Na lama, de sapato
branco
Por Laurez Cerqueira (*)
Surpreendidos com a decisão do
Supremo Tribunal Federal, que derrubou a fraude regimental na Câmara, os
golpistas liderados por Aécio Neves, que carregavam Eduardo Cunha no colo desde
a eleição dele à presidência da Câmara e tramavam o impeachment da Presidenta
Dilma, agora querem jogar o sujeito no colo do governo.
O STF mandou avisar que no Brasil
não haverá "golpe paraguaio".
Comprovadamente um político
corrupto, Eduardo Cunha queria que Dilma trocasse o ministro da Justiça, Jose
Eduardo Cardozo, por Michel Temer.
Imagino que ele queria trocar
também o delegado da Polícia Federal e agentes que atuam nas operações de
combate à corrupção, como faziam no passado. Talvez quisesse se livrar do
julgamento do Supremo Tribunal Federal e da cadeia. Como não conseguiu, rompeu com o
governo. Disse que faria uma tempestade sobre o governo Dilma. Aliou-se aos golpistas liderados
por Aécio Neves, que se recusam a aceitar o resultado das eleições proclamado
pelo TSE. Tornou-se um conspirador.
Na iminência de ser preso (também
sua mulher e a filha), Eduardo Cunha tentou uma manobra regimental na Câmara,
em parceria com os golpistas, que insistem com a tentativa de impeachment com
base num parecer do TCU sobre as contas do governo, produzido pelo ministro
Augusto Nardes, contestado pela Advocacia Geral da União, por técnicos,
juristas e acadêmicos. Uma peça política.
O ministro Nardes está às voltas
com a Operação Zelotes da Polícia Federal. Sobre ele pesam denúncias
gravíssimas de ter sido beneficiário de R$ 1,6 milhão de fontes ilícitas. O tal parecer foi aprovado por
unanimidade pelos nove ministros do tribunal. Por incrível que pareça, dos nove
ministros do tribunal, quase metade (4) deve explicações à Justiça sobre
possíveis desvios e corrupção. Alguns investigados na Operação Lava Jato e na
Operação Zelotes, da Polícia Federal.
A apresentação do tal parecer no
TCU foi feita com a prestigiosa presença da turma de golpistas e seu líder
maior, Aécio Neves. Foi uma festa com direito a todas
as câmeras e microfones da mídia que serve à oposição e dá à opinião publica as
versões deles. O senador Agripino Maia,
investigado no STF em razão de denúncia de ter recebido milhões de fontes
ilícitas, estava lá, junto aos seus. Eles não demonstram ter senso de
ridículo, vergonha ou culpa. Essa gente quer governar o
Brasil. O parecer tem a cara de uma
retaliação arquitetada para afastar Dilma e estancar de vez as investigações em
curso, tirar o apoio dado pelo governo aos órgãos de fiscalização e controle. Mas Dilma disse que não sobrará
pedra sob pedra e está bancando o que disse. > Continue lendo, após o merchandising, abaixo: >
O parecer do TCU é uma farsa
vendida à opinião pública como verdade, afirma juristas e autoridades no
assunto. Antes de formar processo, precisa
ser aprovado na Comissão de Orçamento da Câmara para se constituir como peça
fundamental do pedido de impeachment. Sem ela o processo fica vazio.
A Presidenta da Comissão de
Orçamento, senadora Rose de Freitas, é quem decide quando põe o parecer do TCU
para votar. Se votar na Comissão, e for
aprovado, em seguida é enviado ao presidente do Congresso, senador Renan
Calheiros. Ele é quem decide se leva ao plenário do Congresso ou não.Estão jogando com a desinformação
do povo.
Os golpistas querem atropelar
todos os ritos do regimento, as leis, a Constituição, para fazer valer a sanha
deles pela volta ao poder. E a velha mídia não informa corretamente, confunde,
inventa. Não há nenhum indício de crime de
responsabilidade da Presidenta Dilma. Ela é uma mulher honrada,
correta, honestíssima.
No Tribunal Superior Eleitoral, o
controvertido ministro Gilmar Mendes tenta por outro meio cassar o mandato da
Presidenta Dilma, criando artifícios jurídicos a fim de imputar a ela crime
eleitoral.
O mesmo Gilmar Mendes que
engavetou, desde 2006, um processo de investigação do deputado Eduardo Cunha,
recém descoberto, se reuniu recentemente com ele na residência oficial da
Câmara, no auge da trama do impeachment. A nova manobra no TSE de tentar
cassar os mandatos de Dilma e Temer, caso seja aprovada, cabe recurso ao STF. O fato é que o poder político dos
de sempre se alimenta do Estado. Mas os golpistas estão finalmente percebendo
que o país mudou.
O que será deles nas próximas
eleições sem o Estado e sem o dinheiro das empresas privadas no financiamento
de campanhas eleitorais, sabendo que a polícia estará em cima deles? Eles estão desesperados, no
ônibus sem banheiro, e a motorista não está nem aí para eles. Toca em frente.
(*) - Laurez Cerqueira é escritor.
Autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes – Vida e obra; Florestan
Fernandes – Um mestre radical; e O Outro Lado do Real.
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