Dia
Internacional da Mulher tem marchas por todo o país

Mulheres protestam contra feminicídio e violência. Atos defendem fim da
violência e respeito a direitos civis e sexuais
(Foto: Edgard
Garrido/Reuters/Direitos reservados)
Em pelo menos 45 cidades brasileiras, incluindo 17 capitais, protestos
marcam hoje (8) o Dia Internacional da Mulher. Os atos da Marcha Mundial das
Mulheres defendem o fim da violência, o
respeito aos direitos civis e direitos reprodutivos e sexuais.
As imigrantes e refugiadas, as mulheres com deficiência, a questão da
representatividade política, além do respeito aos direitos do público LGBTQIA+
estão entre as bandeiras das manifestações que ocorrerão ao longo do dia. A
vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), cujo assassinato completa um ano sem
solução no dia 14, será homenageada.
A maior parte da agenda que motiva a mobilização no Brasil coincide com
os pleitos que levam às ruas mulheres de outros países nesta data.
Brasil
No caso brasileiro, o movimento também contesta a reforma da
previdência. Ganha destaque ainda a luta pela democracia, pelos direitos dos
povos indígenas e por uma educação não sexista, princípios defendidos, no final
do mês passado, pela então representante da Entidade das Nações Unidas para a
Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), Nadine
Gasman, pilares da igualdade de gênero.
Relatórios recentes, produzidos por diferentes fontes, mostram
que, embora as bandeiras da marcha sejam idênticas de um ano para o outro, é
necessário manter os temas em discussão. De acordo com levantamentos
condensados no site Violência contra as Mulheres em Dados,
pelo Instituto Patricia Galvão, a cada minuto, nove mulheres foram vítimas de agressão,
em 2018.
Violência
De acordo com informações da segunda edição do estudo Visível e
Invisível – A Vitimização de Mulheres no Brasil e do 12º
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2017, a cada nove minutos, uma
mulher sofreu estupro. Além disso, diariamente, 606 casos de lesão corporal
dolosa – quando é cometida intencionalmente – enquadraram-se na Lei Maria da
Penha (Lei nº 11.340/2006).
O elevado número de estupros envolve um outro crime multiplicado na
sociedade brasileira: o assédio sexual. Dados de 2015 da organização não governamental (ONG) Think Olga, as brasileiras
são sexualmente assediadas, pela primeira vez, aos 9,7 anos de idade, em média.
Em 2013, a pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e
Assassinatos de Mulheres, elaborada pelo Data Popular Instituto Patrícia
Galvão, revelou que quase metade dos homens (43%) acreditava que as agressões
físicas contra uma mulher decorrem de provocações dela ao ofensor. A proporção
foi menor entre as mulheres: 27%.
De janeiro de 2014 a outubro de 2015, informou a ONG Think Olga, as
buscas por palavras como "feminismo" e "empoderamento
feminino" cresceram 86,7% e 354,5%, respectivamente.
Mercado de trabalho
A aspiração à justiça econômica também garante a aderência de muitas
mulheres às passeatas. De acordo com documento divulgado ontem (7), pela
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a diferença está presente nos
contracheques. A entidade apontou que as mulheres ganham, em média, salário 20%
menor que o dos homens.
O Banco Mundial estimou que a desigualdade de gênero estendida ao
ambiente profissional custa ao mundo US$ 160 trilhões. A quantia está
relacionada à significativa participação feminina no mercado de trabalho, pois
as mulheres representam, no mínimo, 40% da força laborativa em 80 países, de
acordo com o Pew Research Center.
Dupla jornada
No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), há mais mulheres entre os trabalhadores com ocupações por
tempo parcial (até 30 horas semanais) do que homens. Elas são as principais
responsáveis pelo cuidado de pessoas e afazeres domésticos, perfazendo, por
semana, três horas a mais de trabalho do que os homens. A disparidade salarial
chega a ser de 23,5% no país, outro desafio a ser enfrentado.
Para a terapeuta de ThetaHealing Rosana Almeida, deve-se ter cuidado com
idealizações do que é ser mulher, sobretudo quando restringem as ambições da
população feminina ou enaltecem a imagem da mulher que tudo resolve, porque
reforçam estereótipos de gênero.
"[Isso] é algo imposto a imagem da mulher maravilha, da guerreira:
'Guerreira, você sustenta a casa. Guerreira, você cria seu filho sozinha.' Isso
é uma coisa que fica imposta, uma pressão que tá aqui ativa, de que você vai
ter que lidar sozinha, lutar o tempo inteiro”, disse. "Não que esse
processo de conquista seja uma coisa ruim, mas a luta em si o tempo inteiro,
essa sobrecarga vai nos deslocando do principal, que é ser mulher”, acrescentou.
Para Rosana Almeida, as mulheres, em geral, têm questionado os papéis
que foram historicamente associados a elas. Assim como os homens, que, na sua
opinião, têm se mostrado mais propensos a viver de outras formas. "Isso é
uma mudança. Há muita coisa ainda imposta, registrada como sendo papel a ser
feito. Cada vez mais, as mulheres estão querendo romper com isso ou adoecem, e
é inevitável querer mudar."
Conscientização
Por intermédio de palestras, oficinas e reuniões programadas, as
participantes da mobilização Marcha Mundial das Mulheres promoverão ao longo do
dia e também durante o ano eventos para discussão. Debate incentivado pelo
feminismo asiático põe em pauta a busca pela compreensão sobre mulheres
racializadas.
Como esclarecem Caroline Ricca Lee, Gabriela Akemi Shimabuko e Laís Miwa
Higa, no livro Explosão Feminista, em um capítulo dedicado ao tema,
a vertente asiática do feminismo tem, entre suas pautas, a quebra da tradição
do silêncio, tão disseminada nas culturas asiáticas e que contribui para a
omissão da violência doméstica.
O objetivo é obter mais reconhecimento de identidades constituídas a
partir de processos diaspóricos e dar mais visibilidade a trajetórias que têm
como contexto a guerra ou a colonização.
Compreender a própria linhagem feminina e o que simboliza essa sucessão
pode ser uma experiência rica, na avaliação da terapeuta Kakal Alcântara,
idealizadora do método Ciranda Sistêmica, que incorpora princípios da
constelação familiar. Ao tratar de questões como o patriarcado, por exemplo, a
terapeuta explica que algumas participantes dividem a história de suas
ascendentes, o que é, muitas vezes, libertador.
"É muito interessante perceber como as mulheres têm tido essa, eu
até uso essa palavra ‘ousadia’ de olhar lá para atrás e salvar as mães, os
relacionamentos das mães, as vidas financeiras das mães, entendendo, de um
lugar muito profundo, o tamanho e o lugar de filha”, ressaltou Kakal Alcântara.
“Quando elas se percebem nesse lugar, que podem receber e não se sentir
endividadas, é como se elas fossem liberadas de poder viver todo o prazer do
feminino."
A terapeuta ressaltou que os processos de conhecimento são distintos.
"As alianças passam a acontecer não só pela dor, mas, desta vez, pelo
pleno exercício de poder escolher fazer diferente e ainda ser abençoada pela
ancestralidade, pra poder atuar de um modo diferente."
De Brasília, Letycia Bond - Repórter da Agência
Brasil, em 08/03/2019, às 09h25
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