Com quase metade da Câmara indecisa, Temer faz ofensiva na véspera da votação
O Palácio do Planalto quer encerrar já amanhã a votação da denúncia
contra o presidente Michel Temer feita pela Procuradoria-Geral da República
(PGR). Após passar as últimas semanas dizendo que a responsabilidade pelo quórum
seria da oposição, o governo passou a mobilizar os partidos aliados para que
coloquem 342 parlamentares em plenário, número necessário para que a a denúncia
seja votada. Tanto os aliados do Planalto quanto a oposição sabem não ter hoje
ao seu lado esse número de deputados. Por isso, o governo quer apenas que os
partidos da base peçam a presença de seus correligionários, mesmo os que votam
contra Temer.
— É um absurdo você ter posição no governo e fazer
o jogo da oposição. A oposição faz o jogo dela e a gente tem que respeitar.
Pode protelar, pode deixar o governo sangrando etc. Agora, você apoiar o
governo, ter cargo no governo, ter ministério e fazer o jogo da oposição, me
desculpe, não aceito — disparou o vice-líder do governo na Câmara, deputado
Beto Mansur (PRB-SP), acrescentando. — Se os partidos políticos que apoiam o
governo têm um contingente em torno de 380 deputados, que todos venhamos ao
plenário para que a gente se posicione, independentemente de quem é contra o
governo.
A base já planeja apresentar um requerimento para
encerrar a discussão tão logo consiga 257 deputados em plenário — mais do que a
metade. Para aprovar o requerimento, basta que a maioria dos presentes o
aprove. Nesta terça-feira, véspera da provável votação, Temer vai buscar agenda
positiva com dois ministros deputados: Ricardo Barros (Saúde) e Mendonça Filho
(Educação). O evento, de anúncio de vagas para cursos de medicina, é mais um da
maratona de cerimônias nas últimas semanas.
Faltando pouco mais de 24 horas para o começo da
sessão, cerca de 40% dos deputados continuam declarando estar indecisos ou não
querem divulgar como pretendem votar na enquete feita pelo GLOBO. Ontem à
noite, esse grupo somava 203 parlamentares, mais do que os 197 declaradamente
favoráveis ao prosseguimento da denúncia e que os 112 contrários.
Almoço com ruralistas
Para conquistar mais apoios, Temer vai almoçar com
a bancada ruralista. O encontro foi negociado pelo presidente da Frente da
Agricultura, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), e pelo deputado Nelson
Marquezelli (PTB-SP). Nos bastidores, Marquezelli tornou-se recentemente um dos
principais conselheiros de Temer.
— Não podemos aprovar essa denúncia faltando dez
meses para a eleição. Acredito que vamos conseguir liquidar o assunto na
quarta-feira — disse Marquezelli.
Mesmo que a oposição ainda se mostre dividida em
relação à estratégia que adotará na quarta-feira — se vai ou não ao plenário—,
no Planalto a avaliação predominante é que a votação acontecerá na quarta. Um
assessor aponta que o argumento de que o adiamento faria o governo “continuar
sangrando” é “fraco”.
— Primeiro, seria péssimo para os deputados essa
omissão. Onde já se viu a Câmara silenciar sobre um assunto tão importante? A
repercussão seria muito ruim — diz esse auxiliar de Temer.
Esse assessor admite que o governo deve continuar
“sangrando”, mesmo se a denúncia for enterrada. Ele admite que a Câmara deve
livrar Temer da denúncia por corrupção passiva, mas o resultado deve dar sinais
para o mercado de que o governo não tem força para aprovar reformas
constitucionais, como a da Previdência, parada na Casa há cerca de três meses.
— Com a TV aberta transmitindo a sessão, um ano
antes da eleição, quem disse que o governo terá uma vitória maiúscula? O
sangramento deve seguir.
O pedido do Planalto pela presença dos dissidentes
tem eco nos partidos que estão divididos. Um dos líderes dos chamados “cabeças
pretas” do PSDB, que são favoráveis à denúncia, Daniel Coelho (PSDB-PE) disse
que os deputados tucanos da oposição vão tentar unificar uma posição com
colegas do PSB, PPS e PSD sobre a estratégia de votação. Coelho diz que, ao
contrário dos partidos de oposição liderados pelo PT, o mais provável é que os
dissidentes tucanos compareçam para dar quórum: — Há uma dificuldade em nos posicionar de forma a
não servir às manobras do PT e base. O mais provável é que a gente vá lá votar.
De Brasília, Cristiane Jungblut, Eduardo Barretto e
Maria Lima, O Globo, em 01/08/2017, às 08h00
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