Chantagem
de Marun enterrou a reforma de vez
Por Alex Solnik (*)
A enfática reação dos
governadores à tentativa do ministro Carlos Marun de chantageá-los - só
receberiam empréstimos da Caixa Econômica Federal os que obrigassem os
deputados de seu estado a aprovar a reforma da Previdência – revela o tamanho
do desastre da manobra, que poderá enterrar, definitivamente, o projeto.
E o tamanho
do cérebro do novo braço direito de Temer.
Marun
comprometeu todo o esforço desenvolvido pelo governo até então.
Em vez de
obter os votos que faltavam colocou em risco os que o governo já tinha, pois
recairá sobre os deputados que votarem a favor e sobre seus governadores a
suspeita de que sucumbiram à chantagem.
E com que
cara eles vão pedir votos nas eleições de 2018?
Com cara de
quem se ajoelha diante das ameaças inconstitucionais de um ministro?
Marun prestou
um grande favor aos que são contrários à reforma!
Certamente
inspirado por seu mestre e guru, Eduardo Cunha, que o orienta mesmo de trás das
grades, o truculento comandante da tropa de choque do agora presidiário
inventou de usar o método preferido do seu mentor – a chantagem – mas com as
pessoas erradas: ninguém mexe com governadores de estado impunemente.
Chantagista
de primeira viagem, o sósia de João Bafo-de-Onça dos gibis do Tio Patinhas
desconhece que governadores não podem ser tratados do mesmo modo que ele – e
seu ídolo - tratam seus colegas deputados. Um deputado responde por 100 mil
votos, 200 mil votos. Um governador responde por milhões de votos.
Não pode,
jamais, um ministro colocar um governador contra as cordas, ainda mais de forma
explícita como essa.
O papel dos
governadores sempre foi essencial na história republicana, principalmente
quando atuaram em conjunto.
Os
governadores de Minas e de São Paulo conspiraram e colocaram no poder a
ditadura militar, em 1964; vinte anos depois, governadores de oposição à
ditadura a derrubaram com a campanha das Diretas
Já.
Esta foi a
segunda ideia infeliz de Marun em menos de um mês. A primeira foi pedir a
prisão do ex-Procurador Geral da República, Rodrigo Janot no relatório da CPI
da JBS, da qual teve de recuar em seguida.
Mas dessa
tentativa de chantagem não há como Marun recuar.
Se a votação
de 19 de fevereiro estava a caminho do telhado, agora ela subiu.
(*) - Alex Solnik é jornalista e escritor. Art.publicado em 29/12²017. Art. publicado em Brasil .
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