O ano que nos aguarda
Por Kenneth Maxwell (*)
A
Copa do Mundo começa em 12 de junho. Está a apenas seis meses de distância. As
obras em alguns dos estádios da Copa estão muito atrasadas. E os custos de
acomodação e viagem para os torcedores que virão à Copa já são previstos como
astronômicos. A Copa do Mundo é um dos poucos eventos internacionais que atrai
cidadãos médios em todo o planeta. E em junho o mundo todo estará observando o
Brasil.
Como
na Copa das Confederações, no ano passado, as partidas da Copa do Mundo serão
realizadas em cidades de todo o Brasil. Elas serão alvo irresistível para
manifestações. Porque nenhuma das queixas que levaram as pessoas às ruas no ano
passado deve ser resolvida antes de junho deste ano, há de novo o risco de que
o descontentamento seja explorado pelos ativistas.
A
eleição presidencial acontece em outubro. Se nenhum candidato receber mais de
50% dos votos em 5 de outubro, o segundo turno acontecerá em 26 de outubro.
A
presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), é a atual
favorita. Mas ainda é cedo demais para descartar Aécio Neves, candidato do
PSDB. E o desafio representado por Eduardo Campos, do PSB, e Marina Silva,
tampouco deve ser subestimado. Tanto Campos quanto Silva foram ministros do
governo de Lula, e formaram uma inesperada aliança eleitoral depois que o TSE
se recusou a reconhecer o movimento político de Marina.
Dilma
tem o apoio do ex-presidente Lula, que, como o PT, continua a ser uma força
política formidável. Aécio teve sucesso como governador de Minas Gerais. É neto
por parte de mãe e herdeiro político do formidável político mineiro Tancredo
Neves, que morreu antes de poder assumir como primeiro presidente civil, ao
final do regime militar, em 1985. Mas Eduardo Campos acredita que o público
esteja cansado da polarização entre PT e PSDB. Campos é um governador de grande
popularidade em Pernambuco. Seu avô, Miguel Arraes, foi governador de
Pernambuco por três vezes e viveu no exílio durante o regime militar.
Marina
Silva é filha de um seringueiro do Acre, no oeste da Amazônia. De origem
humilde, como Lula, ela foi uma das expoentes do PT, com Chico Mendes, o
ativista ecológico assassinado. Marina é popular entre os manifestantes de rua
que abalaram o Brasil em junho passado, e é uma ambientalista
internacionalmente respeitada. Também é evangélica, o que não é desvantagem
para muitos eleitores evangélicos.
Uma
coisa é certa: com os desafios da Copa do Mundo, seguidos por uma disputa
presidencial dura, 2014 será um ano muito interessante no Brasil.
(*)
-Kenneth Maxwell é historiador britânico graduado em Cambridge (Reino
Unido) com doutorado em Princeton (EUA). Referência na historiografia sobre o
período colonial brasileiro, foi diretor dos estudos latino-americanos no
Conselho de Relações Exteriores (NYC) e diretor de Estudos Brasileiros na
Universidade Harvard (EUA). Escreve às quintas na versão impressa da Folha à página
A2. Publicado
em 02/01/2014 - 03h00

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