Douglas Martins: "É repugnante"
O juiz Douglas Martins. Ele foi ao Maranhão a mando de Joaquim Barbosa (Foto: Beto Barata)
Juiz do Conselho Nacional de Justiça analisa
a situação no Maranhão – e diz que os governantes permitem a barbárie nos
presídios porque respeitar os direitos dos presos não dá voto.
Nascido há
45 anos em Presidente Dutra, cidade da região central do Maranhão, Douglas
Martins, pai de sete filhos, ingressou na magistratura em 1997. Passou 13 anos
em comarcas do interior do Maranhão antes de ser apresentado, em 2009, à
selvageria das prisões em São Luís, quando se tornou titular da Vara de
Execução Penal da capital. Nesse cargo, teve acesso privilegiado a um dos mais
desumanos sistemas prisionais do Brasil. Em março do ano passado, o presidente
do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Joaquim Barbosa,
o convidou para assumir a chefia das fiscalizações do CNJ nas prisões do país.
Martins aceitou o desafio. No final de dezembro, produziu um relatório
minucioso sobre a situação calamitosa em que vivem os presos do Complexo
Presidiário de Pedrinhas, o maior do Maranhão. O presídio se tornou conhecido
dos brasileiros nos últimos dias, em virtude da divulgação de imagens em que
corpos de presos aparecem decapitados – vítimas, segundo as autoridades
policiais, de brigas entre facções. Desde o começo de 2013, 62 presos foram
assassinados nas dependências de Pedrinhas. O governo do Maranhão diz que
partiram de Pedrinhas as ordens para atear fogo em cinco ônibus e numa
delegacia de São Luís. Uma menina de 6 anos, que estava num dos ônibus, morreu
queimada. As razões para os ataques ainda não estão claras. A crise é de tal
ordem que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estuda seriamente
pedir ao STF intervenção federal no Estado. O ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, foi a São Luís na semana passada oferecer ajuda para pôr fim à
violência. Em meio à crise, a governadora
Roseana Sarney, do PMDB, atacou nominalmente
Martins, dizendo que o relatório do juiz tem como “único objetivo agravar ainda
mais a situação nas unidades prisionais do Estado”. Apesar das críticas a seu
trabalho, Martins disse a ÉPOCA que o relatório serviu para acordar o governo
maranhense para um assunto de extrema gravidade. “A governadora saiu do
silêncio”, afirmou.
[...]
Murilo Ramos - ÉPOCA - 10/01/2014 20h15
Nenhum comentário:
Postar um comentário