MOTIM DA
CACHAÇA
Inocêncio
Nóbrega
A cachaça, com suas variantes de nomes, conforme a
região: pinga, aguardente, existe no Brasil há mais de 400 anos. Sua produção
nacional beira a 1,5 bilhão de litros por ano, com tendência a crescer. Faz
parte da nossa gastronomia, tendo inspirado muita gente escrever sobre ela. Bebida,
que pela sua popularidade de preferência deu nome a diversos motins, além de
provocar infindas encrencas domésticas, em razão de seu alto teor alcoólico.
Seu exagerado consumo provoca um inusitado ninho tributário, favorecendo acréscimos
de arrecadação, engordando os cofres da coroa portuguesa à República.
A iniciativa de aumento de sua taxação provocou a cruenta
resistência no Rio de Janeiro, em 1660, a qual ficou conhecida por Revolta da
Cachaça. O historiador bom-despachense Fernando H. de Resende, no seu excelente
livro, recém-lançado, “Bom Despacho, 300 Anos”, menciona semelhante movimento
na Vila Nova do Infante das Minas de Pitangui, antigo “império”, por causa da extensão
territorial; torrão natal de Gustavo Capanema, que se destacou na Revolução de
1930, porém deixou o triste legado de apoio ao golpe de 1964. O autor revela
que nessa área eram facilmente encontradiças bolotas de ouro, que nem batatas, entre
encostas de um arroio e do hoje morro Batatal, cuja toponímia delas deriva.
Não foram poucos os garimpeiros que para aí afluíram.
Em 1709 erguiam no local casebres com palhas de coco, cuja população não parava
de crescer. O autor identifica, nas suas pesquisas, existência de um episódio,
em razão da elevação dos impostos, pela metrópole, de um quinto do ouro (1715).
A aldeia, descontente com a medida, contou com a coragem de Domingos Rodrigues
do Parado para encabeçar um movimento de rebeldia. A palavra de ordem era: “quem
pagar, morre”! Esse, um dos motins verificados em Pitangui, porém sufocado pelo
conde de Assumar.
Nesse relato o escritor faz um desabafo, com o qual
concordo. De que o Motim da Cachaça não merece preocupação dos historiadores. No
Brasil, houve talvez centenas de levantes desse tipo, os quais não tiveram
devido registro na nossa historiografia nacional, talvez considerando-os de
menor importância. Cito alguns: Motim da Maneta, de Salvador; Guerra dos
Mascates, do Recife e Olinda; “Quebra-Quilos” e “Rasga Vales”, ocorridos em
circunstâncias parecidas, além do Ronco das Abelhas, todos da Paraíba, somente
referidos por estudiosos coloquiais. Há uma completa omissão por parte dos Institutos
Históricos brasileiros, que assim se transformam em entidades corporativas. O
brasileiro não se sente estimulado a conhecer seu passado, justamente por falta
de uma política pública adequada nesse sentido.
(*)
Inocêncio Nóbrega é Jornalista (inocnf@gmail.com) – Publicado em 13/07/2018
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