O Papa apoia Lula em silêncio
Por Alex Solnik (*)
Por tudo o que o Papa
Francisco já disse e fez em seu mandato, por tudo o que pensa do mundo, não há
dúvida de que ele está muito mais próximo de Lula que de Moro e de Temer.
O incidente com o advogado argentino Juan Grabois que para mim continua
nebuloso revela ao mesmo tempo a intenção por parte do papa de estender a mão a
Lula e a dificuldade de fazê-lo devido à oposição conservadora que enfrenta no
Vaticano.
Nem uma nem duas vezes Francisco verbalizou sua situação desconfortável e
até perigosa em frases tais como "rezem por mim". Também são
conhecidas as histórias de capa e espada que pairam nos bastidores do Vaticano.
Até hoje se especula se o "Papa Sorriso" não foi envenenado, para
citar apenas o enredo sheakspeariano mais recente. No Vaticano mora o perigo.
Especialmente para o papa.
Uma coisa é indiscutível: o sr. Grabois não é um picareta que tentou
ganhar seus 15 minutos de fama. Nem ele nem a assessoria de imprensa do
Vaticano foram precisos em esclarecer os fatos, talvez por não estarem
autorizados, mas é possível supor que a visita pode ter sido uma tentativa do
Papa de passar a sua mensagem cifrada de apoio a Lula.
É bem possível que seu coração esteja ao lado de Lula, possivelmente ele
até gostaria de ele mesmo visitá-lo, mas nem sempre um chefe de estado pode e
deve fazer o que seu coração manda.
O papa é a pessoa mais poderosa do mundo. Se numa prédica dominical da
praça de São Pedro ele pedisse liberdade para Lula, Temer não teria como não o
indultar.
Mas nem sempre os poderosos podem utilizar o seu poder.
O papa apoia Lula em silêncio.
(*) – Alex Solnik é jornalista e escritor,
autor de várias obras. Artigo publicado em 247, 13/06/2018
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