de aplicadores da lei e da justiça.
Mas o que farão Lula e o PT com o expressivo capital político acumulado nas ruas e nas avenidas dos grandes centros urbanos e nos recantos mais remotos do Brasil profundo? Afora os recursos ao STJ e STF, para impedir a inelegibilidade de Lula, como reagir à violência inominável de uma condenação sem provas feita sob encomenda para barrar o caminho de Lula em direção ao Palácio do Planalto?
Não custa lembrar que a palavra de ordem que embalava as mobilizações de resistência à ameaça de golpe era "não vai ter golpe, vai ter luta." Houve o golpe e ficou a sensação de que poderia ter havido mais luta. Não nas modalidades convencionais, mas as de caráter inovador e que fossem capazes de esticar a corda da institucionalidade até o limite. Um exemplo: até horas antes da noite de 17 de abril de 2016, na qual a Câmara dos Deputados aprovou o impeachment sem crime de responsabilidade, gente graduada do governo Dilma e do PT ainda garantia que os golpistas não teriam os votos suficientes.
Ricardo Stuckert

E diante do Congresso Nacional, estima-se que havia 50 mil manifestantes em defesa da democracia, contra pouco mais de 5 mil clamando pela ruptura da ordem constitucional. Embora em esmagadora maioria, depois do anúncio dos 367 votos favoráveis ao golpe contra apenas 137 contrários, a multidão de lutadores sociais e políticos antigolpistas se retirou bovinamente. Não porque essa era sua vontade. No entanto, sem comando e orientação, só restou seguir em cortejo fúnebre de volta aos seus estados. Nenhum plano B foi pensado para o caso de ocorrer o pior.
Não concordo com os que vivem a se queixar da falta de luta contra o golpe, em geral culpando os partidos de esquerda, centrais sindicais e até movimentos sociais. Não é verdade. Existiu e existe luta e resistência democrática todo dia pelo país afora. A tese simplista da ausência de combatividade das lideranças não leva em conta a correlação de forças e a pouca disposição do povão e da classe trabalhadora de adentrar o campo de batalha. Isso não quer dizer que aprovem o governo Temer, muito pelo contrário. Todas as pesquisas apontam o golpista-mor como o presidente mais impopular da história, além de uma fortíssima reprovação às suas reformas.
Levando em conta as lições da vitória dos golpistas no Congresso, e depois o maior desmonte social da história e o roubo das riquezas estratégicas do país, o debate que proponho é outro: estará a esquerda lançando mão das formas de luta que o momento requer ? Penso que não. E, ante à investida canalha e covarde que está por vir contra Lula, é hora de ousadia e espírito revolucionário. Do contrário, só realizando passeatas e comícios, o patrimônio lulista acumulado nas ruas escorregará pelos dedos. É chegada a hora de os petistas e aliados travarem essa discussão. Longe de mim a prepotência de tirar da cartola fórmulas mágicas. Limito-me a lançar algumas perguntas:
1) E se Lula e figuras públicas do PT acampassem dentro do Congresso?
2) E se outras tantas fizessem greve de fome?
3) E se o debate sobre ações de desobediência civil fosse levado às massas lulistas?
4) E se fossem feitas greves com catracas livres no transporte?
(*) – Bepe Damasco é jornalista e editor de blog. Art. Publicado em Brasil 247, 06/12/2017

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