segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

MISTICISMO E FÉ

À espreita do inverno ou a perspectiva de nova seca
"O sertanejo é acima de tudo um forte!". Essa exclamação de Euclides da Cunha, ainda no século XIX, em trecho de “Os sertões”, defendia a tese de que o sertanejo era um herói das procelas do mau tempo, e cuja energia contrastava com a debilidade dos “mestiços” do litoral do Brasil. De fato, a fortaleza do homem do Sertão Nordestino não tem similar. A sua coragem de lutar heroicamente com toda a sorte de intempéries, pela subsistência, sob os mais severos aspectos, levaram Euclides, já àquela época, a se extasiar e produzir a mais cruenta saga da injustiça política brasileira, "Os Sertões", onde o massacre de "Canudos" teve foco especial.
Sob a guerra, a seca, a fome, a doença e a perseguição oficial, mesmo das cinzas do genocídio, o sertanejo ainda conseguiu ressuscitar a fé, a esperança e o sentimento de libertação.
Ainda hoje, o sertanejo tem conseguido se manter "antes de tudo, um forte". Anos a fio sob as dificuldades impostas pela desigualdade social e apesar do longo período de seca que se lhe tira os bens materiais, lhe sufoca de sede e lhe priva da aquisição da segurança alimentar básica, ele sobrevive, só Deus sabe como.
"Os mestiços do litoral" e do sul/sudeste, como falava Euclides, ainda hoje, na questão da resistência às intempéries, passam ao longe da fortaleza do nordestino. Aqueles, apesar de habitarem regiões sob todos os aspectos mais privilegiadas, quando experimentam quinze dias ou menos sem chuvas regulares, já alardeiam, aos quatro ventos, seus lamentos e inquietações.
O Sertanejo Nordestino, não. Mesmo sob o sofrimento de longos períodos de seca está sempre com os olhos voltados para o céu, ora em preces a Deus, ora perscrutando o tempo, procurando nuvens, esperando chuva. Nem mesmo as previsões indecisas e às vezes imprecisas dos órgãos oficiais da meteorologia regionais e nacionais lhes tiram as esperanças. 
O misticismo, a fé e a esperança em Deus são sentimentos que no sertanejo não morrem nunca. E a crença de que a chuva vem com o Dia de São José (19 de março) permanece mais viva do que nunca. E só se esvai passado esse marco sem ocorrência das esperadas e prodigiosas chuvas.
Por Herculano Costa    

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