Bolsonaro
iniciou reorganização inevitável
Por Ricardo
Cappelli (*)
Temos hoje no país 23 partidos
aptos a receber fundo eleitoral, partidário e a usufruir do tempo gratuito de
rádio e televisão. Antes da cláusula de barreira, tínhamos 35 legendas. Pelo
menos mais 7 ou 8 deixarão de existir em 2020.
Será a primeira eleição com
proibição de coligações proporcionais. Alguém acredita que teremos 23 chapas
distintas na maioria dos municípios? Governadores e prefeitos são os pólos de
poder que organizam o jogo. Quem não tem nenhum dos dois, ficará em maus
lençóis.
Até a data limite para filiação
partidária veremos uma verdadeira “diáspora” de candidatos. Ampla, geral e
irrestrita.
É fato que a cláusula de barreira
só vale para 2022. Mas estudos eleitorais indicam que as eleições de prefeitos
e vereadores têm relação direta com a eleição de deputados. Em 2021 estará
claro quem tem “café no bule” e quem está no “corredor da morte”.
A eleição de Bolsonaro alterou o
eixo da política brasileira. Pela primeira vez, desde a redemocratização, temos
um governo que se orgulha de ser de direita.
O PSL foi o táxi que o Capitão
“alugou” para chegar ao Planalto. Bivar sem Bolsonaro é como um show da banda
Vitória Régia sem Tim Maia. Os músicos podem até ser bons, mas a plateia vai
ficar vazia.
O lançamento de um partido para
expressar uma “nova e orgulhosa direita, liberal e conservadora”, faz todo
sentido para o projeto de poder do presidente.
Pouco importa se vai dar tempo de
registrar a sigla para 2020. O Capitão apoiará os candidatos que achar
conveniente. Como não existe fidelidade para prefeito, Bolsonaro poderá
“pescar” sem dificuldade após o pleito.
É improvável que tudo continue
como está. O quadro partidário que emergiu com a Nova República parece estar
com os dias contados.
Hoje, só o Aliança pelo Brasil, o
PT e o PDT de Ciro possuem situação confortável. O PSDB terá que definir seu
rumo. Tucanos históricos apostam suas fichas na candidatura social-liberal de
Huck. Doria tenta um bolsonarismo sem Bolsonaro. O mesmo dilema vivido pelo
DEM.
No Centrão, PP, PL e Republicanos
parecem ser os mais resistentes. O MDB teve em 2018 o pior desempenho de sua
história. Até aqui, o chamado centro político sobreviveu se escorando nas
alianças e coligações regionais. Vão conseguir montar chapas nos estados sem
projeto nacional? Conseguirão resistir à força gravitacional dos pólos?
Na esquerda, o PSB tem
governadores, bancada média, mas não tem projeto nacional. Seus deputados têm
se dividido nas votações no Congresso. Os socialistas não são ameaçados pela cláusula
de desempenho, mas podem tomar um susto.
O PCdoB, mesmo coligado com o PT,
não ultrapassou a cláusula em 2018. Foi salvo pela fusão com o PPL. Não é
possível prever qual será o impacto eleitoral da “volta do PSOL para dentro do
PT”. O “PaiSol” é forte e costuma atrair para si tudo que se aproxima.
Após o pleito municipal surgirão
apelos para a volta das coligações proporcionais. Tudo sempre pode acontecer.
Mas os “jacarés” sobreviventes estarão deitados no leito do rio de boca aberta
à espera dos peixes desesperados.
Uma ampla reorganização
partidária, com fusões e “aquisições”, é o mais provável, superando barreiras
políticas e ideológicas. As burocracias, “donas destas máquinas”, vão gritar,
mas quando o instinto de sobrevivência de quem tem voto fala mais alto, ninguém
segura.
(*) - Ricardo Cappelli é
jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em
Brasília. Publicado por Esmael Morais – Blog do Esmael, em
03.12.2019
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