Ministro do STF defende debate público sobre
descriminalização da maconha
O
ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, disse nesta
quinta-feira (19) que um debate sobre a descriminalização da maconha se faz
necessário para reduzir o poder do tráfico e evitar que jovens com bons
antecedentes sejam presos e saiam dos presídios "pós-graduados em
criminalidade".
Barroso
chamou atenção para o assunto durante o julgamento de dois habeas corpus em que
os réus pediam a redução de suas penas por tráfico de drogas.
De
acordo com o ministro, "boa parte das pessoas" que cumpre pena por
tráfico foi apanhada com pequenas quantidades de maconha.
Por isso, o debate
sobre a descriminalização se dá não por uma opção filosófica, mas por uma
necessidade prática.
"Minha
constatação pior é que jovens, negros e pobres entram nos presídios por
possuírem quantidades não tão significativas de maconha e saem de presídios
escolados no crime (...) por esta razão que, em relação à maconha, nesse tópico
penso que o debate público sobre descriminalização é menos discutir opção
filosófica e mais se fazer escolha pragmática", disse.
O
ministro chamou a atenção para dois problemas que, segundo ele, vão além do
usuário. O primeiro ponto trata do poder que o tráfico dá aos "barões nas
comunidades mais pobres do país", que acaba por seduzir parte da população
mais jovem.
"A
criminalização fomenta o submundo, dá poder politico e econômico aos barões do
tráfico, que oprimem as comunidades porque oferecem remunerações maiores que o
Estado e o setor privado em geral", disse.
O
segundo ponto diz respeito ao envio de jovens com bons antecedentes para
presídios, onde o contato com outros criminosos faz com que eles optem pelo
crime mesmo após a saída das cadeias.
"Meu
segundo questionamento diz respeito à conveniência de uma política pública que
manda para a penitenciária jovens primários e de bons antecedentes que saem
pós-graduados em criminalidade. Porque tenho essa compreensão de que boa parte
dos presos do país incriminados com quantidades de maconha são pessoas não
perigosas", comentou.
Apesar
do julgamento em que Barroso fez as ponderações dizer respeito a traficantes
pegos com crack, o ministro não fez comentários sobre a descriminalização de
outras drogas. Para ele, a maconha não torna as pessoas
"antissociais".
"Eu
não vou entrar na discussão sobre aos malefícios maiores ou menores que a
maconha efetivamente causa. Mas é fora de duvida que essa é uma droga que não
torna as pessoas antissociais", pontuou.
De Brasília – Severino Motta - Publicado na Folha, em 19/12/2013. Ilustrações do blog
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