Tipo 5ª
série: Bolsonaro recorre a ofensas para chamar Kim, Joice e Doria para a briga
Bolsonaro espinafra três ex-aliados (Foto:AP Photo/Eraldo Peres)
João Doria e Jair Bolsonaro, dois prováveis protagonistas da eleição de
2020, voltaram a se estranhar publicamente após o fim da efêmera aproximação
que durou uma campanha e alguns milhares de votos.
Desta vez, a rusga ocorreu após o governador paulista dizer que os
portos de Santos e São Sebastião serão privatizados neste ano, informação
negada pelo Ministério da Infraestrutrura.
“O senhor está completamente desinformado. O ministro desmentiu essa
informação e, afinal de contas, com todo respeito, quem pode falar pelos
ministros sou eu”, disse o presidente em suas redes.
Bolsonaro viu na declaração do tucano uma tentativa de pressionar o
governo federal e ironizou: “Quando o senhor for presidente da República, daí é
fácil. Só se empenhar, estar ao lado da verdade, trabalhar pelo seu estado e
ajudar a sua polícia que o senhor chegará um dia (à Presidência)”, completou.
Fora de campanha, não há notícias de que um presidente tenha usado um
tom como este para falar com um governador.
Arquiteta do projeto Bolsodoria, a deputada Joice Hasselmann também foi
alvo do presidente em sua live semanal, assim como o ex-aliado Kim Kataguiri.
Ele se queixou as críticas recebidas por “uma deputada fofucha de São Paulo e
outro deputado também meio japonesinho” por não ter vetado os R$ 2 bilhões
aprovados pelo Congresso para o fundo eleitoral. Bolsonaro justificou a sanção
dizendo que poderia sofrer um processo de impeachment. “Se estivessem fazendo
coisas boas a primeira estaria mais magra e o segundo estaria menos pitoco de
sem vergonha... Eu acho que mentir engorda, mentir engorda”, atacou o
presidente.
Ambos responderam. “É lamentável que um presidente da República tenha
esse comportamento e vocabulários dignos de um botequeiro de quinta categoria.
Sinceramente, tenho vergonha de ver quem deveria chefiar nossa nação tecendo
comentários chulos praticamente todos os dias, provocando crises internas e
externas porque não consegue ter a maturidade de um homem, quiçá de um
estadista”, disse Joice, em nota enviada ao site Congresso em Foco.
“Infelizmente, o presidente tem dado mostras consecutivas de seu despreparo, de
seu destempero, de sua desinteligência em todas as áreas. A
verborragia/diarreia verbal que apresenta é só mais um sintoma de sua
inconsequência”, completou.
Também em resposta ao site, Kataguiri disse que o presidente justifica a
própria covardia usando apelidos infantis. “Tese do impeachment é conversa de
quem fez acordo pelo fundão. Se veto desse impeachment, Bolsonaro teria caído
em março”, provocou.
Os ataques a Doria têm uma motivação clara: Bolsonaro não quer
concorrência em 2022 e faz questão de manter a rivalidade em fogo alto até lá,
nem que para isso precise carbonizar as estruturas do pacto federativo.
Já os direcionados a Joice e Kim mostra o talento do presidente de
transformar aliados reais ou potenciais em inimigos declarados. Joice chegou a
atuar como líder do governo no Congresso, mas foi mandada para o paredão
bolsonarista no auge da crise com o PSL.
Nada que pareça mobilizar os antigos líderes das manifestações pelo
impeachment a organizar protestos de fato, além das notas protocolares, contra
o boteco de quinta categoria que ajudaram a chegar aonde chegou.
Yahoo Notícias,
publicado em 10/01/2020, às 10h26
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